sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Les Uns et les Autres

As cheias têm dominado e ocupado quer as notícias quer as cabeças de todos no país com especial foco em Bangkok.

Um dos pontos a realçar tem sido o "pânico" (uso a palavra de que não gosto por isso a coloco entre aspas) das gentes da cidade em contrate com a muito maior serenidade daqueles que pouco têm a perder mas cujas casas e vidas têm sido fortemente abaladas pelas cheias.

A zona onde vivo por hábito inunda sempre que há uma chuvada mais forte e rapidamente se atingem uns bons 40 cm de água. É normal tal acontecer várias vezes durante o tempo das chuvas mas nunca vi lá serem colocados sacos de areia nem erigidas barreiras de protecção. Vive-se assim sem temores sem alaridos e a água vem e vai de forma natural. As zonas ribeirinhas do rio Chao Praya todos os anos por esta altura são tomadas pelas águas na maré alta e as pessoas descalçam os sapatos, arregaçam as calças e avançam água dentro sem mais pensar. Assim é viver numa cidade que está 2 metros acima do nível do mar (há zonas como Ramkhameng que inclusive está abaixo desse nível) numa cidade cheia de canais para onde todos os anos as águas excedentárias das chuvas vindas do Norte acabam por confluir.


Vezes sem conta as ruas interiores da zona de Sukhumvit, Ekkamai, On Nut, Lat Krabang, etc são tomadas pelas águas que em muitas alturas chega a atingir os 50 cm mas isso não faz com que a actividade da cidade pare.

É um facto que este ano houve excesso de água. O centro do país tornou-se um enorme oceano, por muitos e variados factores aos quais não estão de modo algum dissociadas as indecisões deste governo e do anterior quanto a saber gerirem em tempo adequado as águas acumuladas nas grandes barragens do Norte do país. As chuvas anormais, dizem mais 50% do que o normal, também contribuíram para isso.


Perante este cenário, por muitas vezes aumentado por uma comunicação social ávida de vender notícias, várias zonas da cidade (fundamentalmente a periferia) acabaram por se verem inundadas, com as águas procurando o caminho do mar, com os enormes prejuízos para as pessoas e para o funcionamento da cidade.

Contudo pior do que as cheias parece-me ter sido o tal "pânico" que se apoderou (a par com muitas demonstração de exibicionismo que tal proporcionou) das gentes urbanas.

Nunca vi o centro desta cidade tão seco como agora. Os esforços (louváveis ou não) deste governo para poupar no fim os eleitores da oposição (os ricos urbanos de Bangkok) conseguiram afastar qualquer gota de água do centro da cidade onde por outro lado se vêm frequentemente verdadeiros "bunkers" erigidos pelos timoratos urbanos com falta de capacidade de pensar pelas próprias cabeças e excesso de dinheiro para gastar na construção dessas muralhas (desnecessárias). Presenciei o facto mais relevante mesmo na rua onde moro. Um banco construiu um verdadeiro forte à volta da sua sede com muralhas de cimento de mais de 2,5 metros de altura reforçadas com cerca de 1 metro de sacos de areia empilhados à sua volta quando mesmo ao lado há um mercado de rua, como existem por toda a cidade, que nem um grão de areia nem um milímetro tem a protegê-lo. Como a protecção daquele banco existem muitas mesmo muitas outras. Estou agora curioso para ver onde vão ser colocados os sacos de areia quando tudo isto terminar não vá acontecer, como já muitas vezes vi, atirarem-nos para os esgotos causando assim o seu entupimento e então terão cheias sem protecção.


Esta diferença de atitude entre aqueles que se pavoneiam com as suas botas altas e coloridas (que têm feito capas de revistas da alta sociedade) e os que sem sapatos enfrentam as águas são bem os sinais destas cheias.

O essencial é que, infelizmente, muitas pessoas pereceram (533 até agora) embora a grande maioria tenha sido por electrocussão devido ou à teimosia em não abandonar áreas de risco ou por total descuido ao continuar a manter ligados e a manusear aparelhos eléctricos em casas totalmente submersas.

Para além disso os prejuízos para a economia são grandes e sérios mas a capacidade das gentes em levantar-se e caminhar em frente de novo é ainda maior. Hoje mesmo um dos mais importantes empresários do país que viu muitas das suas operações interrompidas, o que não o impediu de ter estado na primeira fila dos largos milhares de voluntários que ajudaram os menos favorecidos, disse que estava confiante que a economia do país cresceria fortemente no ano de 2012. Também as boas notícias de que várias fábricas na zona de Ayuthaya retomaram a actividade do mesmo modo que muitos outros sectores da economia anunciaram o regresso à normalidade e a reabertura de áreas até há dias inundadas, vão animando as pessoas. No que respeita a antiga capital do reino diga-se que as águas estão em recessão e ontem iniciou-se uma operação de limpeza onde milhares de voluntários se juntaram para devolver, o mais rapidamente possível, a Ayuthaya o sorriso que merece.

Nos meios de comunicação social de hoje vêem-se muitas boas notícias sobre o retomar de actividades em vários sectores e zonas da cidade, a par de um retomar das querelas políticas como manchetes o que denota um certo "regresso á normalidade".

Para a próxima estação, pois as cheias e as secas fazem parte da vida deste povo, deveriam oferecer-se estágios na província às gentes de Bangkok e assim talvez fossem mais comedidos e mais sábios a lidar com as águas bem essencial num país que é um dos maiores produtores de arroz do Mundo.

1 comentário:

Jose Martins disse...

Porque achamos esta peça com tronco, cabeça e membros, transcrevemos, a totalidade para os nossos blogues: Aquitailandia e Maquiavelencias.
Parabens do lúcido pensamento batido nas teclas.