sábado, 8 de maio de 2010

Silom

Ontem à noite percorri a maior parte de Silom no regresso de um jantar no hotel Sofitel.

Tinha decidido não levar o carro e por isso fiz o percurso a pé.

Enquanto andava estava a pensar que Silom tinha pouco a pouco regressado à normalidade numa nova mistura estranha.

Tinham regressado os vendedores de rua, com saliência para o mercado de Patpong que estava de novo a funcionar, embora áquela hora, 10.15 da noite, se preparava para ir fechar mais cedo, segundo me disseram.

Para além das tendas de rua vendendo um pouco de tudo, especialemnte artigos contrafeitos, havia os habituais angariadores de incautos, meninas e meninos vendedo os seus atributos, bêbados e outros nem tanto mas à procura de uma cerveja, os bares de diversão mais compostos de pessoas, mais lojas abertas, enfim um retorno à normalidade de uma das ruas mais movimentadas, iluminadas e animadas desta capital.

Tudo isto no meio do arame farpado e de centenas de militares e policias que patrulhavam a rua e faziam vários controlos das viaturas que passavam.

Os tailandeses, muito à semelhança dos portugueses, acomodam-se a novas realidades com enorme facilidade e a vida estava a ressurgir.

Eis senão quando alguém que não concorda com isso resolve estragar “a festa” que é esta rua verdadeiro cartaz da animação de Bangkok.

Primeiro um ataque a tiro a um conjunto de policies e soldados por um homem que passava numa moto. Os disparos causaram ferimentos em 3 policias e 2 transeuntes do qual resultou a morte de um Capitão da Polícia que não resistiu aos ferimentos no estômago. Isto aconteceu por volta das 10.45 perto do cruzamento de Silom com Saladaeng.

Quando cheguei a esse ponto da rua, sem nada saber do acontecido, já que por ali tinha de passar para ir para a minha rua, Saladaeng, verifiquei que as lojas tinham fechado na sua maíoria , ao contrário da zona de Patpong, e que o número de forças estava a aumentar com a chegada de mais policias.

Pouco menos de 3 horas mais tarde, do outro lado da Rama IV, na intersecção do acampamento vermelho, outro ataque ocorreu, presume-se que desta vez à granada, causando mais 8 feridos, 5 polícias e 3 soldados, sendo que um dos policias viria a falecer já no hospital.

Num momento em que se pensava que a calma estava de regresso a Bangkok, voltou a violência, na sua pior e mais cobarde forma, com os ataques a forças militares e da ordem, em zonas repletas de civis.

Quem continua esta onda de ataques é um claro inimigo de qualquer tipo de solução para os destinos deste país.

Está contra qualquer plano seja ele de quem for para se conseguir a reconciliação e o único objectivo é provocar o caos e apelar, como o fizeram os amarelos à tarde, à imposição da Lei Marcial e à intervenção dos militares suprimindo todos os direitos e liberdades.

Da mesma forma como acontece no Sul do país, onde ocorrem, quase que diáriamente, como esta manhã em Yala, explosões mais ou menos violentas, também em Bangkok isso vem acontecendo desde o inicio dos protestos da UDD e nunca, mesmo nunca ninguém é identificado e acusado como autor.

A única coisa que acontece são comentários para a imprensa, para servir facções políticas, acusando este e aquele, mas não identificando os verdadeiros criminosos, inimigos declarados deste país, que atentam contra as vidas das pessoas diáriamente.

O falhanço e a ineficácia de qualquer tipo de investigação criminal (casos importantes: Somchai Neelapaijit, Takbai, Aeroporto, Santika, Pattaya, etc) é um incentivo para os criminosos continuarem a actuar livremente e a fazerem correr sangue trazendo o caos a este país.

Ontem, com o clima de alguma acalmia que se vivia vários países tinham descido o nível dos seus alertas aos viajantes para a Tailândia. Hoje por certo irá de novo subir.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Últimas

Quem disse que a política neste país não é imprevisível está enganado.

Acabei de escrever o post anterior quando recebo a notícia de que a UDD anunciou que sairá de Rajaprasong no dia 10 de Maio, próxima Segunda-feira, depois de cerimónias religiosas pelos mortos dos acontecimentos sangrentos de 10 de Abril.

