sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os Camisas Azuis

Nevin em Pattaya no dia 10

Hoje aparece assinado por Somroutai Sapsomboon, uma das mais claras e esclarecedoras análises sobre aquilo que se passou durante os acontecimentos de Abril quer em Pattaya quer em Bangkok.

O artigo está no The Nation, como já referi aqui várias vezes um jornal maioritariamente simpatizando com o partido Democrata, o partido do PM Abhisit Vejjajiva.

Há dias escrevi que todos tinham perdido no rescaldo dos acontecimentos de Abril excepto o povo tailandês naquilo que de alguma forma está a ser a criação de uma consciência de valores democráticos e da capacidade de debate, ordenado e respeitador, de questões que a todos interessam.

O que hoje vem a lume é parte também desta, nova, capacidade que se nota nos meios de comunicação social de abordar mais abertamente os problemas do estado. e chamar pelos nomes os diversos actores em cena.



Em Pattaya e a utlização das fotografias reais quando isso convém

Muitos dizem que isto não passa de manobras de informação e contra-informação sendo que neste caso esta seria montada pelos Democratas contra o seu aliado (?) Nevin, o homem mais temido do momento. Outros dizem que neste cocktail de militares e pol+iticos ainnda falta a pessoa do General Prayudh Chan-ocha, ex comandante da 1ª região e actualmente número 2 no Estado Maior.

Desde cedo alertamos para aquilo que se passava na sombra manobrado pelo homem de Buriram. Desde a formação do primeiro gabinete de Samak e ao longo de 2008 Nevin Chidchob foi colocando os seus homens em lugares de relevo e com fortes capacidades de controlo das situações. Seu pai é o Speaker of the House, o nosso Presidente do Parlamento mas aqui com a capacidade de ter um papel de influência no Senado visto o Speaker of Senate ser funcionalmente dependente do primeiro. Por outro lado todos os decretos reais têm de ser ratificados pela sua assinatura dando-lhe deste modo um poder de escrutínio, que, embora não o use, faz com que as decisões quando lhe chegam já foram devidamente lidas e aprovadas pelos seus homens.

Muito provavelmente soldados

Chaowarat, o presidente do Bhumjai Thai Party, o partido de Nevin, é o actual Ministro do Interior um figura chave no controlo das províncias, da forma como os dinheiros lhes são distribuídos, da nomeação dos governadores (muitos foram substituídos por pessoas de confiança desde que está no lugar) e para além disso crucial em qualquer processo eleitoral. Chaowarat, foi o PM interino após a queda de Somchai e foi ele que trouxe de volta para o comando da Polícia Patcharawat, o General demitido e acusado pela sua inacção durante os acontecimentos de 7 de Outubro de 2008. Este mesmo comandante que é o irmão do actual Ministro da Defesa, mais um homem próximo de Thaksin, no passado, e sempre putativo novo PM quando se fala de que um golpe de estado pode acontecer. Outro lugar forte que tem controlado é o do Ministro dos Transportes e Comunicações, o ministério que detêm neste momento a maior fatia de dinheiro para gastar em investimentos em infraestruturas.

Para além dos lugares chaves há ainda as manobras nos bastidores onde Nevin é um perito ou não tenha tido ele o melhor dos professores, Thaksin Shinawatra, o próprio, a quem ele quando dele se decidiu separar chamou "boss".

O movimento azul está em marcha com o claro objectivo de conquistar o poder. Há um obstáculo que Nevin tem de vencer que é o facto de estar banido do exercício de direitos políticos até Maio de 2013, o que na realidade não o tem impedido de actuar como de facto presidente do partido e mantendo grande actividade politica directa. Esse particular os seus homens, Chai, Snoh e outros estão no momento encarregues de encontrar uma solução.

Nevin sabe contudo esperar. Esta é uma das suas qualidades. Como os predadores sabem esperar pacientemente pelo melhor momento para atacar, de um só golpe, a sua presa, Nevin vai construindo a sua teia e um dia as presas lá serão apanhadas.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Visto de Seul

Assim é visto em Seul o panorama político na Tailândia.

