terça-feira, 19 de abril de 2011

Songkran e Hipocrisia

Na semana passada passou mais um Songrkran, o ano novo tailandês também conhecido como o Festival da Água, água purificadora, e como sempre, para além dos feriados e paragem que tais festividades provocam, houve motivos de sobra para comentar o acontecido.

Os dois últimos Songkran foram, infelizmente, marcados pela violência trazida pelas manifestações vermelhas, mas o deste ano mostrou de novo a faceta de animação que deve caracterizar este momento do ano.

Para além das festividades há sempre o drama dos acidentes de automóveis nos quais perdem a vida muitos tailandeses. Este ano os números foram ligeiramente mais baixos, 3.215 acidentes, mas mesmo assim inaceitáveis visto terem morrido no curto espaço de 6 dias 271 pessoas e ficado feridas 3.476 alguns dos quais por certo virão a falecer ou ficar incapacitadas para sempre.

Este é o eterno problema, não só aqui, da mistura explosiva do álcool com a condução de veículos.

Contudo este ano houve um incidente que dominou todas as manchetes dos jornais e que de acordo com um muito bem escrito artigo de fundo no Bangkok Post mostra a hipocrisia de uma certa parte da sociedade tailandesa, infelizmente da classe que de uma forma ou outra controla e detêm o poder.

O incidente resume-se ao facto de ter havido três raparigas, com idades entre os 14 e 16 anos, que no auge da loucura que se apodera de muitos durante aquelas festividades subiram para o cimo de um carro e dançaram com o peito descoberto.

Tal facto levou a que o director do distrito de Bangrak, onde tal aconteceu, o mesmo distrito onde se situam todos os clubes de Patpong e vizinhanças onde muito pior se passa, apresentasse uma queixa na polícia contra o "acto obsceno e imoral" das raparigas que estariam, no seu entender, a dar uma má imagem da Tailândia ao mundo.

Note-se que o Ministério da Cultura tinha (refiro o passado pois subtilmente foi retirado ontem) no seu sítio de internet a aguarela de Somphop Butrach (figura acima), alusiva à festividade do Songkran e que mostrava exactamente três dançarinas com vestidos tradicionais tailandeses, mas de peito descoberto, a saudarem a chegada do novo ano tailandês.

O artigo de Pichai, o Editor Chefe do Bangkok Post, que vale a pena ler, põe a nu a hipocrisia de actos como os levados a cabo pelas autoridades que "branqueiam as mesma práticas que condenam práticas essas que desfilam bem debaixo dos seus narizes".

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