sexta-feira, 4 de junho de 2010

Política Partidária


A actual coligação no poder detém 275 lugares no Parlamento o que lhe dá uma confortável maioria.

O parlamento tem 480 Deputados mas actualmente só 475 Deputados estão ocupando os seus lugares. Há 5 lugares que não estão preenchidos devido ao facto de os membros eleitos em eleições intercalares ainda não terem visto os seus mandados confirmados pela Comissão Nacional de Eleições.

Uma maioria é portanto constituída actualmente por 238 Deputados.

Mesmo que o governo venha a expulsar da coligação todos os Deputados do Puea Pandin (PP) ainda fica com uma pequena maioria de 243 lugares no Parlamento e poderão sempre tentar obter apoios pontuais nos dois pequenos partidos que não se encontram coligados com ninguém e que representam 9 deputados. Contudo há que ter em conta que o presidente do Parlamento nunca vota (ele faz parte da coligação como membro do BhumJai Thai -BJT) e que em algumas questões os Ministros não podem votar visto haver conflito de interesses. Há também que lembrar que a próxima sessão parlamentar é uma sessão legislativa que não permite nenhuma Moção de censura o que descansa o governo.

Hoje os Democratas irão decidir o conflito que irrompeu após a votação da Moção de Censura quando os deputados do PP votaram contra os Ministros do BJT o que levou mais tarde este partido ter colocado um ultimato a Abhisit para que escolhesse com qual partido queria continuar. Com os dois é que não seria possível.

Suthep, Abhisit e Nevin

As negociações têm sido conduzidas por Suthep, o eterno negociador nos bastidores e parece, segundo todos os relatos que vão aparecendo e mesmo alguns sinais, de que o sacrificado será o PP. No editorial de hoje o Post Today, o jornal de língua tailandesa do grupo Post, apela ao PM para que nomeie ministros competentes para o novo gabinete afirmando: "valerá mais a pena dissolver o parlamento do que deixar os corruptos pilhar o país á vontade".

Nevin Chidchob o homem por detrás do BJT foi elemento que crucial na formação desta coligação e continua a ser tido por alguém indispensável para que este governo continue a manter-se vivo. Não são só os 33 deputados que controla mas o seu poder negocial em várias frentes, poder que aprendeu com Thaksin o seu "boss" como lhe chamou no momento da ruptura. Atrás de Nevin anda muitos milhões de milhões de bath sempre a circular e ele é o único capaz de fazer frente a Thaksin nesse domínio. Por outro lado com a sua capacidade de "mudar de cor" é sempre um candidato a virar-se para outro lado pondo em risco a estabilidade do governo e de Abhisit. Um dos sinais claros foi a atribuição ontem de mais um enorme projecto público, a extensão de uma das linhas do metro de superfície, à empresa Sino-Thai detida pela família do actual Ministro do Interior e presidente (de fachada) do BJT. Também há dois dias a empresa King Power, concessionária das lojas francas dos aeroportos geridos pela empresa pública AOT, viu renovada a sua concessão. Vichai, o dono do King Power, é o outro grande financiador do BJT e Nevin tem na sede da empresa o seu gabinete de trabalho.

Desde que Nevin se aliou com os Democratas e com o seu inimigo-amigo Suthep (nos anos 90 foi Nevin que fez com que Suthep tivesse que se demitir do governo quando o acusou de corrupção) que os negócios dos seus "protegidos" voltou a brilhar conquistando estes a fatia de leão de importantes contratos.

Suthep com Ramongrak - PP

Contudo, como já referi anteriormente, dispensar por completo o PP não parece ser uma solução aceitável e o que se está a preparar é, mesmo com o custo de a coligação perder alguns deputados, deixar cair somente os Deputados que votaram contra os ministros do BJT, mantendo assim no governo pelo menos um ministro na quota do PP. A mais que provável vítima vai ser a Ministra da Informação e Tecnologia, Ramongrak, acima na fotografia com Suthep nos bons dias do passado.

Isto tem também a ver com a mais que possível remodelação do governo que está em preparação em conjunto e que por si só voltou a desencadear algumas guerras dentro do partido Democrata pois há duas facções, que já se mostraram descontentes em anteriores momentos por não verem os seus membros beneficiados, que estão atentas ás oportunidades actuais.

Neste momento há uma caça ao lugar não só os dos potenciais membros dos democratas remodeláveis como aos do PP que possam vir a sair. O que parece claro é que o BJT venha a sair reforçado desta mini turbulência com um rearranjo favorável para eles das pastas ministeriais. O BJT tem actualmente 3 ministros (economia, interior e obras publicas) enquanto o PP, que só tem menos 1 Deputado tem 2 ministérios (informação e tecnologia e indústria). O BJT parece interessado em largar a economia trocando pelos recursos naturais muito mais de acordo com os seus interesses de trabalhar projectos junto das comunidades locais que possam consolidar a posição do partido em futuras eleições. Com o ministério do interior controlam toda a máquina eleitoral e todas as províncias (os governadores são nomeados pelo ministro) e com o das obras públicas asseguram os fundos necessários para o financiamento eleitoral. O ministério da economia está fundamentalmente focado nos aspectos do comércio internacional o que não permite a Nevin & Co acrescentar muito na sua estratégia de ser um partido que tenha um substancial crescimento em próximas eleições.

O sistema político partidário tailandês não assenta em questões ideológicas ou de grandes objectivos para o país mas sim em interesses monetários e no caciquismo dos grandes senhores locais. Quem melhor do que ninguém isto entendeu foi Thaksin quando em 2001, depois de ter lançado o Thai Rak Thai analisou o que tinha de fazer para ganhar as próximas eleições e basicamente "comprou" todos esses barões locais (entre os quais veio Nevin) para juntar naquele partido todo os caciques capazes de lhe darem as maiorias absolutas que conquistou posterioemente.

Assim se faz política partidária por aqui. Será muito diferente de outros locais no Mundo?

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