quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cá como Lá

Esta poderia ser a "fotografia" do parlamento de São Bento só com a diferença de que não há dinheiro para tamanha estarvagância que é o aumento de salário.

Os aumentos dos políticos na Tailândia continua a ser a nota dominante do dia e as setas estão apontadas para os Deputados.

De acordo com os dados vindos a público nenhum dos 630 membros do Parlamento (480 Deputados e 150 Senadores) esteve presente em todas as votações durante a última sessão parlamentar.

Houve 39 que "heroicamente" só falharam uma votação mas há um dos Deputados, e ainda por cima dos mais antigos políticos no hemiciclo, Snoh Thienthong do partido Pracharaj, que nunca votou (não é referido se por acaso foi alguma vez ao Parlamento).

Por outro lado há um deputado, Kiat-udom Menasawat do partido Pheu Thai, que custou ao estado 627,565 baht (15,700 euros) em viagens ao seu círculo eleitoral pois viajou de Bangkok para Udon Thani, 230 vezes o que faz que, por certo, esteve por certo mais tempo num avião do que ou no parlamento ou junto dos eleitores.

Ontem mesmo foi lançado uma página no Facebook intitulada " Cremos que existem mais de um milhão de tailandeses contra os aumentos" e o primeiro dia foi um sucesso em adesões.

Assim vai o país tal qual outros que bem conhecemos.

A Generosidade de Abhisit

Como há dias referi o governo iniciou, mesmo em tempo para ter efeito nas eleições do passado Domingo, uma nova campanha de medidas populistas com anúncio de aumentos para funcionários públicos, funcionários autárquicos e aumento generalizado do salário mínimo, bem como o congelamento dos preços de alguns bens nomeadamente o gasóleo.

O salário mínimo acabou por ver o aumento substancialmente reduzido por pressão das confederações patronais, ficando-se por valores entre os 3 e os 7% mas o grande presente de Natal destas medidas acabou por cair no sapatinho do governo que com efeito imediato (reinicio da sessão parlamentar em Janeiro) verá os detentores de cargos políticos receberem aumentos entre 5 e 14,9% sendo que todos os Deputados receberão mais 14,7% e os Senadores 14,9%. Os mais baixos (5%) vão para os membros do governo.

Recorde-se que os funcionários públicos só verão a cor do "novo dinheiro" (aumento) em Abril de 2011.

A medida anunciada com grande realce em todas as primeiras páginas dos jornais caiu muito mal na generalidade do público mas é um claro sinal do conforto sentido pelo poder na actual situação após as decisões de arquivar os processos contra o partido Democrata "por erros processuais" (nunca se vai saber se violaram ou não a lei desta forma), a manutenção das vozes da oposição caladas e a "compra generalizada de votos" que ocorreu no passado Domingo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eleições de Domingo

Decorreram ontem as eleições destinadas a preencher os lugares de Deputados que perderam os seus mandados por irregularidades visto serem detentores de acções em empresas estatais facto que é considerado estar em conflito com a sua posição de "representantes do povo".

Passado o pormenor de que dois dos Deputados banidos recuperaram os seus lugares, como se bastasse reparar a forma da falta sem atentar à conduta, analisemos o que ontem se passou.

A votação não trouxe nenhuma alteração numérica nos lugares ocupados. Nem a coligação no poder nem a oposição ganharam nenhum lugar mantendo-se assim o equilíbrio existente.

A corridas ás urnas foi bastante fraca, abaixo dos 40% em alguns círculos, o que, embora bastante abaixo da expectativa de 50-55%, pode ser considerado aceitável visto serem eleições sem uma incidência nacional e portanto com uma campanha muito mais reduzida e por ocorreram durante um fim de semana prolongado de três dias, devido ao feriado do Dia da Constituição, o que foi propício para uma escapada para fora dos círculos de voto. Outra questão importante foi o facto de as eleições terem decorrido com total acalmia e sem relatos de nenhum incidente.

Muitos analistas consideram que pouco se pode extrair, em termos de análise política, das eleições do passado fim-de-semana contudo há vários pontos a merecerem por certo atenção pelos partidos em compita.

