sexta-feira, 3 de abril de 2009

G 20

Será que se riem de nós?

Terminou em Londres a cimeira apelidada G20 e as bolsas por todo o Mundo regozijaram de felicidade com a decisão tomada de injectar triliões (a palavra não é correcta em Português) no mercado mas o facto é que agora já nem em biliões ( outra incorrecção) se fala.

O facto das bolsas terem tido reacções tão positivas mostra bem como a economia está ainda longe de encontrar o equilíbrio necessário para que seja criado um sistema de controlos e regulações capazes de prevenir que crises como a que actualmente vivemos voltem a surgir.

Na realidade nada se alterou a não ser a expectativa de que o dinheiro que vai ser injectado no sistema financeiro permitirá retomar o ritmo de crescimento a que nos tornamos adictos nos últimos tempos.

É certo que a actual crise, especialmente a vivida no sector financeiro tem permitido fazer algumas correcções a um sistema que era (é) totalmente selvagem e desregulamentado, e esse é um facto positivo, mas os fundamentos em que todo o sistema assenta e em que no fundo a economia real tem vivido necessitariam de algo de novo, na realidade algo que todos nós temos a consciência de ser necessário mas acabamos por não implementar.

Seria necessário que cada um de nós, cada país, cada empresa vivesse não acima daquilo que é capaz de produzir mas exactamente um pouco abaixo de forma a ser capaz de poupar o suficiente para os momentos de necessidade. Mas todos sabemos que não é assim o Mundo, não somos assim nós.

O ser humano infelizmente tem mais defeitos do que qualidades e o mundo da competitividade que se criou, fundamentalmente a partir de meados do século passado, não para e somos nós que não queremos que ele pare.

Assim hoje damos vivas às decisões do G 20 e o Mundo está cor de rosa.

O Primeiro Ministro da Tailândia esteve presente na cimeira numa posição bastante ingrata mas soube tirar partido do facto para dar algumas entrevistas e ter tido a sorte de aparecer na fotografia de família, como é ironicamente chamada a foto de grupo, se bem que saibamos que na realidade em muitas famílias são mais as facas do que os beijos, ter aparecido, como dizia, mesmo sobre o ombro direito de Obama, a grande estrela da cimeira.

Falando de estrelas desta cimeira não se pode deixar de falar de Sarkozy que do alto dos seus 1.6o e qualquer coisa, por isso está sempre em bicos de pés, e por isso mesmo fez aquilo que nós designamos por "uma peixeirada" para tentar, e conseguir , regressar a Paris e ter alguma coisa para contar aos seus concidadãos e esses não lhe lançassem uns tomates à cara. Aliás nestas cimeiras normalmente o mais importante é que todos os lideras presentes consigam, quando chegarem ao seu país, falar para a comunicação social acerca das grandes vitórias que eles próprios conseguiram para o país e assim ajudar á sua permanência no poder.

Abhisit teve, como referi, uma posição ingrata visto não estar lá por direito próprio, mas por ser o país Presidente da ASEAN mas com a grande desvantagem de o país deste bloco que interessava para a cimeira, e era só um, estar lá por direito próprio, refiro-me á Indonésia.

Há cerca de três semanas o Embaixador Scott Marciel, embaixador americano junto do Secretariado da ASEAN, referia em Bangkok, numa conferência a que assisti, que a Indonésia começa a sentir que a sua voz é grande demais para ser transmitida através da ASEAN e que não necessita desta associação para se fazer ouvir. Relembrava ele a visita da Secretária de Estado Clinton a Jacarta durante a sua tournée asiática.
Abhisit, o mais jovem dos presentes, o que motivou o cartoon acima hoje publicado no The Nation, teve oito minutos para falar mas lembrou um aspecto importante que foi a capacidade que os estados do sudoeste asiático mostraram para trabalhar em conjunto quando foi a crise de 1997 e que levou à criação da Chiang Mai Initiative actualmente revitalizada na sequência da última cimeira da ASEAN.

A posição da Indonésia, e o peso que pouco a pouco vai ganhando no seio da comunidade internacional, é um forte desafio à solidificação da ASEAN mas felizmente que o Secretariado está sediado em Jacarta e que Surin Pitswan, o Secretário-Geral, é um diplomata de grandes qualidades.

