quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Casamentos de Conveniência

Ontem referi a estranha coligação que se estabeleceu entre os amarelos e os vermelhos "juntos" por causa de um inimigo comum, Abhisit

Ambos os campos acabam de mais uma vez concordar afirmando que a história dos "bombistas" presos antes do começo da manifestação do PAD foi uma armadilha montada pelo governo para, no entender do PAD, afastar as pessoas doa manifestação, e no entender da UDD devido a divisões dentro da própria polícia.

Hoje o The Nation analisa na primeira página esse caso mostrando as incongruências e os erros e fazendo crer que na realidade algo se passou no seio da polícia e nos bastidores de toda essa encenação.

Contudo o mais importante é o facto de a manifestação do PAD estar aparentemente para durar e só terminar, de acordo com os seus líderes, ou com a total aceitação dos seus pedidos (que se sabe impossível) ou com a demissão do governo de Abhisit.

O número de manifestantes aumentou ontem à noite e chega neste momento aos 5.000 segundo a maioria das fontes embora os jornais, à semelhança com os casos da UDD, tentem não relatar muito sobre o movimento

Sondhi L, o mais mediático líder do PAD veio dizer que Abhisit ainda continua a enganar muita gente com a "sua cara bonita" mas já não engana o PAD que sabe ele ser igual aos anteriores primeiros ministros que o movimento ajudou a derrubar referindo Thaksin, Samak e Somchai.

Outro dos líderes do movimento veio dizer que desta vez era mais sério pois Abhisit estava a vender a pátria aos "invasores" cambojanos e o movimento estava ali a lutar para que o país não perdesse a soberania sobre o seu território.

Os temas nacionalistas sempre foram do agrado do PAD pois sabe bem o movimento que desse modo consegue atrair massas e atiçar chamas que se sentem menos atraídas por temas mais do foro político como direitos democráticos ou sociais.

O General Chamlong, outro dos líderes do PAD, veio afirmar que por agora as pessoas se concentraram na ponte de Makawan (mesmo em frente ao edifício das Nações Unidas e onde em 2008 iniciaram a campanha que durou 192 dias) e não tencionam avançar para a Governement House mas tal poderá acontecer se essa for a vontade do povo ali em manifestação. O velho General disse de igual modo que dispersariam tão logo o PM Abhisit acedesse aos seus pedidos, facto que se sabe, como já referi, impossível. Aceder aos pedidos seria o mesmo que declarar guerra ao Camboja pois não me parece haver outra forma de fazer mover as pessoas que actualmente ocupam os disputados 4,6 km2 em redor do templo de Phrae Viharn.

Abhisit, sem resposta, autorizou entretanto, um pouco à trouxe-mouxe, um exercício militar junto da fronteira, talvez numa tentativa de mostrar a força tailandesa aos cambojanos mas este estão numa posição confortável e contam, nesta disputa, com o apoio da comunidade e da lei internacionais.

Uma pergunta fica agora no ar mas não consigo encontrar a adequada resposta: qual a porta de saída para esta nova crise em crescimento?

Sabe-se que Abhisit não pode ceder. O PAD parece determinado a continuar (instalaram um verdadeiro acampamento com tudo o que necessitam – casas de banho, tendas para dormir, cozinhas, etc). A possibilidade de fazer aplicar a lei parece difícil (o PAD neste aspecto é actualmente mais radical que a UDD). Qual a saída?

Vai o PAD vergar por falta de fundos? Note-se que aquando da campanha contra Thaksin e seus aliados em 2008, o PAD via diariamente milhões de baht serem postos á sua disposição para os gastos necessários. Ao "establishment" interessava-lhe essa luta. Era a luta deles pelos seus privilégios e pelo seu medo de perder o poder. Desse modo o conhecido continuado financiamento e apoio de muitas e altas figuras do país entre as quais o próprio Abhisit.

Agora isso não parece viável. Ao "establishment" não interessa derrubar o governo de Abhisit, ou seja ninguém gosta de dar tiros nos pés a não ser por engano.

Duas saídas parecem possíveis. A dissolução do parlamento e convocação de eleições mas tal não é viável antes de meados-final de Fevereiro visto ser necessário terminar o processo da revisão da Constituição cuja ultima votação está agora agendada para o dia 10 de Fevereiro depois de ontem ter sido aprovada a proposta dos Democratas. Depois da terceira votação e posterior publicação na gazeta real, ainda falta a aprovação, pelo governo, de um decreto regulamentar para que o novo texto entre em vigor. Tal nunca estará pronto antes de finais de Fevereiro já contando com um excesso de optimismo.

Até lá, e sendo que a dissolução do parlamento não é uma das reivindicações do PAD, vai manter-se a manifestação como aconteceu em 2008 com todos os custos que o país conhece?

A outra saída é a já tantas vezes levada á prática nos 79 anos de monarquia constitucional no país, ou seja um golpe de estado que tente recolocar o país na "ordem". Contudo esta via é sabido, pela experiência de 2006, que nada acrescenta e só faz o país parar mais no tempo com todas as consequências nacionais e internacionais que lhe estão associadas. Por outro lado um golpe de estado, por muito pacífico que seja, tem, neste momento, uma forte possibilidade de desencadear movimentos de tipo revolucionários no interior do país visto ser sabido que tal seria aproveitado pelos sectores mais radicais dos vermelhos para tentar apoderarem-se do poder.

Os próximos dias poderão mostrar o rumo mas não parece fácil a tarefa de Abhisit em manter a unidade nas forças que lhe estão mais próximos.

Se for como diz Sondhi L, "já fizemos cair três por isso podemos voltar a fazê-lo" não se vislumbra nada de claro para o futuro do país.

Casamentos de conveniência são sempre perigosos, seja o do caso de Abhisit com o PAD seja o actual do PAD com a UDD. Um dos nubentes pode sempre sentir-se traído mais tarde.

1 comentário:

Anónimo disse...

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Que ideia bacoca... O Cambodja não pode com uma gata pelo rabo, onde irá conseguir, fundos, para comprar o Reino ao Abhisit?
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Isto á igual: "cães e lobos comem todos...!!!.
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É de ter compaixão dos pobres seguidores dos "boys" (velhinhos) que não largam as ambições do Poder.
Olho vivo
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