Primeiro facto é a dificuldade que o Pheu Thai está a ter para apresentar candidatos capazes de atraírem os eleitores. As suas caras mais conhecidas ou estão banidas da política, ou presas ou afastadas da linha da frente ficando o encargo da disputa dos lugares para segundos planos. Segundo, é bem visível a dificuldade que o partido tem com a falta de liderança e o peso que o facto de o comando estar fora, Thaksin, tem sobre todo o conjunto do partido, dos candidatos e dos eleitores. Terceiro, o nome do próprio Thaksin parece não ser já um elemento que "arraste multidões". Por final, de lado contrário, o partido da oposição enfrenta uma máquina bem recheada de meios e dinheiro provenientes dos meios governamentais e públicos, difícil de combater. Mesmo em Khon Kaen, onde a vitória do Pheu Thai foi significativa, os meios e a visibilidade da campanha do candidato Democrata eram incomparavelmente maiores.

Do lado da coligação no poder o partido Bhum Jai Thai controla com perfeição a máquina eleitoral e autárquica facto que consegue através da distribuição clínica das verbas e dos lugares ao seu dispor. Exemplo disso foi o aumento dos executivos autárquicos em 100% anunciado na semana passada numa clara intervenção no processo eleitoral. Note-se que se esse facto se passasse com o partido da oposição seria por certo caso para um processo de dissolução do partido.

A conjunção de esforços de todos os partidos da coligação no poder criou algumas expectativas e faz acreditar que a estratégia estabelecida pode funcionar para as futuras eleições, Em Khon Kaen o candidato do partido Democrata, se bem que perdendo para ao Pheu Thai por uma grande margem (143.000 vs 36.000) viu a sua votação aumentar mais de 6 vezes pois, o mesmo candidato nas eleições anteriores tinha tido 6.000 votos. Note-se que desta vez não teve de enfrentar os anteriores concorrentes e actuais parceiros na coligação que decidiram não se apresentar.

Nas eleições de 2 de Abril de 2006 Thaksin foi acusado de conluio eleitoral por ter suportado partidos menores para concorrerem contra o seu, quando os Democratas decidiram boicotar as eleições. Este facto acabou por ser decisivo para a dissolução do partido (Thai Rak Thai) e retirada dos direitos políticos a 111 executivos do partido. Tempos distintos.

Como inicialmente referi o balanço numérico não mudou e mesmo a oposição pode ver alguns ganhos quer em Nakhom Ratchasima quer em Ayudhaya mas o facto é que o clima geral no seio da coligação no poder é de que a estratégia que estão a implementar está a produzir os seus frutos e futuras eleições podem ser vistas de uma forma mais optimista para o lado de Abihisit que poderá vir a avançar com a dissolução do Parlamento por alturas de Abril – Maio de 2011.

Há muito trabalho em cima da mesa da oposição se querem retomar o poder e penso que os seus dirigentes a cada dia estão disso mais conscientes.

Entretanto a UDD, o movimento vermelho, também cada vez mais independente do partido seu aliado, levou a cabo durante três dias em Bangkok uma manifestação, com bastante sucesso um numero de participantes, que decorreu sem incidentes apesar de ser esta a primeira vez que acontece uma manifestação que se arraste por três dias desde os tristes incidentes de Maio passado.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Chófer e Trintanário(s)

Já mais de uma vez me referi ao "poder" dos desenhos caricaturais e o publicado ontem no The Nation é extremamente ilustrativo sobre quem está na condução.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Populismo?

O governo de Abhisit Vejajjiva na sua reunião de ontem mostrou ao país que não só está preocupado e empenhado nas eleições intercalares do próximo Domingo como está a pensar já nas eleições que irá convocar no próximo ano se tudo correr de feição neste dia 12.