Tensão na Fronteira

Esta madrugada voltou a haver incidentes na fronteira entre a Tailândia e o Cambodja na zona do templo de Khao Prha Viharn.

Houve troca de tiros e um soldado tailandês perdeu uma perna num incidente com uma mina anti pessoal que fez detonar.

As autoridades cambojanas clama que os soldados tailandeses entraram em território nacional e por isso foram repelidos a tiro.

Este incidente vem na sequência do incidente sobre as palavras do MNE tailandês, Kasit sobre o PM Hun Sen que ainda agudizaram mais o permanente estado de grande tensão quese vive na região. Hoje mesmo vem publicada num jornal de Phom Penh uma carta pessoal que Kasit teria enviado ao PM Hun Sen explicando o sentido das palavras qeu proferiu e pedindo desculpas pela má interpretação que possam ter causado.

Vezes sem conta referi que os incidentes estão sempre ligados a uma outra questão de fundo. Quando o poder em Phnom Penh se sente forte e nota debilidades em Bangkok atacam como mais uma ferramenta de política interna nacionalista. Bangkok tem sofrido bastante devido á inépcia dos seus governos desde há muito e de todas as fragilidades associadas. Por outro lado a escorregadela de Kasit dá mais ânimo a Hun Sen para atacar.

Uma curiosidade sobre esta questão que nada me custa a acreditar. Na semana passada numa reunião com uma ONG que trabalha intensamente no campo da desminagem aqui na região com profundos conhecimentos do terreno especialmente do Laos, Cambodja e Tailândia, dizia-me o director regional que estas incursões dos tailandeses para o outro lado da fronteira são constantes e o facto deve-se à utilização do mapa do Google Earth, como se se tratasse de algo de oficial, que apresenta uma delimitação da fronteira errada.
Tenho em meu poder mapas, enviados pelas autoridades tailandesas e pelas cambojanas e é evidente que cada um tem uma noção diferente daquilo que é a fronteira. cada um empurra para o lado de lá até ao ponto em que entendem estender-se o seus país.


A Joint Border Commission, cujo trabalho é a demarcação das linhas de fronteira, reúne de vez em quando mas não existe desde há 4 anos nenhum resultado concreto. Nem sequer conseguem sair do primeiro ponto que é a denominação dos locais visto terem nomes diferentes em cada um dos países e nenhum abdicar deles.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Crise Económica em KSR



Em primeiro lugar há que explicar o que é KSR.

Khao San Road é uma rua na zona antiga de Bangkok, Kho Ratanakosin, conhecida como a Meca dos backpackers. Pouco mais do que 500 metros sem carros e cheia de comércio onde tudo se vende mesmo algumas coisas que o melhor eram nunca terem saído de onde estavam.

Mais de 70% da população flutuante de KSR, que atinge normalmente 10 milhões de visitantes por ano, é constituída por jovens estrangeiros de mochila ás costas e que por aqui gastam os poucos, dólares americanos, singaporeanos e australianos, euros, yenes, etc que trazem no bolso. Normalmente ficam por algum tempo e alguns mesmo esquecem-se de voltar para donde vieram. A estadia média é de 7 dias e o gasto por cabeça anda entre 10 a 15.000 bath. O montante que cada turista está a despender caiu neste momento para um valor entre 8 e 10.000 bath devido á necessidade que os comerciantes tiveram de ajustar preços, já de si muito baixos, tendo em vista a falta de clientes.

As noites, e muitas vezes os dias também, são passadas na rua a beber, a fumar, nem sempre o que deveriam e isto é já ser condescendente com o tabaco, e mantendo-se por ali em conversas filosóficas ou nem tanto.

Quando houve no ano passado a ocupação dos aeroportos e centenas de milhares de turistas ficaram em terra, KSR foi a zona turística menos afectada. Os seus "habitantes" na maioria dos casos chegam por via terrestre, quer do Cambodja, a maioria, quer ainda do Laos ou da Malásia e por isso o impacto foi aí menos sentido embora também houvesse vozes, e com razão, que fizeram notar que KSR também estava a ser afectada.

