O inicio de Dezembro é normalmente calmo muito especialmente devido às celebrações relativas ao aniversário do Rei Rama IX.
O ano passado foi inesperadamente turbulento devido à ocupação dos aeroportos da cidade (facto ainda, incompreensivelmente, impune) e também devido ao facto de pela primeira vez, durante o já longo reinado, o Rei não ter falado, como sempre faz no dia 4 de Dezembro.
Vários ainda se interrogam sobre aquela ausência, alegadamente por doença, mas o facto era que na altura, e devido à tremenda divisão no pais, causada pelos confrontos políticos, o Monarca não tinha condições de falar ao seu povo sem que houvesse alguém que de uma forma ou outra interpretasse as suas palavras diferentemente. Foi uma atitude pensada, e no fim ajustada à situação.
Este ano devido ao facto de o Rei estar hospitalizado há quase três meses de alguma forma era de esperar que o mesmo acontecesse. Tinha sido visível, quando no dia 23 de Outubro apareceu pela primeira vez, que se encontrava fragilizado e necessitando de descanso e cuidados médicos. Assim foi e a Casa Real decidiu que não seria possível a comparência à sempre cansativa cerimónia do “Trooping of the Colour” e que o Monarca só falaria aos familiares e dignitários do regime no dia do próprio aniversário, 5 de Dezembro sendo substituído em todas as outras funções oficiais pelo herdeiro aparente o Príncipe Vajilalongkorn.
As palavras de Rama IX acabam sempre por ter um eco maior do que aquela pequena audiência e acabaram por ser escutadas por todo o povo e entendidas como uma mensagem para todos. Dirigidas àquele circulo restrito ecoaram por todos os cantos da Tailândia.
Mais uma vez o Monarca falou da necessidade de olhar para o país e da necessidade de pôr os interesses colectivos acima dos pessoais acrescentando que só unidos os tailandeses podem trabalhar uns para os outros e cada um para o todo.
Acabou por ser assim uma mensagem vista, ouvida, sentida e, espera-se, assimilada por todos e resta agora entender o seu alcance e a capacidade que existe de encontrar uma solução para o beco onde se meteu o país.
Thongchai Winichakul, um Professor tailandês da Universidade de Wisconsin nos Estados Unidos dizia numa, muito interessante conferência ocorrida dias depois, a 8 de Dezembro, e intitulada “Thailand in Transition: A Historic Challange and What’s Next”, que contou entre outros com a presença da Professora Dra. Pasuk Pongpaichite, eminente economista de Chulalongkorn e do Governador de Bangkok M.R. Sukhumbhand Paribatra, que “Quem só vê no pais Vermelho ou Amarelo tem uma visão profundamente distorcida da realidade”. É dever de todos, olhar para dentro de si e para a frente e encontrar a verdade da profunda divisão existente no pais.
O Dr. Thongchai é um dos historiadores com mais obra publicada sobre a Tailândia recente e ler os seus escritos ajuda a entender muitas das questões que se colocam para encontrar a união a que o Rei apelava no seu discurso. A Dra. Pasuk publicou recentemente um estudo, sob os auspícios do King Phrajadipok Institute sobre o tecido económico-social do pais, que foi apresentado no Congresso do KPI, e onde aborda as enormes disparidades existentes no pais e o facto do sistema fiscal do país aumentar de forma significativa esse fosso. O Governador de Bangkok, como se sabe dirigente do Partido no poder, reclamava mais acções da parte de Abhisit na solução dos grandes problemas económicos que o pais enfrenta neste momento e que estão a agravar a já grande divisão social.
O Rei falou, com toda a propriedade requerendo acções aos seus compatriotas. Há agora que esperar que esses tenham ouvido e entendido que é na resolução dos problemas do pais real que se encontra a chave para o futuro.
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