domingo, 18 de maio de 2008

Ainda Cesário

A "versificação prodigiosamente firme, servida por uma adjectivação audaciosamente impressionante", segundo Jorge de Sena, fazem de Cesário um caso impar na literatura portuguesa. Não são os temas que fazem de Cesário um génio mas a sua imaginação, liberta como estava de todas as convenções, continua.

O poema Nós, é o retrato de uma vida pintado de uma forma alheia ao comum dos poetas. O dia a dia de toda a sua vida é descrito sem leviandade, sem paixão mas com a lucidez e visão de quem a soube interiorizar.

Segundo Maria Filomena Mónica, no livro ontem referido, em o "Sentimento dos Ocidentais", Cesário escreve aquilo que a autora classifica de "o mais perfeito poema do século XIX".

Aqui deixo dois versos do seu passeio por Lisboa:


Nas nossas ruas, ao anoitecer

Há tal soturnidade, há tal melancolia

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam um desejo absurdo de sofrer


E ainda


Vêm sacudindo as ancas opulentas!

Seus troncos varonis recordam-me pilastras

E algumas, à cabeça, embalam nas canastras

Os filhos que depois naufragam nas tormentas


Um resto de bom Domingo


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