O pior acabou por vir a ser 2009. Desde o final do ano passado os viajantes começaram a demandar menos KSR e o presidente da Khao San Association, Surat Vongchansilp veio agora, com base nos dados recolhidos na zona, lançar o alerta para a quebra verificada em KSR.

Na rua existem cerca de 280 pequenos negócios e nos últimos 6 meses 115 empresas tiveram de fechar e o comércio caiu 40%. O valor de negócio geralmente rondava os 2-3 mil milhões de bath anual e este ano não se espera que ultrapasse o 1.5 mil milhões sendo mesmo esse valor uma expectativa optimista.

As pensões da zona estão com uma ocupação, segundo afirmam, 50% abaixo daquilo que seria de esperar nesta época. Thanchalerm Khiewsri, o dono de um cabeleireiro da rua afirmou que o ano passado fazia cerca de 2.000 bath por dia e que agora faz entre 500 a 800 bath diariamente uma significativa quebra. O único que se não queixava nesta apresentação de dados á imprensa era o dono de uma galeria de arte, Vichai Limsrikarjana, que dizia os seus clientes serem fieis e pessoas que compram indiferentemente da situação. Ou são pessoas que compram por gostar ou investidores.

Em Dezembro foram os hotéis de luxo a estarem às moscas e ainda estão longe de recuperarem com despedimentos previstos de 50.000 pessoas para o segundo trimestre do ano. Agora a crise económica mundial e todas as outras implicações internas que afastaram as pessoas da Tailândia também está a ter a sua quota parte no turismo "dos pobres".

Entretanto ontem em Londres numa entrevista à Bloomberg, Abhisit disse que o país está de regresso ao seu normal e a estabilidade, apesar de algumas manifestações normais em países democráticos, está instalada. Grande tirada!

Compreende-se que o PM de um país tem de "vender o seu peixe", como todos nós, mas será que os compradores acreditam? Será que ele próprio acredita? Se a resposta é sim então o assunto está complicado pois isso quer dizer que está, continua, nas nuvens.

Maha Chakri Sirindhorn


Há 54 anos nascia em Bangkok a 2 de Abril a terceira filha do actual monarca, Rama IX, aquela que é hoje titulada no Bangkok Post, por Songpol Kaopatumtip, a Princesa do Povo.

A Princesa Maha Chakri Sirindhorn é uma mulher de grande cultura e sempre foi das mais brilhantes alunas nas suas classes. Licenciada em Artes e História, Doutorada em Artes Orientais, com profundos conhecimentos quer de sânscrito quer de pali, fala fluentemente inglês, francês e com bastante acuidade o alemão.

Para além de ser uma pessoa sempre interessada em todos os pormenores nas áreas cientificas a história e a linguística são os seus campos preferidos.

Desde muito nova acompanhou os seus pais em visitas junto das comunidades ao longo de todo o país e é normal ver um pouco por todo o lado, para além da sua fotografia, forma de homenagem, escolas, e outras instituições com o seu nome lembrando sempre aquela que, na realidade, é muito querida pelo povo tailandês.

Nascida num sábado a sua cor é o purpura ou violeta e isso reflecte-se nas suas armas e em todas as instituições que a ela estão ligadas.

Na cultura tailandesa cada dia da semana tem uma cor facto pelo qual o amarelo sempre presente por todo o lado. É a cor do Rei, nascido a uma Segunda-feira.

Tive a oportunidade, e honra, de várias vezes ter convivido com a Princesa Sirindhorn, quer em privado quer em funções, e só posso, em virtude desse conhecimento, nutrir por ela uma enorme simpatia. pela forma simples que sempre manifesta no contacto com tudo e todos para além do interesse que sempre tem em todos os assuntos.

Ainda recentemente numa visita a uma exposição na Universidade de Chaiang Mai, onde os alunos tinham que apresentar os vários projectos em exibição era visível o nervosismo destes por terem de falar para Sua Majestade. Note-se que a própria linguagem utilizada com membros da família real é diferente e por vezes, mesmo pessoas da alta sociedade não sabem as palavras correctas que devem utilizar. Foi a própria Princesa que, de uma forma completamente informal, como ela na realidade é, tomava a inciativa e ajudava os alunos a descontraírem-se e a poderem explicar aquilo que deveriam ter relido mentalmente vezes sem conta durante uma noite porventura em branco devido a tamanha excitação.