Para além da piada do cartoon ele reflecte duas outras realidades: há semanas Thaksin disse à imprensa que era um cão domesticável, mais uma vez tentando atrair alguma simpatia, aqui em Bangkok, para a sua causa tentando ser visto como alguém capaz de ser parta da solução e não parte do problema. Deste modo pretendia afirmar que se o soubessem tratar bem, se soubessem falar docemente com ele, seria capaz de ser fiel ao seu dono como será normal num cão. A outra realidade que o cartoon mostra é a forma como afinal o cão tem de sair do "seu" local, sem honra nem dignidade, acossado por muitos e fustigado por outros tantos.

Como um rafeiro, um cão de rua, Thaksin está neste momento fugindo de canto para canto sem encontrar a saída para os problemas em que se meteu e a notícia hoje vinda a lume de que uma boa parte dos Deputados do "seu" Partido poderiam estar a encontrar uma alternativa política para o futuro deles, embora sendo muito provavelmente uma manobra de contra propaganda, é ao mesmo tempo um sinal claro do moral actual das "tropas" vermelhas.

Essa falada mudança de 110 Deputados da oposição para "um outro Partido", que poderá muito bem estar ligada com mais uma investida de Nevin Chidchob oferecendo largas quantias de dinheiro para fortalecer o seu Bhumjai Thai Party, pode dar uma estocada muito forte em Thaksin e temporariamente nos planos da UDD, embora seja hoje em dia claro que com ele ou sem ele, muito mais provavelmente sem Thaksin, esse movimento irá desenvolver-se de forma autónoma representando sentimentos unitários contra o grupo que está por detrás da coligação no poder.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Vencidos e Vencidos


Depois dos incidentes durante o Songkran, escrevi que o PM Abhisit Vejjajiva tinha uma oportunidade de ouro de poder fazer a diferença e mostrar a sua real capacidade de comando e de liderança política que o país tanto necessita.

Infelizmente isso não aconteceu e aquilo que se pode analisar no rescaldo daqueles acontecimentos é que fundamentalmente todos perderam.

Perdeu a Tailândia porque a sua imagem perante o Mundo saiu chamuscada devido ao facto de ter sido necessário adiar, uma vez mais, as cimeiras da ASEAN. O tecido económico do país afectado, o turismo mais uma vez em perca com os visitantes de novo receosos de demandarem o país.

Perdeu Abhisit pois não conseguiu alavancar a posição que tinha conquistado de alguma simpatia popular pelo facto de ter emergido como vitorioso da crise. Abhisit foi incapaz de avançar com soluções e aquelas que propôs acabaram por ser tomadas em mãos por outros que não ele. para além disso viu-se agora envolvido no estranho caso da morte, ainda por explicar, de um soldado que fazia guarda á casa onde nos dias 12 e 13 se recolheu. Nessa altura Abhisit e Suthep, pernoitaram, em casa do comandante da 1ª região Militar, General Kanit, e um dos soldados que ai se encontrava de guarda enviou uma mensagem à sua namorada dizendo que o PM aí se encontrava. Igualmente estava a falar ao telefone com a sua mãe referindo o mesmo, quando a conversa foi abruptamente cortada. No dia seguinte o corpo dele foi entregue á família com instruções para ser cremado rapidamente e acompanhado de 10.000 bath para o efeito. A família realizou uma cremação fictícia e levou o corpo para ser autopsiado pela maior autoridade em medicina legal no país que confirmou fractura do crânio e várias escoriações no corpo aconselhando que a polícia investigasse. Como se tratava de uma localização do exército a investigação terá de ser feita pela policia militar o que a tornará impossível. Abhisit saiu já a clamar que a morte do soldado foi acidental numa antecipação a qualquer pergunta que lhe possam fazer o que não ajudou nada. Chamlong, o general líder do PAD, ontem numa entrevista a um jornal, e colocando mais um prego no caixão do PM, afirmou que Abhisit não controla nada no comando da nação.

Perderam Thaksin e a UDD visto a forma como levaram a efeito as suas manifestações criaram o caos que ninguém desejava. Até ao momento a sua manifestação tinha sido grande em pessoas e pacifica granjeando simpatias pela forma ordeira como se tinha desenvolvido. Após os incidentes no Songkran saíram perdendo e muito. Thaksin pelo seu lado cada vez mais se vê confinado a ser um homem acossado, agora já sem passaporte tailandês tendo a necessidade de se movimentar de um lado para o outro e com muito cuidado para não aterrar num país que o reencaminhe para a Tailândia onde para além das acusações que já tinha tem agora outros mandados de captura à espera.

Perdeu Nevin Chidchob pois ficou agora claro que o ex mão direita de Thaksin tornado no aliado de privilégio da coligação no poder, esteve por detrás das manifestações em Pattaya e se envolveu com os seus "camisas azuis" nalguns dos distúrbios em Bangkok ajudando a provocar o caos numa tentativa de fazer sair para a rua os "amarelos" para se confrontarem com os "vermelhos". Nevin foi ainda acusado. explicitamente, por Sondhi de ser um dos que está por detrás da tentativa de assassinato contra ele.

Perderam os Militares, e especialmente o seu chefe Anupong Paochinda pois a sua actuação em todo o processo ficou demonstrada ter sido inadequada. Existem registos fotográficos e em vídeo da cumplicidade dos "verdes" com os "azuis" de Nevin quer em Pattaya quer em Bangkok. A utilização da M16 e AK 47 não é compreensível quando o objectivo era controlar manifestações. O facto de Anupong ter admitido, depois de duas negativas de que as tropas podariam ter disparado balas reais contra os manifestantes. O facto de continuar ainda em discussão se houve ou não mortos em virtude da actuação dos militares e finalmente pelo facto, que teve de confirmar, de algumas das balas utilizadas no atentado contra Sondhi serem provenientes do 9º Regimento de Infantaria da Royal Thai Army. Por outro lado torna-se hoje evidente para muitos que Anupong não tem o apoio de todos na hierarquia.

Perdeu o PAD que viu um dos seus mais altos dirigentes ser alvo de um violento atentado e sentindo na realidade que aqueles que os apoiaram durante a cruzada dos 193 dias em 2008 não estão todos solidários com a causa que perfilham. Isso mesmo levou a que Sondhi L. acusasse, para além dos militares e de Nevin de estarem envolvidos no atentado, um Ministro do próprio Governo que era persuposto estar do mesmo lado do que eles. A partir deste momento o PAD terá de rever quem são os seus amigos e quem são na realidade os seus inimigos.

Perdeu por fim a Liberdade visto na sequência dos incidentes, e mais uma vez contra as palavras de Abhisit, forças policiais e do Ministério do Ciência e Informação terem fechado cerca de 6.000 sítios de web, calado centenas de rádios locais e fechado a estação de Televisão que apoiava os "vermelhos", mais uma vez numa política de dois pesos e duas medidas em relação aos grupos em disputa no país.

Contudo neste arco-íris político pare haver um vencedor ou pelo menos um elemento que sai de algum modo fortalecido deste processo e ele é a Consciência Nacional.

Os tailandeses começam a entender que a luta a que a maioria assiste não é uma luta somente entre "amarelos" e "vermelhos". Muitas outras cores estão envolvidas e é hoje claro que as perguntas circulam na cabeça de muitos que antes não prestavam nenhuma atenção a questões de natureza política. os próprios meios de comunicação social mais importantes, aqueles que o poder não consegue tocar pela força que têm, sejam eles em língua tailandesa ou em inglês, começam eles próprios a ser porta estandartes dessas questões que circulam nas cabeças de muitos e muitos tailandeses.

A formação de uma consciência democrática é sempre um longo e penoso processo mas parece estar em marcha num país onde os assuntos de estado estavam até não há muito relegados para fóruns onde os cidadãos não queriam intervir.

O processo de mudança está em marcha.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A China, a Crise Económica e a ASEAN


Aproveitando a crise económica a China está a lançar uma ofensiva diplomática e económica com o claro objectivo de aumentar a sua, já grande, influência na região.

Estava previsto que durante a cimeira de Pattaya, que acabou por ser cancelada há três semanas a trás, a China apresentasse um plano no valor de 15 mais 10 mil milhões de US Dólares para apoio à região. Embora adiado o pacote de apoio está preparado para entrar em funcionamento a qualquer momento.

Seram 10 mil milhões para investimento directo na região e 15 mil milhões numa linha de crédito aos países da ASEAN para os ajudar a fortalecer os seus laços económicos e apoiar o desenvolvimento de infraestruturas.

Ajudando os países do sudoeste asiático a enfrentar a crise financeira e económica mundial, a China fortalece e defende o seu comércio com a região. Embora também fortemente abalada pelo recuo das suas exportações, a crise na China está a ser de alguma forma contrariada com um grande apoio do Governo chinês ao consumo interno. A economia continua apesar de tudo a crescer, embora a um ritmo mais moderado, mas deve atingir, de acordo com as perspectivas actuais, os 6.1% de crescimento efectivo no final do ano.

No pólo contrário estão Singapura e a Tailândia onde a economia irá ter uma contracção bastante forte em qualquer dos casos superior a 5%. Singapura estará mais protegida, até porque habituada a estas flutuações, devidoà sua dimensão e capacidade política de decisão e enfrentará a crise de uma forma mais suave do que a Tailândia onde não só há falta de direcção política, falta de fundos e a dependência da economia do exterior é bastante grande. Por outro lado as más notícias não param de chegar ao mercado.

A China conhecedora da situação dos países da ASEAN e também sabendo que uma fatia extremamente importante do comércio na região e nesses países é controlada por chineses, quer continentais, quer de Taipé quer da Diáspora, exercendo a sua política de grande pragmatismo decide criar como que um mercado interno de toda esse "mundo chinês" que lhe está disponível.

Aqui na Tailândia os grandes negócios e os grandes grupos económicos estão quase sempre ligados a famílias de origem chinesa que continuam, como em Singapura e na Malásia, a manter fortes laços culturais com o país de sues pais ou avós.

É essa herança cultural que o governo de Pequim quer trazer cada vez para mais perto de si e controlar de uma forma uniformizada.

A crise económica serve assim para fortalecer o já enorme poder do Dragão não só na Ásia mas também para além dela.

É esta e outras iniciativas no domínio diplomático e económico que fizeram Hillary Clinton parar em Pequim durante o seu périplo pela Ásia, sem emitir, aqui, uma única palavra sobre as questões dos direitos humanos na China e faz com que a União Europeia siga uma política semelhante.

O velho império chinês torna-se cada vez mais o pólo do Mundo.

domingo, 26 de abril de 2009

São Nuno de Santa Maria


A Igreja acolhe hoje um dos mais nobres filhos de Portugal, Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável e, a partir de hoje São Nuno de Santa Maria ou São Nuno Álvares Pereira.

Já aqui me referi áquele que tenho a felicidade de ser meu padrinho de baptismo e que hoje na Praça de São Pedro será canonizado como o 11º santo português.

"Procuremos conhecer em profundidade o itinerário espiritual do Beato Nuno de Santa Maria! A simples leitura da sua vida é capaz de nos edificar e de fazer crescer como carmelitas e como cristãos!" Estas são palavras de Frei Agostinho Marques de Castro, O. Carm.Superior Maior da Ordem do Carmo em Portugal.
São Nuno, aquele que terá sido o mais poderoso ao seu tempo e alguns mesmo dizem que só não foi ele o Rei porque sempre quis servir aquele que sua mãe lhe indicou, o Mestre de Avis, D.João I de Portugal, foi o mais humilde dos carmelitas quando decidiu recolher-se no Convento do Carmo e aí terminar a sua vida em profunda meditação e total retiro.

Na realidade o novo santo não foi somente aquele que dirigindo as tropas de Portugal venceu os castelhanos em Aljubarrota, foi acima de tudo um muito leal servidor de Portugal, do seu Rei e de Deus. Nunca antes de qualquer das batalhas ou de qualquer dos seus actos de bravura em defesa do seu país e do seu Rei, São Nuno deixava de apelar à Virgem Maria para salvação das suas tropas e para grandeza do seu Portugal.

Dom José Policarpo considera que a partir de agora há muito para fazer, nomeadamente pelos investigadores: "a relação do Condestável com a mãe" será um dos aspectos que o patriarca considera indispensável investigar. “Tudo leva a crer que terá sido uma pessoa marcante na primeira parte da vida de D. Nuno”.

O patriarca admite que faz falta “uma boa biografia” do Condestável.

Em Portugal há um grande desconhecimento sobre aquele que é indubitavelmente tão grande como as maiores figuras da nossa história e todos só ganharíamos por melhor o conhecer devido á sua enorme grandeza moral e humana.

O meu obrigado à minha mãe por ter medado como padrinho, no acto do Baptismo, aquele de que me orgulho muito. Só não me chamo, também, Nuno de Santa Maria porque houve alguém na família que entendeu que tal não era nome de homem, como se São Nuno não tivesse sido ele um dos maiores homens na nossa história.