Mas como não há bela sem senão o PAD, ao mesmo tempo, apela aos militares para que decretem a Lei Marcial e expulsem os vermelhos do local de concentração.

Que se cumpra a promessa da UDD.

Pois é! As divisões no seio da UDD já fizeram recuar este declaração pois agora diz-se que se apoia o plano do PM mas quanto ao momento de sair de Rajaprasong voltamos á incógnita.


...e ainda Não há Luz

Começo a pensar que o meu amigo, professor universitário que outro dia me dizia que isto estaria para durar estava com razão.

Talvez eu seja optimista em demasia ou que continue, como a maioria dos estrangeiros, a ter os óculos pouco focados para a ténue imagem do que é a política na Tailândia.

A ocupação da zona de Rajaprasong continua. Hoje as barricadas junto ao meu escritório foram inclusive reforçadas em altura. Também ao chegar ao escritório deparei com uma força da polícia que hoje aqui resolveu estabelecer uma das suas bases. A UDD fez também saber que mais manifestantes estão a caminho de Bangkok com a maior caravana a vir de Khon Kaen, a mais importante cidade da zona norte do Nordeste tailandês.

Abhisit tem continuado a sua ronda de conversas com os vários movimentos e as reacções não terão sido as que ele esperava.

O PAD recusa por completo a ideia de uma qualquer negociação com a UDD e continua a requerer que o governo faça avançar o exército para desalojar os manifestantes.

O movimento dos "multi cor" é menos radical mas entende que as eleições não deverão ser realizadas este ano mas sim no próximo ano, mais perto daquilo que era a proposta inicial do governo. Enfim, os dois movimentos entendem de um modo mais ou menos suave que Abhisit está a vergar aos pedidos da UDD.

Mesmo o seu partido não consegue ter uma unanimidade sobre o apoio a dar ao seu Secretário-geral embora já tivesse aprovado esse apoio. O desacordo, publicamente expresso, de Chuan Leekpai, o mais sénior dos elementos do partido, ex PM e tido como o pai político de Abhisit, é desconfortável.

Com o devido respeito, entendo que Abhisit não seguiu o melhor caminho ao dar demasiada atenção a entidades que são, como os vermelhos, movimentos de rua.

Se tivesse privilegiado os partidos políticos como os legítimos representantes do sistema político e não os movimentos fora do sistema teria ganho na sua postura de homem de estado e evitaria a constante cobertura e relevo que a estes a comunicação social dá.

O ambiente está calmo mas longe de se poder ver onde está a tal luz no fundo do túnel que todos desejam.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ao 55º Dia


O dia tem sido pródigo em mensagens enviadas de um lado para o outro através dos meios de comunicação social.

Estamos no rescaldo do anúncio do plano do Primeiro-ministro e vão-se definindo as posições dos variados grupos ao mesmo tempo que parece ter já começado a campanha eleitoral já que começaram a entrar em jogo os, até agora calados, Deputados dos vários partidos.

Dos quatro pontos da resposta da UDD o PM respondeu já ao primeiro anunciando que o dissolução do Parlamento será levada a cabo entre o dia 14 e o dia 30 de Setembro de modo a que se possam cumprir os prazos legais para a realização das eleições a 14 de Novembro. A UDD anunciou aceitar essa data

Falta agora a resposta ao ponto numero dois e é sobre este que tem havido mais trocas de mensagens, com ameaças do governo e da UDD. O levantamento do estado de emergência parece ser o sinal de que a UDD espera mas hoje um jornal de língua tailandesa referia que todos os manifestantes serão fotografados para posteriormente serem interrogados pelo exército! Sim o jornal referia o exército o que só podia acontecer no caso de imposição de Lei Marcial.

São estas mensagens de parte a parte que vão preenchendo o dia onde cada parte vai tentando marcar posições.

Entretanto o PAD já se mostrou frontalmente contra a proposta de Abhisit já que para o movimento amarelo ela é uma capitulação aos vermelhos. Também um número significativo, 32%, de votantes no Partido Democrata acusou o PM de fraqueza.

Abhisit reúne-se neste momento com o PAD presumivelmente tentando presuadir este movimento dos mediatos da sua proposta.