Quando a cerimonia terminou falei com alguns desses alunos e via-se nas suas caras não só o alívio da descompressão mas o enorme prazer de terem tido a ajuda da Princesa Sirindhorn.

Esse título que o Bangkok Post hoje lhe atribui não pode ser mais correcto.

Cedo se dedicou ás causas do povo e hoje em dia de alguma forma patrocina e continua os projectos de que se encarregava a sua tia a Princesa Galyani falecida há pouco mais de um ano atrás. Aliás as duas eram muito próximas não só por partilharem os mesmos valores mas por força de uma cumplicidade de ideias sempre bem visível.

A Princesa Maha Chakri Sirindhorn tem o título de Somdet Phra Theprat Ratsuda Chao Fa Maha Chakri Sirindhorn Ratthasima Khunakon Piyachat Sayam Borommaratchakumari e é, a par do Princepe Maha Chakri Vajiralongkorn, o segundo filho do Rei Rama IX, possivel sucessora no trono, de acordo com a Constituição.
Hoje como é tradição na casa real na Tailândia a Princesa devolveu ao rio, num gesto simbólico, peixes, voltando a dar-les a vida e a liberdade que aí gozam.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Kasit Piromya (II)

Eles andaram todos na mesma escola e a comer dos mesmos cozinhados.

Já aqui uma vez referi que o grande líder do PAD Sondhi tinha sido parceiro de negócios de Thaksin Shinawatra aliás como a maioria daqueles que hoje se opõem ao ex-Primeiro.

A classe de empresários neste país não é assim tão grande e por isso não espanta que isso aconteça.

Como em muitos casos as comadres zangam-se e depois começam a partir a loiça. Na Tailândia o que se passou essencialmente foi que Thaksin quando juntou ao seu poder como empresário o seu poder como político entendeu que era chegado o momento de ficar com o bolo todo para ele dando umas pequenas fatias àqueles que lhe traziam os recados, como Nevin, e deixando as migalhas que ficavam no fundo do prato para os seus antigos parceiros como Sondhi e outros que hoje o odeiam por isso mesmo.

O facto é que todos andaram a roer o mesmo bolo durante uns tempos.

Vem isto a propósito de mais umas declarações de Kasit que, falando á imprensa, admitiu ter recebido dinheiro de Thaksin, é assim que os controlou a quase todos, mas afirmou, que nunca o usou em proveito pessoal mas sempre para o serviço das Embaixadas onde serviu. A cada um a capacidade de julgar as acções e as palavras, mas para mim o facto de aceitar é por si já mau. Quem não quer ser o lobo que não lhe vista a pele.

Entretanto Suthep Thaugsuban, o Primeiro Ministro em exercício, convocou uma reunião de emergência do Governo esta manhã para analisar a situação mas de concreto só se sabe que o Ministro do Interior solicitou aos governadores das províncias que seguissem com atenção os movimentos locais da UDD. Contudo saíram rumores de que Suthep teria afirmado estar pronto a negociar com Thaksin, naquilo que seria o reafirmar de uma vontade que em tempos já tinha manifestado como sendo a única forma de trazer paz ao país.

Kasit Piromya


O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Kasit Piromya, que ontem descrevi como um homem de coragem está a tornar-se um forte embaraço para o Primeiro Ministro.

Kasit é um diplomata de carreira, que não de estilo, com variados postos de grande relevo tendo começado a sua carreira no estrangeiro em Bruxelas junto das Instituições Europeias e terminado como Embaixador em Washington DC. Pelo meio, entre outros lugares, esteve colocado em Moscovo.

Nascido em 1944 em Thomburi, do outro lado do Chao Paraya, cidade que foi a capital do reino siamês antes de esta se mudar para a actual Krung Thep Maha Nakhorn.

