quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tensão na Fronteira

Entre a Tailândia e o Cambodja existem cerca de 850 km de fronteira que não estão correctamente demarcadas. Uma das razões para a falta de demarcação é a existência de grande número de minas anti pessoais e as tensões que desde sempre aí se verificaram têm muito a ver com essa falta de demarcação. Acontece amiúde os soldados de um e do outro lado da “fronteira” atravessarem-na sem que tenha plenas consciência desse facto. De igual modo a falta de equipamento e de preparação adequada a isso obriga. Só como exemplo é conhecido que soldados de ambos os lados, sabendo que os seus mapas são duvidosos por colocarem as linhas de fronteira de acordo com a interpretação de cada país, utilizam o Google maps para saber onde estão. Como se sabe esses mapas não só não são objecto de nenhum acordo entre os dois países como não possuem a qualificação de documentos oficiais.


A 15 de Junho de 1962 o Tribunal Internacional de Justiça, numa decisão 9-3, decidiu que o templo da Khao Prear Vihearn pertencia ao Cambodja mas nada foi decidido, visto isso não ser parte do processo em apreciação, sobre os 4,6 km quadrados de terrenos adjacentes ao templo que continuam a ser parte dos territórios em disputa. Com há tempos escrevi é como se o templo, cambojano, estivesse no ar. O Primeiro-ministro tailandês na altura, o Marechal Sarit Thanarat, não queria entregar o templo mas o Rei Bumibol disse que as decisões do tribunal eram para ser acatadas, aliás de acordo com a estrutura de pensamento do Rei, um defensor da lei e da sua respeitabilidade como muitas vezes tem demonstrado. No dia 2 de Julho o Primeiro-ministro numa mensagem ao país através da televisão aceitou a decisão judicial e fez as tropas tailandesas saírem do templo.

No que respeita às questões fronteiriças foi constituída em 2000 uma comissão mista a Joint Boundary Commission (JCB), com o objectivo de proceder à demarcação das linhas de fronteira entre os dois países. Passados 9 anos a JCB não consegue ter nenhum avanço nos intentos para que foi constituída apesar das inúmeras declarações de boas intuições políticas de ambos os lados e no que respeita ao templo nem mesmo conseguem sair da simples elaboração daquilo que podem discutir visto não acordarem no nome do templo que, embora praticamente diferente, tem duas fonéticas diferentes para cada uma das línguas.

Na semana passada mais uma vez se ouviram discursos políticos de amizade, cordialidade e intenção de encontrar uma solução política e pacífica para o problema. Na visita que Abhisit fez a Pnhom Penh tudo correu em grande harmonia tendo inclusive o PM tailandês devolvido ao Camboja várias estátuas Khmer que tinham sido em tempos trazidas por soldados tailandeses para o país.

Acontece que ao regressar a Bangkok Abhisit declarou à comunicação social que a Tailândia iria solicitar à UNESCO, na sua reunião em Sevilha no próximo dia 15, que revisses o processo do templo e retirasse a classificação de Património da Humanidade que está em curso de confirmação.

Foi o suficiente para atear de novo a fogueira com declarações explosivas de parte a parte embora a Tailândia diga que a questão não é com o Camboja mas com a UNESCO. Fortes contingentes de forças armadas foram enviados para a fronteira pelas duas capitais e a qualquer momento poderão haver novos conflitos sendo que desta vez, segundo afirma o Chefe do Comando cambojano no local, a presença de tanto armamento pode levar a que os confrontos tomem uma proporção muito superior aos do passado ano onde cerca de 12 soldados de ambos os lados morreram.

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