terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Conflito na Fronteira

A situação no terreno acalmou e ambas as partes estão envolvidas neste momento numa outra frente, a diplomática.

Depois da queixa apresentada pelo Camboja junto do Conselho de Segurança o governo da Tailândia respondeu na mesma moeda enviando uma carta para a presidente do CS expondo os argumentos do lado tailandês, que obviamente são contrários aos do Camboja. A Brasileira Maria Luísa Ribeiro Viotti, que preside ao CS, já informou todos os membros e o assunto estava para ser discutido na reunião normal no ponto "outros assuntos" mas sabe-se que, pelo menos um dos membros requereu que o assunto fosse discutido numa reunião expressamente convocada para o efeito. A presidente do CS entretanto falou também com o Embaixador Marty da Indonésia, ele próprio o ex Embaixador do país junto das Nações Unidas, no sentido de solicitar a sua ajuda como presidente em exercício da ASEAN.

Entretanto os dois ministérios dos Estrangeiros avançaram numa campanha, iniciada por Phnom Penh, convidando os diplomatas a visitar os campos de desalojados e a observar os danos causados, pela outra parte, de forma a sensibilizar esta comunidade dos actos de "agressão" perpetrados pelo inimigo.

O Ministro Indonésio dos Negócios Estrangeiros Marty prossegue a sua viagem aos dois países, hoje em Bangkok, no sentido de obter alguma solução para a contenda. Mostrando o interesse que a região tem para si, e de alguma forma uma inovação na condução na política externa, a Republica Popular da China emitiu ontem um comunicado onde diz serem ambos os países "vizinhos amigos da China" e esperando que as partes se contenham e encontrem uma solução para os seus problemas comuns.
A Tailândia tem sido bastante clara em sempre rejeitar qualquer tipo de mediação ou internacionalização do conflito porventura tendo a consciência de que a forma como no passado defenderam a questão não lhes foi favorável e criou precedentes de direito internacional adversos. Em 1962 quando o Tribunal Internacional de Justiça decidiu a titularidade do templo para o Camboja a Tailândia em vez de interpor recurso simplesmente criticou o Camboja e a decisão do tribunal, alegando a discutibilidade dos documentos usados para suportar a sentença. Nessa altura a reacção tailandesa e do seu primeiro Ministro Sarit Thanarat, que chegou ao poder em 1957 através de um golpe de estado, foi violenta ao ponto de ter tido o Rei Rama IX (actual monarca) de intervir, falado e explicando que o país deveria obedecer à sentença do tribunal.

Enquanto o governo tailandês se empenha na luta diplomática porventura na tentativa de encontrar forma de terminar com um conflito que a ninguém serve o exército desta vez é muito menos cooperativo. O seu porta-voz, o Coronel Sansern ontem de manha veio dizer que não havia mais conversas com a parte cambojana para à noite ter sido ainda menos diplomático e infeliz dizendo que "estamos preocupados de que nos acusem de estarmos a abusar de um vizinho menor" (referindo-se à inferior capacidade militar), palavras que foram muito mal recebidas mesmo nos círculos governamentais.

Entretanto os amarelos do PAD e dos Patriotas preparam a "marcha para uma importante posição" que terá lugar no dia 11. O facto de não se saber onde é tal lugar faz correr as mais variadas especulações, inclusive que pode ser na fronteira para tornar a situação ainda mais tensa, mas já fez com que o governo decidisse hoje declarar que seja aplicado o artigo 2º do Internal Security Act, facto que permitirá uma mais fácil actuação dos militares.

Há quem especule que tudo isto não passa de uma escalada da tensão para mostrar a necessidade de uma intervenção militar "já que o governo é incapaz de manter a ordem".

1 comentário:

Anónimo disse...

"Há quem especule que tudo isto não passa de uma escalada da tensão para mostrar a necessidade de uma intervenção militar "já que o governo é incapaz de manter a ordem".
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Tudo é possível...e em política vale tudo menos arrancar olhos e a intervenção militar pode criar uma onda de patriotismo e fazer esquecer as feridas,internas, difícil de curar.
Olho vivo