quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Reconciliação

Uma palavra que anda sempre na boca de todos os Partidos e de todos os políticos é Reconciliação. O objectivo de todos é a reconciliação nacional, assim o dizem.

Abhisit quando apresentou o programa de governo, um dos principais pontos que estabeleceu como objectivo da sua governação foi o de reconciliar os tailandeses divididos e desavindos entre os campos, amarelo e vermelho.

Na realidade desde meados de 2005 que se vem notando uma profunda e crescente divisão entre as gentes da província e as elites urbanas.

O problema não se põe tanto em estritos termos de classes sociais, como seria na Europa, mas na diferença entre aqueles que lutam por 100 bath por dia e aqueles que gastam mais do que isso cada vez que vão a um Starbucks beber um café.

Aqui há meses realizei uma missão ao nordeste do país onde tive a oportunidade de contactar com todos os espectros da sociedade e é clara a diferença existente entre aqueles que lutam pelo arroz do dia e os outros. Houve algumas perguntas que fiz a todos de modo a testar o conhecimento que teriam de certos temas como Direitos Humanos e o conflito no Sul da Tailândia. Dos “eruditos” obtive respostas mais ao menos decalcadas de um qualquer jornal, por vezes ainda com a cor do redactor agarrada às palavras do meu interlocutor. Dos “incultos” (usando a linguagem do PAD) ouvi indiferença, desconhecimento pois ou seus pensamentos estavam quase sempre centrados em coisas locais e que lhes são próximas.

A Tailândia está profundamente divida entre estes dois grupos e obter a reconciliação dos seus interesses é uma tarefa de grande monta.

O atitude das “gentes de Bangkok” profundamente distanciadas das populações em nada ajuda. Recorde-se que o último Primeiro-Ministro a visitar o Nordeste foi Thaksin Shinawatra (só agora Abhisit foi a Buriram – escoltado pelos guardas de Nevin - e a Ubon, Yasothon e Amnat Charoen, sempre de helicóptero entre cada cidade). recorde-se que depois de Thaksin já houve Surayuth, Samak (já agora correm rumores de que terá morrido) e Somchai antes de Abhisit chegar ao poder.

A atitude da burguesia urbana classicista, discriminativa e racista (os da províncias são escuros e os das cidades brancos) foi sempre aproveitada, e aprofundada pelo PAD quando proclamavam através da sua “Nova Política” que os compatriotas do campo não dispunham de educação suficiente e se deixavam comprar nas eleições e, por isso, não poderia haver um Parlamento 100% eleito. Refira-se que há dois estudos, um conduzido pela Universidade Assumption e outro pela The Asian Society, que mostram que hoje em dia os eleitores recebem dinheiro de todos os partidos, inclusive dos Democratas, e depois votam e plena consciência. Será que se pode exigir a uma pessoa que luta pelos tais 100 bath (2,1 Euros) por dia para comer que rejeite as notas de 100 ou 500 bath que todos os Partidos lhe estendem? Interessante é que nunca se ouviu nenhuma dessas vozes da cidade propor um plano dotando mais fundos para “educar” as pessoas que eles julgam não educados.

O Mundo está cheio de exemplos onde as eleições mostram a grande sabedoria dos eleitores. Quando se julga que um povo vai voltar de esta ou daquela forma por norma acaba por se obter resultados que mostram uma grande capacidade de entendimento daquilo que são as capacidades dos candidatos pelos votantes. Já estou a ver todos a vasculharem nos arquivos de memória os muitos exemplos contrários ao que digo, e por certo terão razão, mas esta é a minha convicção.

A sabedoria do povo feita e cimentada através do seu viver diário e do pragmatismo, porventura recebido do facto de lutar pela vida dia a dia, acaba por ser prevalente na formação das consciências cívicas que nós, citadinos, burgueses, sempre acomodados, consciente ou inconscientemente julgamos deverem merecer algumas lições de nós.

A Reconciliação nacional é o tema de todos os políticos em Bangkok até porque sabem que as palavras soam bem e ganham simpatia e melhor ainda não são atacadas mas as acções ficam sempre para amanhã.

Contudo na província as acções são para hoje e começam a despontar um pouco por todo o lado iniciativas que visam juntar amarelos e vermelhos à mesma mesa para de uma forma correcta dirimirem as suas disputas. fala-se de vermelhos e amarelos visto serem hoje em dia os símbolos dos dois campos que se opôe ainda que por vezes exista um total incoreecção na identificação dos motivos e objectivos detrás dos dois grupos. Ou muito me enganao ou ainda os irei ver juntos em Bangkok.

Desde Korat, a Ubon, a Chiang Mai, para só citar alguns, e agora Phayao surgem essas iniciativas do “povo inculto e deseducado” qual professor dos “ilustres urbanos”. Neste encontro no Norte as camisas mudaram de cor e o vermelho e o amarelo só são visiveis na parede.

Como há quem diga em Portugal: 20 valores.

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