quarta-feira, 9 de março de 2011

Mai Pen Rai

Ontem referi que a política de concessões e de cedência às manifestações por parte do governo podia criar precedentes complicados de gerir no futuro da mesma forma que será difícil de gerir o constante aumento do deficit orçamental.

A situação neste momento no que respeita manifestações começa a ser um pouco caricata com o aparecimento diário de grupos a protestarem por isto e aquilo.

O uso de direitos democráticos é um direito mas também um dever a quando começa a haver grupos sem ou com limitada representatividade a interferir com o normal funcionamento da sociedade temos que a democracia anarquiza-se para prejuízo de todos.

Os amarelos do PAD, estão aquartelados desde o dia 25 de Janeiro na zona nobre do sector mais antigo da cidade (Rajadamnoen) e embora sejam menos do que 500 ocupam uma parte significativa do local. Já foram intimidados por ordem judicial a "levantar o acampamento", que não obedeceram, já viram por duas vezes a polícia reduzir o espaço onde têm montadas tendas sendo que após a segunda vez o Major General Chamlong de imediato anunciou que iriam recuperar o "terreno perdido" e assim fizeram.

Um pouco mais acima, na parte Leste da Praça Real onde se encontra a estátua a cavalo do Rei Rama V e está o palácio de Ananta Samakhon, um grupo, também de não mais do que umas escassas centenas, da Assembleia dos Pobres está acampado impedindo o acesso ao Parlamento e ao Zoológico. Ali estão calmos e sossegados mas não se percebe bem o motivo a não ser que requerem que o governo os ajude a enfrentar os problemas financeiros em que se envolveram.

Em redor da Government House acampam sub grupos dos amarelos – a seita religiosa Sancti Asoke (tipo budistas radicais) e a Rede dos Patriotas Tailandeses que pedem a dissolução do governo. Também não são mais do que uma ou duas centenas.

Outro grupo que se manifesta no local é o PMOVE, o People Movement for Just Society, que reclama justiça igual para todos. Parece ser eventualmente uma dissidência dos vermelhos da UDD mas não se consegue bem entender já que pouco mais apresentam do que simples cartazes solicitando justiça.

Agora um grupo de residentes e empresários da zona onde vive o PM Abhisit e que se sente extremamente incomodado com o bloqueamento da zona onde vive (extremamente alargada como referi), manifesta-se solicitando a Abhisit que se mude para a residência oficial e deixe funcionar o comércio e que as pessoas possam chegar a suas casa sem problemas. Posso confirmar que a zona se transformou num "inferno" com a presença maciça de militares, arame farpado e armamento, como se de uma guerra se tratasse e é extremamente incomodativa para quem tenha ou queira deslocar-se na ou para a zona. Há pelo menos dois restaurantes na área que eu gosto de frequentar e nem sei se lá posso ir ou mesmo que consiga convencer os militares que montam as barreiras até lá chegar não me apetece dar-me a esse trabalho nem às demoras que isso acarreta.
Mas o problema não é só Bangkok. Há neste momento manifestações, por isto, por aquilo e por coisas que ainda nem sequer estão no pensamento de ninguém em Phitsanulook, Nakhorn Sawan, Angthong, Ayuthaya e eventualmente outros sítios que não conheço. Interessante que nenhuma destas províncias se situa em zonas tidas por serem vermelhas o que quer dizer ou que estes estão mais espalhados do que se sabe ou que muitos outros estão descontente ou a aproveitar-se das políticas "mai pen rai" do governo.

Mai Pen Rai é uma expressão estremamente típica na Tailândia, que inclusive mereceu ser título de um livro com algum interesse para quem queira entender a cultura base urbana do país, e que significa basicamente "não tem importância" de alguma forma associada com "não faz mal", não há problema" ou outras expressões semelhantes.

Quando se abre a porta nunca se sabe quem vem atrás e entra por ela e é isso que está a acontecer com a permissividade mostrada em Government House do que o descrito acima é um simples sinal.
Entretanto no Sul ontem morreram mais duas pessoas, um chefe de uma aldeia e uma criança de 14 meses, vítimas inocentes de uma situação que parece ser menos importante do que a casa do PM em Bangkok.


Sem comentários: