terça-feira, 9 de novembro de 2010

Hu Jintao em Portugal

A visita do Presidente Hu Jintao a Portugal trouxe para as primeiras páginas dos jornais portugueses a "ajuda" que a China pode dar a Portugal nestes tempos tão conturbados para o país, o seu povo e a sua economia.

A questão tem de ser vista num contexto muito mais vasto do que a simples visita de um chefe de estado e a assinatura de alguns acordos que o Governo português usa para sua promoção e publicidade interna.

Não é por acaso que a revista Forbes considerou este ano Hu o homem mais poderoso do Mundo relegando para um plano secundário Obama que tinha ganho o mesmo "título" no ano passado.

A diplomacia externa Chinesa da era Hu Jintao tem sido uma das componentes mais fortes da politica desta potência. A abertura do país à política dos dois sistemas começou com Deng mas Hu entendeu que haveria muito mais a fazer do que somente deixar que algumas zonas do país ganhassem um desenvolvimento desproporcional com outras. Aliás esse desenvolvimento não corrigido era por si só uma ameaça á estabilidade necessária para o desígnio da nação chinesa de "conquistar o mundo".

Hu corrigiu algumas assimetrias, introduziu métodos mais consistentes com as necessidades dos seus clientes ocidentais (lembre-se a forma enérgica como foram condenados os falsificadores do leite para crianças), e tem continuado a política de Deng de ser o banqueiro dos Estados Unidos com a diferença de que estendeu essa prática a outros países especialmente aqueles que podem contribuir para ajudar a China nesse seu propósito de dominação pela força da sua economia.

As próximas cimeiras da APEC e do G-20 são mais dois passos na verificação do domínio chinês e da forma como esse domínio no sector financeiro é a "salvação" das economias mundiais em crise no ocidente. Essa mesma foi já a expectativa da cimeira dos Ministros das Finanças da APEC reunidos esta semana em Kyoto.

Vários países ainda têm dúvidas sobre acreditarem ou não no crescente poderio chinês, Brasil incluído, mas aqueles têm a paciência necessária para esperar e continuar a sua política de suavemente tomarem posições nos vários fora mundiais.

O Fundo Monetário Internacional na sua reunião de Sexta-feira passada colocou a China como a terceira voz mais importante no seu Conselho, depois dos EEUU e do Japão.

O governo chinês soube durante a crise económica dos últimos 18 meses, e que ainda subsiste em parte, impulsionar a procura interna de tal forma que mostrou ao mundo que o facto de a procura externa ter decaído, devido aos problemas no ocidente, não era um impeditivo para o desenvolvimento da economia na China e que este país pode ser o motor da recuperação. A permanente batalha entre os EEUU e a China sobre o valor do Yuan, acaba sempre por ser ganha pela China que abre um pouco a gaveta quando quer e a fecha no momento seguinte. Mesmo as questões dos direitos humanos (exemplo o recente Nobel atribuído ao activista Chinês Liu Xiaobo), não conseguem criar obstáculos na progressão ao mesmo tempo suave e firme dos avanços do "império amarelo".

A visita de Hu a Portugal e os grandes ecos feitos sobre ela não podem deixar de ser desassociados da próxima presença de Portugal no Conselho de Segurança das Nações Unidas e da estratégia global da China em aproximar-se do Mundo de língua portuguesa (Brasil e Angola especialmente) devido aos seus recursos naturais, tão necessários para o apoio do crescimento económico chinês. A China através de imensos mecanismos, financeiros e económicos, tem hoje uma presença forte e determinante nos dois referidos países. Em 2004 quando Angola estava num momento de grave crise financeira foi o governo da China que avançou com dois pacotes de 10 mil milhões de dólares cada que foram usados como um balão de oxigénio para a nação africana. Nesse momento o país já não conseguia dar garantias para os empréstimos externos e a China soube contornar esse problema para em vez de pedir petróleo pedir o desenvolvimento das infra-estruturas que hoje estão a ser feitas por empresas chinesas em Angola. A China é de um pragmatismo que não tem comparação com a mentalidade ocidental e dessa forma, que apelidei atrás de suave e firme, vão avançando e conquistando as posições, quer nos países quer nas organizações internacionais, que lhes darão de mão beijada a liderança a curto prazo do curso da história do nosso planeta.

Será bom, será mau? O tempo o dirá mas o facto é quem ignorar esta realidade está de olhos e ouvidos tapados e é por certo cego.

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