quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Ataque à Mesquita

Anteontem, dia 8 de Junho, um número ainda não identificado de atiradores (2-5) entrou numa mesquita em Cho Airong na Província de Narathiwat, sul de Tailândia e matou pelo menos 12 pessoas ferindo ainda outros tantos quando dispararam indiscriminadamente sobre os crentes que assistiam a um serviço religioso.

As três províncias mais ao Sul no país, Narathiwat, Yala e Pattani, são palco de permanentes incidentes violentos, especialmente desde 2004, e já morreram mais de 4.000 pessoas quer em atentados quer em confrontações entre as forças militares e militarizadas e grupos de rebeldes que lutam por um modo de vida diferente, uns e por questões autonómicas, outros. As três províncias são maioritariamente Muçulmanas, cultural e etnicamente muito próximas da Malásia e desde os tempos do colonialismo inglês no Sul. Também a confrontação das forças da ordem e as populações, como o recentemente relatado caso de Tak Bai, tem sido uma das causas não só de mortes mas também da fúria das populações.

Os sucessivos governos posteriores a Thaksin sempre anunciaram intenções de resolver o conflito pela via do diálogo e da integração da minoria budista nos costumes muçulmanos no Sul e dos muçulmanos no geral do pais, mas a oposição permanente dos militares tem sido um obstáculo para tal. Abhisit quando chegou ao poder uma das medidas que anunciou foi a intenção de desmilitarizar o Sul e de criar uma agência civil com coordenação de toda a gestão das questões tendentes a uma melhor integração das sociedades, mas nunca tal conseguiu sair do papel do programa do Governo e das suas boas intenções.

Desde o dia 5 de Junho 19 pessoas morreram na região onde se deu o ataque à Mesquita e mais de 40 ficaram feridas algumas com gravidade. Estes ataques atingem as comunidades muçulmanas e budistas de igual forma e cada vez mais são um desafio entre o Estado em Bangkok e aqueles que no Sul lutam por uma forma diferente de entender as diferenças sociais, étnicas e religiosas. Por detrás disto começam a aparecer alguns sinais do fundamentalismo islâmico que até há pouco tempo estava fundamentalmente ausente no conflito. É sabido que parte de juventude local vai frequentar madrassas no Paquistão e Afeganistão e isso não são sinais positivos para o futuro de um diálogo que se pretende poder vir a existir em breve.

A Tailândia nunca quis “internacionalizar” o conflito tentando mantê-lo sempre dentro das suas fronteiras e as deslocações de diplomatas ao Sul do país deverão ser sempre feitas com prévia autorização do Ministério dos Negócios Estrangeiros mas a falta de um avanço no encontrar de soluções vai pondo em questão essa política de isolamento.

Abhisit com a decisão de Tak Bai e com o incremento dos ataques fica cada vez mais dependente daqueles que ele se queria ver livre ou seja dos comandos militares que, ao abrigo de entenderem existir um estado de conflito permanente na região, obtêm uma lei marcial e um decreto de estado de emergência que lhes permite actuar a seu bel-prazer e sem escrutínio, como se viu na sentença do caso Tak Bai. O controlo de todo o tipo de tráfico que é feito na fronteira com a Malásia é por demais importante para que os grupos que aí actuam, a coberto das autoridades, deixem que os políticos de Bangkok se intrometam nas suas actividades.

Assim vai um conflito sem fim à vista e no qual o grosso das populações só quer é encontrar uma forma de viver a sua cultura e a sua religião ao lado dos outros que são diferentes, mas irmãos.

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