terça-feira, 11 de outubro de 2011

As maiores cheias de que há memória

As maiores cheias de que há memória no país assim são descritas as que actualmente se vivem na Tailândia.

Para melhor compreender a questão há que entender que existe como que uma bacia natural, para onde grande número de rios confluem, que se situa na província de Ayuthaya, a pouco menos de 100 km a Norte de Bangkok.

Ayuthaya é uma enorme planície onde todas essas águas se juntam e grande parte delas formam o Chão Praya, o rio que banha Bangkok. Ora o Chão Praya corre para o Golfo da Tailândia mas não o consegue fazer quer com a velocidade desejada (o próprio Golfo está com as suas marés bem altas) nem sem que as águas saltem das margens.

Para além disso os terrenos fortemente saturados não conseguem escoar as águas que se vão juntando e acumulando criando imensas albufeiras por todo o centro do país.


As grandes barragens no Norte do país estão por sua vez na capacidade máxima e tiveram de ser aliviadas das suas águas retirando a pressão que o excesso de água pode causar rompendo as barreiras e criando um desastre de proporções inimagináveis.

No Domingo milhões de litros de água foram libertados da barragem Bhumiphom, na província de Tak, aumentando em muito o caudal dos rios que correm para Ayuthaya mas era impossível conter as águas visto a barragem estar praticamente a 100% da sua capacidade.


Os efeitos para a economia nacional são neste momento ainda incertos mas o Banco Central fala em 1% ou mais no PIB neste na. O certo é que existem neste momento inúmeras empresas (e alguns parques industriais) inoperativos afectando não só essas empresas mas a própria cadeia produtiva. A isso acresce o facto da uma das principais vias no país, a estrada nº 1 Norte-Sul, estar encerrada em vários pontos afectando de igual modo a distribuição de produtos. Também muitos trabalhadores se sentiram na obrigação de regressar às suas vilas de origem para ajudar a família a braços com o mesmo problema das cheias.

Governo e oposição têm estado a trabalhar em conjunto, um facto que muito se louva numa país politicamente tão dividido, no sentido de aliviar os problemas diários que se vão encontrando. Os deputados do partido no poder decidiram prescindir de 50% do seu salário para ajuda ás vítimas e por certo os da oposição e de outros partidos coligados seguirão o exemplo. O parlamento alargou de igual modo o montante que os partidos políticos podem atribuir em doações a terceiros.


A PM Yingluck tem estado 24 sobre 24 horas à frente das acções de socorro às vítimas, quer no terreno quer liderando os membros do governo e montou um conselho especial de emergência no aeroporto de Don Muang, a Norte de capital, uma localização mais próxima da realidade que se vive. Esta manhã a zona próxima, Rangsit estava já fortemente afectada e as águas do Chão Praya e todos os canais a ele ligados estão a descer rapidamente sobre Bangkok. Uma fotografia aérea esta manhã mostrada no Bangkok Post dava conta da forma como as zonas orientais e ocidentais da cidade estava já afectadas e os terrenos fortemente alagados. A zona central da cidade, por norma menos sensível a esta questão parece a salvo.

Como já referi o problema das cheias na Tailândia é uma questão que tem muito a ver com a pobre gestão dos recursos hídricos no país.

Todos os anos há nos mesmos locais cheias e secas o que ilustra bem a necessidade de urgentemente olhar para esta questão e tentar encontrar uma solução para o problema.

As visões de curto prazo têm imperado e todos os anos são tomados remédios para uma "dor de barriga quando na realidade o paciente tem uma forte infecção".

Astuto e com o sentido da oportunidade, como sempre, Thaksin dá hoje uma entrevista a um dos principais jornais onde mostra a necessidade de o país avançar com um sistema integrado de gestão dos recursos hídricos e mostra mesmo como ele pode ser feito sem usar grandes verbas e de alguma forma ter ganhos políticos com uma aproximação à China país com larga experiência na matéria. Thaksin, para além da sua astúcia, está a "falar de cátedra" pois em 2005 lançou um conjunto de programas de modernização das infra-estruturas do pais, onde se incluía precisamente a gestão dos recursos hídricos, mas não conseguiu levar por diante a iniciativa devido a ter sido deposto no ano seguinte e desde essa altura nenhum governo se preocupou com esta questão.

É na realidade hora de olhar para o desastre de este ano com olhos de futuro e iniciar os estudos necessários, aproveitando a grande sabedoria do rei rama IX na matéria, para que as cheias e secas não sejam "um facto da vida" mas um excepção num ano mau.

Entretanto para além dos enormes prejuízos a atingir números assustadores, havia a contar até ontem cerca de 270 vidas que se perderam.

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