A Tailândia e o Camboja voltaram a atiçar o fogo que lavra entre os dois países há muitos anos.
Como já relatei várias vezes as escaramuças na fronteira face à existência de uma longa frente comum de 807 quilómetros, bastante mal demarcada por razões históricas e de tratados nem sempre acordados na plena capacidade de uma das partes.
O ano passado viu esses confrontos acenderem-se, após a candidatura apresentada pelo Camboja a que o templo de Phrae Vihearn, que é deles por decisão do Tribunal Internacional de Justiça de 1962, decisão não contestada pela Tailândia, em devido tempo, a Património da Humanidade. Nesses confrontos acabaram por falecer 14 soldados de ambos os lados quando foi trocado fogo entre as tropas estacionadas no local. Desde essa altura a tensão nunca desceu apesar das muitas fotografias tiradas em conjunto por políticos de ambos os países. A realidade é que a Joint Border Commission, estabelecida através do Memorando de Entendimento assinado por ambos os países em 2001, nunca conseguiu passar do inicio visto nunca terem conseguido definir o nome do templo, que se escreve mais ao menos da mesma maneira nas duas línguas mas pronuncia-se diferentemente.
Em 2003 a Embaixada da Tailândia em Phnom Penh foi destruído por fogo posto por uma multidão enraivecida com comentários feitos por uma artista sobre o “templo da disputa” (era capaz de este ser um nome aceite por ambas as partes) em mais uma demonstração da permanente e latente animosidade que existe entre os dois países, e mesmo entre os dois povos.
Enquanto os laocianos são os “irmãos” os cambojanos nunca conseguiram ter esse “apelido” e a história de permanentes confrontos é disso a prova.
Agora a inimizade entre os dois países atingiu um novo e altíssimo patamar.
Dias antes da Cimeira da ASEAN em Cha-Am/Hua Hin, o novo Prsidente do Puea Thai, o partido de Thaksin, visitou o Camboja e ouviu o seu Primeiro Ministro declarar-se um amigo fraternal do fugitivo ex PM tailandês. Nesse altura Hun Sen também apelou ao dialogo para resolver a disputa fronteiriça.
Chegado à estância balneária onde se realizou a Cimeira Hun Sen conseguiu retirar todo o brilho ao hóspede Abhisit, já que durante um dia a comunicação social só falou da oferta daquele de um posição para Thaksin como seu conselheiro económico ao qual Hun Sen adiantou que Thaksin nunca seria extraditado pois considerava que o seu amigo era um perseguido politico. Chegou inclusive a comparar o ex PM a Aung San Suu Kyi (o que diga-se é de bastante mau gosto).
Abhisit não conseguiu ter resposta para o experiente e matreiro Hun Sen e acabou arrastado no turbilhão de atoardas que foram ditas em vez de conduzir, como líder da ASEAN, a sua própria agenda.
Passado esse incidente, onde mais uma vez Hun Sen se sentiu vitorioso, este voltou a à carga, cumprindo a sua promessa e Thaksin foi nomeado, por decreto Real, Conselheiro Económico do Primeiro Ministro do Camboja.
A Tailândia mostrando mais uma vez a falta de experiência do seu Primeiro Ministro em assuntos diplomáticos decidindo, sem mais nem menos, chamar o seu Embaixador em Phnom Penh, gesto que foi retaliado pelo Camboja no mesmo dia.
Antes da retirada de um Embaixador existem vários outros mecanismos diplomáticos para mostrar o desagrado pela actuação de um pais com o qual se matem relações diplomáticas. Convocar o Embaixador desse pais para o Ministério para indagar do assunto em questão, um aide-memoire, uma demarche, e estes quer verbais (mais leves) quer por escrito (mais fortes), são mecanismos a utilizar antes daquele que Bangkok tomou.
A notícia da decisão do MNE tailandês foi comunicada ao pais através do Secretario do Ministro e não através do porta voz do Ministério visto haver fortes discordâncias sobre a decisão, vista pela maioria dos diplomatas como desproporcionada. Há que notar que a Tailândia é presentemente o Presidente em exercício da ASEAN, é membro do Tratado de Amizade e Cooperaçã, dos quais o Camboja também é signatário, e acaba por criar com a reacção desproporcionada a divisão e não a união como deve ser o papel do Presidente.
Singapura e o Secretário-geral da ASEAN já se manifestaram altamente preocupados e chamaram à atenção dos dois países para os prejuízos que estão a trazer para a associação nas vésperas da reunião da APEC e da Cimeira ASEAN-US, a realizar em Singapura, à qual vai estar presente o Presidente Obama.
A chamada de Embaixadores corta automaticamente os canais de comunicação entre dois países e coloca agora uma questão muito complexa. Como é que se vai voltar para trás? Como é que a Tailândia, repito, Presidente em exercício da ASEAN, vai retroceder sem que isso seja visto como uma derrota para o pais, como já está a sê-lo no contexto da diplomacia internacional.
Do ponto de vista de politica domestica Abhisit marcou pontos e a sondagem que hoje saiu já mostra isso pois voltou a estar á frente de Thaksin. Este pelo seu lado está a jogar uma cartada que lhe pode sair muito cara. Abhisit, inteligentemente (bom teria sido que também o tivesse sido e utilizasse uma medida protocolar mais leve), está a levantar a bandeira patriótica e já apelou para que Thaksin ponha os interesses da Tailândia, o seu pais, à frente dos interesses de um pais estranho. Hun Sen, pelo seu lado, tem o povo todo atrás dele nestas questões de disputas com a Tailãndia e aproveita para reforçar a sua popularidade.
A parada vai alta de ambas as partes e não está mais alta porque os militares dos dois países continuam a ter uma boa relação pessoal. Na noite de Quinta-feira, dia em que a Tailândia decidiu (decisão tomada por Abhisi e Kasit o MNE tailandês que quando era activista do PAD por duas vezes acusou Hun Sen de criminoso – este nunca perdoou a Abhisit a nomeação de Kasit para o cargo vendo isso como uma ofensa pessoal feita pelo PM tailandês), nessa noite, o PM instruiu o Comando do exército para que retirasse o Adido Militar de Phnom Penh, ao que lhe foi dito redondamente. Não! O General que recebeu o telefonema de Abhisit disse que os militares dois países continuam a ter boas relações pessoais e canais de comunicação sempre abertos e que por isso retirar o AM seria uma atitude que não se toma entre amigos.
1 comentário:
E pronto, ficam descobertas todas as carecas. Já de regresso, mas ainda com a Tailândia e o Camboja completamente colados à pele. Angkor é completamente inesquecível.
Um beijo
Ana V.
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