Depois de se licenciar na Universidade de Chulalongkorn, continuou estudos em Georgetown, Washington DC e em Haia, Holanda antes de ingressar nos quadros do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Terminada a sua carreira de funcionário diplomático Kasit retirou-se mas sendo uma pessoa de acção decidiu, em 2008, aproximar-se do PAD, defendendo aquilo que recentemente disse serem os seus ideais de uma monarquia constitucional, da qual ele acredita ser o PAD o grande defensor. Muitos não pensarão da mesma maneira visto as acções do PAD por vezes constituirem um embaraço para a própria instituição devido á violência gratuita e aos actos de verdadeiro gangsterismo em que se envolvem.

Ficaram famosos os sesu comentários de que a ocupação dos aeroportos, que tanto mal fez ao país, era divertida e agradável visto aí se poder encontrar boa animação e boa comida.

Contráriamente à tradição de que os diplomatas são homens de poucas e sábias palavras, Kasit, nunca se escusa de dar a sua opinião e fá-lo de forma por vezes demasiadamente aberta. Ainda recentemente num almoço, em que eu estava sentado á sua direita, referiu, e a propósito dos constantes rumores de golpes militares neste país, que não tinha medo deles dizendo que já vivi tantos golpes de estado que mais um menos um nâo tem importância (sic), como se o assunto fosse uma questão menor.

Em Julho do ano passado desferiu violentos ataques contra o actual Primeiro Ministro do Cambodja na altura em que estava quente o conflito em torno das questões fronteiriças. Foi, rude, foi inconveniente, mas na altura tratava-se de um manifestante do PAD, com antigas responsabilidades é certo, mas sem funções como as actuais embora já fosse MNE sombra.

Quando tomou posse como Ministro, em Dezembro, e foi alvo dos ataques da oposição devido ás suas posições radicais salientou que o que tinha acontecido até ao dia 22 de Dezembro era diferente do que aconteceria agora que era Ministro e tinha responsabilidades no país.

Em relação a Hun Sen referiu que em tempos tinham andado nas mesmas reuniões e discussões sobre variados temas e que por certo o PM sabia distinguir as questões e nada se iria passar.

A UDD na sua agenda tem vindo sempre a pressionar Abhisit Vejjajiva para que demita Kasit atento as suas declarações e o facto de ele ter sido (ser?) um prominente membro do PAD cujas acções, como o encerramento dos aeroportos, tantos danos causaram ao país.

Abhisit, comprensivelmente, tem resistido mas os ultimos comentários de Kasit começam a ser um embaraço demasiado grande para o jovem PM que cada vez mais se vê entalado entre tudo e todos. Para sorte dele está agora em Londres na cimeira do G 20, repreesentando a ASEAN, pois se aqui estivesse nem local para trabalhar tinha visto a Government House estar cercada. Refira-se que Abhisit solicitou encontros bilaterais à margem da cimeira, na sua constante tentativa de elevar o perfil do país, trabalho de um PM, mas sei que não está a ter grande sucesso nessas démarches visto começar a haver na comunidade internacional algum mal estar sobre a situação, fundamentalmente dos direitos humanos e das liberdades indivuduais, na Tailãndia.

Kasit depois de desafiar Thaksin para um debate, em qualquer ponto do Mundo que ele quizesse apelidou o ex PM de demónio. No momento em que o Governo tenta desvalorizar os constantes ataques do fugitivo ex-PM, Kasit só ajuda este ateando o fogo que é exactamente aquilo que Thaksin mais quer no momento. Criar o caos e a confusão que permita elevar o moral das suas tropas.

Noutro incidente o PM do Cambodja lançou um violento ataque contra Kasit em virtude de palavras usadas durante um de um recente debate parlamentar onde segundo Hun Sen, Kasit o teria apelidado de gangster.

Hun Sen perguntou o que diria Kasit se ele insultasse o Rei ou o PM da Tailândia, continuando que se o país queria ser respeitado que se desse ao respeito primeiro. Acrescentou que o seu Governo é um Governo democráticamente eleito, uma alusão clara á forma como foi constituído o Governo de Abhisit. Kasit, através do porta voz do MNE, veio a tentar explicar que as palavras usadas eram um elogio para Hun Sen visto o Ministro ter querido dizer que o PM Cambodjano era um homem duro.