Do lado da UDD há festejos. No parque Lumpini houve durante mais de meia hora, foguetes por certo celebrando algo. Na Delegação até nos sentimos desprezados pois convivemos com eles todos os dias e não fomos convidados para a festa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Wan Chattra Mongkhon

Hoje, como já referi, celebram-se 60 anos que o actual monarca foi coroado como o nono rei da dinastia Chakrit.

Rama IX deixou o hospital, onde se encontra há quase 8 meses, para na companhia de sua mulher e de outros membros da família real presidir a uma cerimónia religiosa no Amarin Vinijchai Throne Hall no Grande Palácio adjacente ao templo do Buda Esmeralda.

A cerimónia durou cerca de 1.45 minutos e foi transmitida por todas as televisões retardada de cerca de 20 minutos de modo a cortar alguns momentos de espera e de acomodação dos presentes bem como da organização dos preparativos.

O Rei, sempre acompanhado pela Rainha, mostrava-se alegre, um ligeiro sorriso aparecia nos seus olhos, e acenava repetidamente à grande multidão que o acolheu nas ruas.

Presentes para além dos membros mais próximos da família real, os altos dignatários do estado e das forças militares e ainda, em posição de destaque na primeira fila, dois antigos Primeiro-ministros, Anand e Banharn. A ausência dos outros três PMs vivos, para além do "impossível e indesejável" Thaksin, Chuean, Chavalit e Somchai notava-se.

A Procisssão ainda vai no Adro

Para todos os que acreditam numa vitória sem obstáculos do PM Abhisit recomendo a leitura deste artigo de opinião publicado hoje no Bangkok Post por Wassana Nanuam, a principal especialista em questões militares neste país.

Já há dois dias que tinha escrito que quando Abhisit avançou com o "roadmap" para a reconciliação, como é conhecido o plano do PM, o fez depois de na reunião de Domingo que se seguiu ao conselho de ministros, os militares se terem recusado, uma vez mais, a executarem as suas ordens para ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes de Rajaprasong.

Os comandos militares, incluíndo o Ministro da Defesa Prawit, embora possam ter algumas divergências de opinião, sabem bem que avançar sobre a multidão não é uma solução para o país. Anupong vem repetindo isso mesmo há quase três anos e a última vez que o fez em directo foi no dia 12 de Abril.

Uma operação que desaloje a UDD, e faço lembrar aos que têm dificuldade em utilizar este nome que ele é o oficialmente usado em todos os documentos do Minsitério dos Negócios Estrangeiros, é uma operação fácil que foi muitas vezes foi ensaiada. Com mais ou menos perdas de vida ela faz-se e os vermelhos são desalojados. Mas o que é que se passará no "dia seguinte"?

Como vai ser o país no dia a seguir a essa operação? Qual é a solução que o Governo teria para esse evento? Ao que levaria a, ainda maior, divisão nas famílias, nas empresas, nas escolas em todo o país?

São estas algumas das perguntas, para além de algumas preocupações, que os militares sempre têm tido na cabeça.

A presente crise chegou a um ponto tal em que não haveria mais a possibilidade de haver vencedores. Nem Abhisit, nem a UDD e muito menos o país. Todos perderam e quem pode acabar por ganhar serão os militares pela sua capacidade de forçar uma trégua e uma solução no quadro político, apesar das feridas sofridas como a morte do Coronel Romklao, que marcou definitivamente e profundamente o sector e o palácio. Uma corporação como o exército não vê partir um dos seus filhos predilectos sem grande dôr e isso foi um factor determinante.

A crise na socieade é por demasiado complexa para que alguém possa sair vitorioso de uma batalha que está muito longe do fim.

Isso viu-se à poucos momentos na intervista que o PM deu, esta manhã, á imprensa estrangeira através da estação estatal NBT onde era notória a sua intranquilidade e a dificuldade em rsponder ás perguntas. Abhisit nunca saiu do discurso pré estudado, tal como em Portugal se acusava Alvaro Cunhal de usar uma cassete para nunca fugir aos seus dogmas e ao script.

Ontem um amigo meu, conhecido professor de ciência política de uma das principais universidades de Bangkok telefonou-me e dizia-me "Khun Nuno, isto ainda está longe de estar acabado". Tem razão mas pelo menos eu acredito que vamos ter tréguas por algum tempo.

