Hoje faz três anos que os tanques saíram à rua em Bangkok para derrubar um governo proveniente de uma eleição popular.
Thaksin Shinawatra, o chefe do governo da altura, tinha sido o primeiro Primeiro Ministro na história do país a ter sido reeleito não uma mas duas vezes.
O mal foi que ao conseguir a sua primeira maioria absoluta resolveu utilizar os mesmos métodos que os seus colegas na região instaurando uma democracia dirigida e aproveitando-se disso.
Thaksin, que acabou condena por uma questão de lana caprina - conflito de interesses, foi essa a decisão do Tribunal que o atirou para o exílio voluntário - teve durante a sua governação muitos pontos altos, tal que são actualmente copiados pelo governo de Abhisit, mas teve muitos momentos baixos e pelos quais deveria, de facto, ser condenado como o permitir (ou mesmo ajudar) a explosão das acções violentas no Sul do país e a muito tenebrosa guerra á droga que acabou por fazer mais de 3.000 mortos à margem da justiça.
Durante mais de dois anos os governos de Thaksin involveram-se numa luta activa contra o tráfico de drogas mas essa luta, que deu bons resultados, foi feita á custa de muitas execuções extra judiciais. Actualmente o Governo de Abhisit vê-se confrontado com um enorme aumento do consumo e tráfico de drogas e inclusive, contrariando a moratória solicitada pelas Nações Unidas, foram, há menos de um mês, executados dois traficantes condenados á morte por questões relacionadas com o tráfico de estupefacientes.
dia 19 de Setembro de 2006, e após uns longos dois meses turbulentos com várias mudanças e interferências nos comandos militares o General Sondhi Boonyaraglin, ou Sondhi B. por oposição ao líder do PAD Sondhi L., fez sair para para as ruas de Bangkok os tanques que rápidamente tomaram conta da situação. Thaksin encontrava-se em Nova Iorque na Assembleia Geral das Nações Unidas, para onde parte amanhã Abhisit, e, embora à ultima da hora tentasse demitir o General, já ninguém lhe obedeceu e o Rei numa audiência extraordinária pelas 12.30 da manhã já do dia 20, deu "a sua benção" ao golpe e solicitou aos comandos militares que trabalhassem para, e em benefício do país.
Estava assim iniciado um período assaz complexo da vida tailandesa. Após um ano e dois meses de um governo dirigido por militares, sob a atenta vigilância do Conselho de militares revoltosos, realizaram-se eleições mas voltou a ser, apesar de uma Constituição que o pretendia evitar e de várias decisões dos Tribunais nem sempre claras, um partido ligado (ou dirigido) por Thaksin que veio a ganhar as eleições. O ano de 2008 foi um ano de permanente turbulência ou não tivesse sido o golpe de há três anos feito para derrotar Thaksin. O PAD entrou em acção que culminou na ocupação dos aeroportos com um prejuízo para o país calculado pelo Banco Central em 186 mil milhões de bath, quase 4 mil milhões de Euros, mas acabou por ser, de novo, a intervenção dos Tribunais, sempre tão permeáveis a interesses partidários, a acabar com o thaksinismo e a levar Abhisit ao poder.
Hoje os "vermelhos", a guarda avançada do thaksinismo mas simultaneamente, um movimento que alberga, neste momento, todos os que se opõe ao governo da coligação liderada (?) pelo partido Democrata, levou a cabo uma manifestação em Bangkok pela Democracia e contra o golpe.
O governo uma vez mais reagiu mal ao instaurar o Regime de Excepção que o Internal Security Act permite não só hoje mas desde Sexta-feira e até Terça-feira. Só um muito errado entendimento da situação política do momento poderia fazer pensar que a manifestação não seria pacífica. Tratou-se mais de um acto de vitimização do Governo e de polítiquice interna do que uma real questão de segurança. De igual forma o governo errou em não implementar semelhante excepção na província de Si Sa Ket para evitar a manifestação anunciada como potencialmente violenta quando o PAD disse que iria marchar sobre o templo da Khao Phrae Vhearn para expulsar os ocupantes (cambojanos) da terra "tailandesa".As imagens, da comunicação social tailandesa, que ilustram este texto são claras. A manifestação do PAD tinha sido anunciada como potencialmente violenta, envolvendo um conflito trans fronteiriço, e acabou com os 5.000 manifestantes, transportandos de Buriram para o local, (estranha aliança de Nevin com o PAD) a atacarem os residentes locais e as próprias forças de segurança que ai estavam estacionadas o que provocou 17 feridos. Pelo sentir do Governo essa manifestação não era um problema de segurança. A tradicional duplicidade de entendimentos. Aquilo que é "vermelho" é mau e o que é "amarelo" é bom!
Em Bangkok cerca de 30.000 pessoas, a fazer fé na comunicação social, manifestaram-se, disseram as suas palavras-de-ordem, ouviram o "boss", que disse falar de um país próximo e dispersaram, como estava previsto, sem o menor incidente apesar de ainda durante a tarde o Vice Primeiro-Ministro ter vindo dizer que havia "hooligans" (o termo utilizado) infiltrados e que a polícia poderia utilizar balas de borracha se houvesse incidentes.
Que fique uma coisa a lembrança de que golpes militares nunca são soluções. O país está hoje mais dividido do que estava há três anos atrás e perdeu em todos os índices internacionais, inclusive no da corrupção, só que essa agora não está focalizada só numa pessoas mas em muitas.
Já que nada se ganhou ao menos que se ganhe essa noção da inutilidade da intervenção dos militares e a noção de que o debate livre de ideias é a única forma de fazer avançar um país. Da mesma forma que Thaksin não pode, não deve, ser parte do futuro do país, devido ao facto de ser um factor de desunião e não de união, os militares e as ideias retrógradas e contrárias à vontade do povo livre e capaz de decidir, também não podem existir como actores principais do futuro.
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