Os comentários de Hun Sen não podem vir em pior altura visto terem sido ditos depois de ter havido um incidente, com alguma gravidade, na fronteira quando alguns soldados tailandeses entraram em território do Cambodja e dez dias antes de se dar início às cimeiras ASEAN+3 e EAS em Pattaya.

O incidente na fronteira vem de novo acender a fogueira na zona fronteiriça e Hun Sen falou claro dizendo que se acontece outro incidente deste tipo as tropas do seu país respoderão de forma activa não admitindo invasões de tropas estrangeiras.

Kasit, que não consegue manter-se calado, qual negação de uma carreira brillante de diplomata, está a tornar-se um fardo cada dia mais complicado para Abhisit mas se este cede agora está a ceder à UDD e a abrir mais uma porta para o avanço das inteções destes.

Abhisit quando regresar de Londres, para além dos problemas prementes da economia do país, vai ter mais esta batata bem quente nas mãos isto se não tiver já acontecido que a situação em volta de Government House se deteriore com as ameaças que entretanto o Gen Anupong Paochinda fez e o facto de terem sido enviados militares para o local. Que diferença de tratamento em relação ao PAD. Quando o governo de Somchai Wongsawat, o ano passado, solicitou à tropa para intervir, nem um soldado saíu dos quarteis. Outros tempos ou será que ao contrário do que Anupong sempre diz os soldados afinal tomam partido?
Entretanto a UDD tem usado uma tática bastante inteligente ao permitir, sem obstáculos, que todos os funcionários entrem em Government House para trabalhar só bloqueando o acesso aos membros do Governo. Isso permitiu que o Tribunal, que anteriormente tinha emitido uma sentença ordenando que saissem do local, tenha voltado atrás dando permissão para que a manifestação continue no local. Entretanto a UDD já anunciou que no próximo dia 9 a manifestação será alargada a outros locais incluíndo a casa do General Prem.

A UDD tem sido paciente e pacífica, sabendo que o tempo lhes é favorável, mas se lhes "oferecem" um ou mais mártires tornam-se mais fortes e por ventura violentos.

terça-feira, 31 de março de 2009

Actualização da Situação


Em primeiro lugar uma palavra de desculpa sobre estes dias sem notícias mas o tempo tem escasseado. Nem para dormir dá.

Na realidade, desde que a UDD lançou a sua ofensiva na passada Quinta-feira que muitas coisas têm acontecido á volta desta manifestação.

Ainda que não tenha tido a atitude agressiva como o PAD, que ocupou e destruíu os jardins da Government House como sabem, a UDD mantêm a sede do Governo cercada sem que possa funcionar, e lá continua, com algumas indicações de que estarão lá até que o Governo ceda naquilo que é uma reedição dos acontecimentos de 2008.

O número de pessoas que cercam o complexo é superior ao dos "amarelos" e a forma pacífica como estão a actuar está a criar alguns problemas ao Governo onde existem vozes que gostariam de ver a polícia avançar sobre os manifestantes. Esse parecer ser igualmente um dos pontos que poderia ajudar a UDD se conseguisse ter algun(s) martires. Por outro lado a UDD continua a realizar comícios em todo o país e durante este fim de semana na maioria das capitais de distrito no Centro e no Norte do país houve ajuntamentos e manifestações favoráveis ao movimento "thaksinista" criando assim não só uma onda de adesões como dando ao movimento uma extensa cobertura televisiva.

O numero de manifestantes em Bangkok não aumentou mais porque as forças militares levantaram controlos nas estradas de acesso á capital vindas do Norte, nomeadamente em Nakhon Sawan, Pichit, Saraburi e Lop Buri tentando, e conseguindo, dissuadir os manifestantes da província a juntarem-se aos da capital. Contudo estes reagruparam-se nas suas origens e o movimento ganha uma força, não nacional, pois o Sul é sempre dos Democratas, mas com uma alargada extensão.

De igual forma o movimento passou a contar com mais apoios financeiros visto desde sábado ser distribuída comida gratuita aos presentes da mesma forma que acontecia com o PAD.

Temos assim um movimento de alguma forma organizado (anote-se a calma com que os manifestantes esperam um deslize do Governo) e um movimento com mais apoios (o caso da grua que rapidamente apareceu para retirar os contentores do caminho dos manifestantes e o facto da comida passar a ser distribuída gratuitamente).

O nervosismo do Governo nota-se por várias declarações que têm vindo a público e ainda ontem o Vice-Primeiro Ministro Korsab disse, a um amigo meu, não saber quanto tempo este Governo ia durar.

Mas o mais importante de tudo isto é o facto de Thaksin Shinawatra ter feito desde Quita-feira três intervenções em vídeo conferência falando aos manifestantes, e ao país, o seu alvo, e foi tão contundente nos seus ataques a dois Conselheiros Privados do Rei. o Presidente e o Primeiro Ministro após golpe de 2006, que ultrapassou o ponto de onde não pode recuar.

O General Prem de alguma forma saiu de cena desvalorizando os comentários (acusações) de Thaksin, mas o General Surayud saiu chamuscado tendo mesmo admitido a possibilidade de se demitir, visto depois de ter negado a sua presença num jantar realizado dias antes do golpe onde se discutiu a situação no país e possíveis soluções, para posteriormente confrontado com declarações de outras pessoas presentes nesse jantar, ter de voltar a trás a dizer que efectivamente tinha estado presente mas que não se tratou de nenhum preparativo para o golpe de estado que aconteceu dias depois.

Na realidade Thaksin não disse que se discutiu o golpe nesses jantar mas disse que nessa ocasião foram traçados os cenários para sair da crise em que o país vivia e um deles era o de um golpe militar. Nesse jantar para além de Surayud estiveram os lideres de dois dos mais importantes Tribunais Supremos do país, e sabemos a importância que tiveram no período após golpe como garantes de que o que tinha sido feito pelas armas era continuado pela via "legal", e alguns militares das áreas de segurança.

Thaksin ganhou esta batalha mas ao atacar os Conselheiros atacou de forma velada a instituição e quem eles servem de tal forma que o MNE, Kasit no sábado veio dizer, e pela primeira vez ouço isto em público, que o que estava em causa era o apoio ou não a um sistema de Monarquia Constitucional como o que ele defendia e que estava disposto a discutir ideologicamente, em público, com Thaksin estas questões. Corajosa declaração. Kasit é altamente controverso e um dos alvos da UDD, mas não se lhe pode negar, a par com alguma (bastante) sobranceria, a coragem de defender os seus interesses sem se esconder atrás de ninguém.

Como dizia esta batalha foi ganha mas fez com que Thaksin entrasse num caminho que só o pode levar para a frente num tudo ou nada com um muito incerto fim. Inclusivé afirmou de que se houvesse um golpe de estado entraria no país para estar com o povo e defender a democracia. Pobre palavra todos dela usam e abusam.

A manifestação continua. as movimentações nos bastidores continuam, Abhisit, que hoje parte para Londres para a cimeira do G20 representando a ASEAN da qual a Tailândia é o actual presidente, parece continuar a viver numa nuvem que paira sobre este país sem se dar conta(?) daquilo que acontece no país real. Nevin continua a sua forte campanha quer publicitária quer de recrutamento e financiamento e os rumores de golpes e contra golpes voltaram a estar em alta em Bangkok.

Por outro lado a economia vai continuando a trazer notícias altamente alarmantes e nem os famosos 2.000 bath, que somente vão dar azo a umas estatísticas mais positivas no que respeita o consumo interno neste mês de Abril, aliviam as dores que o Ministro das Finanças vai sentindo cada vez que olha para o cofre mais vazio e lê os relatórios que lhe chegam.

Dizia-me um amigo hoje ao almoço que o seu advogado, tailandês, lhe tinha dito que só daqui a 5 anos a Tailândia poderia pensar em recomeçar a viver em paz social.

Infelizmente não deverá andar muito longe da verdade e mesmo assim é necessário que os actuais actores se reformem e apareçam outras caras e especialmente outros valores, limpeza e transparência de ideias e de métodos, para que isso aconteça.