Contudo as feridas na sociedade são tão profundas que não há medicamento que as possa sarar neste momento. Ainda ontem isso ficou demonstrado á saciedade numa reunião em que participei no Senado. Das bocas dos vários Senadores que conosco estiveram durante 2 horas, saiu ódio e amor, desprezo e compreensão, "amareladas" e "vermelhadas", frases cegas e outras cheias de visão numa demonstração das dificuldades que se colocam a esta sociedade.

O PAD, o movimento também radical dos amarelos, já veio dizer, através do seu porta-voz, que o plano de Abhisit é uma forma para encontrar uma saída para Abhisit e para a UDD mas que não resolve os problemas do país.

Como muitos, talvez a maioria que consegue ver sem ser usando óculos alheios, tenho esperança, até porque este país está cansado e necessita de repouso, de que a trégua que por certo se vai seguir ajudará a desanuviar tensões mas não se iludam os crentes.

A procissão ainda vai no adro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A Resposta da UDD

Através de Veera Musikapong a UDD acaba de anunciar a sua resposta á proposta do PM Abhisit Vejjajiva.

Veera afirmou.

A Direcção da UDD aprovou por unanimidade aceitar a proposta do Governo para tomar parte num processo de reconciliação nacional devido a 2 razões: 1) a reconciliação nacional faz parte e está em linha com o projecto da UDD 2) de forma a evitar mais derramamento de sangue.

Contudo a UDD requer a Abhisit a clarificação de várias questões a saber.

A definição da data das eleições não é uma competência do governo mas da Comissão Nacional de Eleições. Quer então a UDD saber quando vai o PM dissolver o Parlamento, essa sim uma competência sua.

A UDD requer uma prova real da sinceridade do governo em querer acabar com todas as ameaças.

A UDD afirma não requerer nenhuma amnistia no que respeita as acusações de que os seus líderes são terroristas e promovem um movimento anti-monarquia pois querem fazer a sua defesa em tribunal.

Por fim a UDD afirma que o Governo deve parar de envolver a monarquia em questões políticas.

Como em relação á proposta de Abhisit faltam agora as acções mas louve-se a clareza das posições da UDD e o facto de não se quererem esconder debaixo de nenhuma amnistia que cheiraria sempre a vergar a um qualquer acordo feito por debaixo da mesa.

Ramos-Horta sobre a Proposta

O actual presidente de Timor-Leste e prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, esteve recentemente em Bangkok numa visita de três dias.

Ramos-Horta preparou bem a visita antes de chegar pois foi uma das vozes que se fez ouvir sobre uma possível mediação para o conflito tailandês. A visita tinha na agenda outros pontos, como os interesses da PTT na exploração de petróleo em Timor, mas com a sua habilidade política conseguiu criar algum eco para a sua intenção de aparecer como uma voz no meio do conflito.

Falou lembrando a sua qualidade de Nobel da Paz e de homem de consensos e conseguiu ter o eco da comunicação social.

Timor-leste é candidato a ser o 11º estado membro da ASEAN e no ano passado visitou Bangkok, na altura em que a Tailândia era o presidente em exercício da associação, para garantir o apoio. Agora tentou ganhar posicionamento político quer no sue país quer no seio da ASEAN visto que tudo isto aconteceu no mesmo momento em que outros países, Camboja, Filipinas e Indonésia estavam a diligenciar junto do secretário-geral, Surin Pitswan, a convocação de uma reunião a nível de ministro, para discutir a situação na Tailândia.

Isso levou mesmo o Ministro Kasit a Jakarta para falar com o seu colega Indonésio e com Surin para dissipar essa ideia onde aproveitou também para falar contra as interferências na política interna da comunidade diplomática sediada em Bangkok, facto que o levou na semana passada a acusar "um grupo de diplomatas" de disseminar falsa informação sobre a família real entre outras acusações.

Ramos-Horta conseguiu a sua "caixa jornalística" e chegado agora a Díli fez emitir um comunicado á imprensa onde se congratula pelo programa de reconciliação apresentado por Abhisit.

Afirma-se nesse comunicado que "fiquei ciente, depois do meu encontro com o PM, que este estava determinado a encontrar uma saída para a crise". Ramos-Horta coloca-se assim no meio da situação afirmando ter discutido o assunto com Abhisit. Para que não "caia" para um lado acaba o comunicado por felicitar Abhisit pela sua serenidade e firmeza e também os Camisas Vermelhas (Red Shirts no texto) pela bravura e contenção da sua luta.

A Proposta de Abhisit (2)

Ainda não são conhecidas todas as reacções à proposta ontem avançada pelo Primeiro-ministro mas há alguns dados que parecem seguros.

Antes disso diga-se que a direcção da UDD está neste momento reunida e decidirá sobre a proposta, presumívelmente ainda hoje, havendo rumores de que a irá aceitar e que a manifestação poderá terminar amanhã. Chaturong Chaisang, ex líder do partido Thai Rak Thai, e um político bastante influente da área thaksinista, já anunciou o seu apoio à iniciativa da Abhisit.

O que é adquirido são os seguintes pontos.

Tem havido intensas negociações entre o governo e a UDD nos últimos dias. São demasiadas as fontes a afirmar tal para que não seja verdade. Uma amnistia estará em discussão mas uma amnistia que envolva não só os líderes vermelhos mas também outros políticos afastados aquando das dissoluções dos partidos políticos. Chaturong é tido como sendo um dos elementos cruciais nas negociações. A data proposta pelo governo, 14 de Novembro, implica a dissolução do Parlamento até meados de Setembro o que permitirá apresentar ao Rei o decreto de nomeação do novo Chefe do Estado Maior do exército, uma questão que está sempre no topo das preocupações políticas no país. O que há é alguma incerteza quanto á possibilidade de fazer aprovar o orçamento (o ano fiscal tailandês começa também a 1 de Outubro) mas o país poderá fácilmente funcionar em duodécimos até Fevereiro de 2011.

Também parece ter ficado claro que esta é a única (última) proposta e que se não for aceite a força será usada ou por Anupong ou por quem o substituir.

Entretanto a direcção do Hospital de Chulalongkorn anuncicou a reabertura de todos os serviços a partir de Quinta-feira!

Esperemos então pela resposta da UDD e façamos votos para que a partir de amanhã, dia em que se comemoram 60 anos da coroação do Rei Rama IX (Wan Chattra Mongkhon), e também um mês sobre a ocupação de Rajaprasong, comecem os trabalhos de devolver à normalidade o centro de Bangkok.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Proposta de Abhisit


O PM Abhisit acabou por apresentar uma proposta para a solução da crise.

Ao fim de 7 semanas e 3 dias de manifestação e depois de todos os prejuízos humanos, materiais e financeiros aparece, da parte do governo, uma proposta para a solução para a crise.

A proposta de Abhisit vem depois de nas reuniões de ontem o PM ter ficado ciente de que o exército não avançará para nenhuma acção de desalojamento dos vermelhos através da força.

Anupong sempre se mostrou avesso a uma solução que não fosse política e depois de não ter sido imposta a Lei Marcial, que lhe daria protecção legal, ficou claro que não seria possível ele ordenar o ataque.

A proposta de Abhisit avança com uma data para eleições, 14 de Novembro, desde que todas as partes acordem num conjunto de cinco pontos prévios, a saber:
  1. O respeito pela monarquia
  2. Reforma nacional que resolva as injustiças sociais e económicas
  3. Garantia de uma comunicação social livre mas responsável
  4. Investigação sobre os incidentes do dia 10 de abril e da invasão do Hospital de Chulalongkorn
  5. Revisão da Constituição de modo a que seja aceite por todas as partes
Ou a tradução em inglês a que tive acesso está curta em explicações, e por isso reservo-me para ver o texto original em tailandês, ou a proposta de Abhisit nada mais é do que uma cortina de fumo que lhe permitiu atirar a bola para Rajaprasong.

O respeito pela monarquia deve ser vivido ou imposto? Quem é que determina quais são as injustiças, é este o termo da tradução, que devem ser reparadas? O governo tem sempre dito que a comunicação social é livre, embora tenha encerrado centenas de rádios, websites, bloqueado páginas de Facebook, encerrado uma Televisão, etc, por isso o que é que vai mudar?

A investigação vai ser independente, ou como antes quando no dia 11 foi dito aos diplomatas que era independente para três dias depois ter sido atribuída à polícia? Como vai ser obtido o consenso para saber quais os artigos da Constituição a alterar, em três meses, se até agora, ou seja 16 meses, isso não foi possível apesar das propostas de variados partidos?

As respostas a estes e outros pontos é importante para melhor se entender o alcance da proposta mas contudo é de saudar esse passo do PM no mesmo dia em que mandou avançar sobre a capital blindados destinados a desalojar os manifestantes.

Outra questão que o PM não esclareceu. O que pretende dos manifestantes e que garantias lhes dá ? Que abandonem os locais que ocupam e que entreguem os líderes do movimento?

O PM não disse uma só palavra sobre as pessoas, ainda são uns milhares que se encontram na rua, nem o que pretende que aconteça com elas.

Entretanto Silom continua triste, cheia de tropas, cada vez menos lojas abertas e até os manifestantes contra os vermelhos são poucos. Hoje eram 8. Exactamente 8, um número muito fácil de contar, mas faziam barulho visto estarem munidos de uma altifalante portátil.

Aguardemos por amanhã para ver as reacções das várias partes e tentar entender melhor o que Abhisit quer para além de manter a bola em jogo.

A Guerra e Paz


O CRES, Centre for Resolution of the Emergency Situation, que na verdade ainda não resolveu nada, continua a emitir comunicados, e por ter a honra de estar na lista de distribuição deles recebo, mas confesso que fico confuso tantas são as mensagens contraditórias que são transmitidas. Não se pode tratar de enganos de tradução visto eu receber, como a maioria da imprensa estrangeira, a versão em inglês dos comunicados.

Esta manhã anunciava o CRES que o PM Abhisit tinha anunciado no conselho de ministros de ontem um plano para a resolução da presente crise e que tal plano, que é apelidado de reconciliação nacional, seria anunciado em 48 horas.

Há pouco o CRES emitiu mais um comunicado. Afirma nele que Blindados do estão preparados para avançar para Bangkok para dispersar a manifestação em Rajaprasong.

Será este o plano de reconciliação?

Este avança e recua tem sido uma constante da situação em Bangkok.

Ontem á noite saí de casa para ir jantar por perto da praça do Monumento à Vitória. A minha casa fica muito perto de Lumpini (intersecção de Silom com Rama IV que tem estado muito em foco). Ao chegar a Rama IV deparo com um grande movimento de militares, em equipamento de combate e com veículos que estavam a montar uma barreira no sentido este-oeste da rua. Tive de utilizar uma ponte para continuar e depois desta havia igualmente grande número de militares fazendo exactamente o mesmo na faixa do outro lado da avenida.

Até ao local onde jantei e no regresso vi imensas tropas e vários controlos a veículos.

Tudo indicava que o exército estaria a preparar uma ofensiva. Inclusive na minha rua, normalmente ocupada pela polícia, estes tinham sido substituídos pelo exército.

Ontem à noite estávamos claramente num clima de guerra.

Hoje, esta manhã, era a paz. Nem vestígios de um soldado.

Chulalongkorn Hospital

Há dois dias falei da deplorável invasão do hospital Chulalongkorn pelos vermelhos e da história que estava por detrás da acção. O receio que os vermelhos tinham de que o hospital estivesse a ser utilizado para infiltrar soldados para atacar o acampamento deles.

Qualquer hospital, mesmo em tempo de guerra, é terreno neutro e este ainda por cima é gerido pela Cruz Vermelha Internacional o que acrescenta algo a essa qualificação.

O acto dos vermelhos excedeu todas as regras de boa conduta pois o que lhes tinha sido autorizado era procederem a uma busca por certo sem perturbar o funcionamento dos serviços e muito menos os doentes ou causar algum pânico entre os presentes. Tudo errado e acabaram por receber a devida condenação pela acção selvagem.

O Governo e as forças aliadas, imprensa e alguns grupos de pressão, utilizaram o acontecimento para ampliar o que aconteceu e ganharem os dividendos emocionais e políticos daquela acção.

Vieram agora a público, em jornais de língua tailandesa, imagens que provam ter havido, não se sabe quando, dentro do hospital, soldados armado e preparados para a acção. Não me parece que estejam em posição de defender o estabelecimento e os doentes. Também condenável.

Note-se que um dos soldados usa sapatilhas cor-de-rosa, as mesmas que são usadas pelos doentes de Chula. Os outros estão á entrada da Emergência.

A mediatização actual acaba por fazer que quase nada passe despercebido a pelo menos um câmara indiscreta.

Mas a história, infelizmente, não acaba aqui.

Na Terça-feira, portanto dois dias antes da invasão, o director do Hospital já tinha decidido, e posto em prática, a evacuação dos doentes de um dos dois edifícios que fazem parte do complexo.

Na noite seguinte, uma parte do batalhão de soldados aquartelados em Suriwongse, na parte oeste do Hospital, num número calculado em cerca de 400, entraram nos terrenos do hospital por Rama IV, acompanhados por alguns civis com camisas azuis (os famosos homens de Nevin?), enquanto no passeio oposto um pequeno grupo de amarelos distraia os vermelhos gritando abusos contra eles enquanto acenavam com bandeiras do Rei.

Mais tarde os soldados foram descobertos pelos vermelhos, e retiraram para Silom, atravessando a rua e disparando 12 rajadas de metralhadora para o ar. Entretanto não havia luz nos edifícios do Hospital.

Os vermelhos requeram investigar o local com medo de que houvesse mais soldados o que foi autorizado pelo Director e acordado com a liderança da UDD.

Só que aí tudo correu mal.

A vermelhada actuou como uma turba desordenada e violenta e a direcção do Hospital enganou a liderança da UDD pois deu entrada á multidão vermelha para o edifício que estava com doentes e não para o outro que já estava evacuado e que era o alvo da pesquiza.

Depois seguiu-se toda a produção mediática mostrando o Supremo Patriarca a ser transportado e alguns doentes entubados a passearem pelos jardins do Hospital. Que seja conhecido nenhum hospital transporta os seus doentes de e para ambulâncias através dos jardins das suas instalações. As entradas das urgências estão preparadas para isso.

Parece claro que houve uma grossa violação pelos vermelhos das regras de conduta e abusiva dos direitos humanos e que houve por parte da direcção hospitalar um verdadeiro plano, extrememente bem organizado, para provocar e explorar toda a situação.

Triste usarem-se pessoas que necessitam de atenção e cuidados, mais do que quaisquer outras, para fins políticos sejam eles quais forem.

domingo, 2 de maio de 2010

Ordens são para Cumprir?




Ontem às 12.00 o CRES ordenou à polícia que desalojasse os vermelhos da intersecção de Rama IV de modo a que fosse possível haver acesso ao Hospital Chulalongkorn. A mensagem era muito clara e dizia que se não conseguissem pressuadir a UDD a retroceder cerca de 150/200 metros até à intersecção de Sarasin, no canto noroeste do parque Lumpini, a força deveria ser usada.

Enfim os vermelhos teriam de sair a qualquer preço e o Vice Suthep ainda fez notar que se a acção falhasse tomaria acção contra a polícia e os agentes "culpados" poderiam procurar outro trabalho (sic).

Como sempre tem acontecido, nada aconteceu, ou seja a ordem não foi acatada e os vermelhos acabaram por, em vez de retirar os tais 150/200 metros, abrir um corredor, por entre a barricada, para que houvesse acesso ao hospital. Ainda se deram ao luxo de avisar que o tinham feito depois de Thaksin ter telefonado para dizer que o deveriam fazer.

Ou seja mais uma vez a actuação da polícia é feita de acordo com o que esta força quer e não como lhe é ordenado, ou talvez esteja enganado pois uma coisa é o que o CRES emite através das notas à imprensa, e de todos conhecidos, e outra serão as ordens que os superiores da polícia transmitem aos seus homens no terreno.

Quer a polícia quer os militares continuam a fazer só aquilo que entendem dever fazer e raramente as ordens que recebem são cumpridas exactamente como emitidas.

Entretanto o governo num conselho extraordinário, hoje realizado, onde se poderia esperar alguma decisão importante, até este momento não anunciada, atribuíu um orçamento extraordinário para a Polícia no valor de 245 milhões de bath (5,7 milhões de euros). Por certo um prémio pelo bom comportamento.

As fotografias acima mostram o novo visual da intersecção junto ao hospital de Chulalongkorn, onde agora parece que a polícia está a guardar os manifestantes.

A constante reinterpretação dos comandos está sempre presente nesta campanha que deveria ter como objectivo desalojar os vermelhos. A imagem do PM acaba fortemente desgastada quer interna quer internacionalmente com esta sequência de não cumprimentos das ordens emitidas.