Assim, o Concelho decidiu o seguinte:

- Uma linha de crédito individual até 5 milhões de baht para taxistas e moto-taxistas (eternos aliados dos vermelhos) para "melhorar as suas condições de vida" segundo se lê na decisão;

- Manutenção do preço do diesel (artificial) abaixo da barreira psicológica dos 30 baht/litro;

- Inclusão dos 24 milhões de trabalhadores com contractos de trabalho temporário no sistema de segurança social contribuindo os trabalhadores com 100 baht/mês e o governo com o restante;

- Aumento do salário mínimo em 11 baht dia, já a partir deste dia 9. A Federação da Indústria já afirmou que esta medida terá como consequência o aumento dos custos de produção em 5%;

- O Ministério do Comércio foi entrtetanto encarregado de assegurar que o preço dos bens essenciais de alimentação não sofre aumentos;

Numa decisão separada, o Ministro do Interior, afirmando não necessitar de alterar o seu orçamento visto ter verbas acessíveis de outras rubricas orçamentais e portanto ter autonomia para tal, decidiu aumentar os executivos das autarquias em 100% (não é engano é 100 – cem -).

Saúdam-se todas estas medidas que ajudam o povo mas fica sempre, para além da certeza do verdadeiro objectivo, em nada escondido, uma pergunta!

Porque é que quando estava na oposição o partido Democrata criticou fortemente medidas exactamente iguais (o apoio aos taxistas foi mesmo menor - 1 milhão) tomadas pelo partido do poder na altura, o partido de Thaksin?

Quando será que, em todo o mundo, já que isto não se passa só na Tailândia, os partidos políticos e os seus líderes, irão ser chamados a assumir a responsabilidade pelas suas palavras e afirmações. Qual será o sistema político que permitirá àqueles que votam terem no poder gente de uma só palavra e interessada em servir os interesses daqueles que no fim pagam os seus salários com o seu trabalho e os seus impostos?

Repito isto acontece quer aqui quer em Portugal quer em qualquer outro país do Mundo tenha ele o regime político que tiver.

Entretanto o Programme for International Students Assessment (PISA) 2009 da OCDE acabou de vir a lume e traz muito más notícias para o país. Num universo estudado de 65 países a Tailândia queda-se por um muito modesto 50 º lugar com todas as notas significativamente abaixo da média registada (422 vs 492 em leitura, 422 vs 496 em ciências e 419 vs 496 em matemática básica).

Há muito para reflectir, muito para trabalhar e muito para mudar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

83 Aniversário do Rei Rama IX

A vida corre calma em Bangkok e as comemorações do 83 aniversário do Rei Rama IX decorreram sem incidentes e com a pompa habitual.

O reverendo monarca deixou uma vez mais o hospital onde se encontra desde Setembro de 2009, a segunda vez num muito curto espaço de tempo, para se dirigir ao Palácio adjacente ao Templo do Buda Esmeralda onde na sala do trono conhecida pelo nome de Amarin Winitchai, recebeu os dignitários e para eles, e para todo o povo através da Televisão, falou durante cerca de 7 minutos deixando uma mensagem simbólica sobre o dever dos tailandeses pensarem nos outros e praticarem o bem colectivo.

Numa altura em que as divisões existentes na sociedade continuam fortes e bem visíveis a mensagem foi bem escolhida já que nenhum grupo, nenhuma cor ou sentido político se pode dela apropriar pois ela é dirigida a todos os tailandeses de todos os cantos do país e sectores da sociedade.

Do ponto de visto da especulação política, que sempre é feita nestes momentos, a aparição do Rei um público foi comparada com a última que aconteceu ao mesmo local, aquando da celebração dos 60 anos do seu casamento. Os principais comentários aparecem relacionados com a forma como a televisão cobriu o acontecimento. Na anterior visita a Rainha era constantemente foco de "clos-ups" e as câmaras focaram os intervenientes principais. Chai Chidchob, o presidente do Parlamento, Abhisit, o PM e o general Anupong, à altura o Chefe do Estado-maior do exército, isto para alem dos outros membros da família real presentes.

Nesta última saída do Rei, em tudo semelhante com a anterior, a Rainha nunca foi focada, aliás foi sempre vista num muito discreto plano, embora se pudesse observar estar mais magra e eventualmente fatigada, (note-se que este é a primeira aparição pública da Rainha desde que saiu do hospital de Chulalongkorn, faz mais de dois meses). Quem mereceu honras de focagens mais de perto foi o Príncipe herdeiro, Chai, Abhisit mas desta vez nem uma imagem do novo, todo-poderoso CEMA, Prayuth Chan-ocha.

Nas ruas acotovelavam-se muitas pessoas ávidas de verem "o seu Rei" e de o saudarem com o habitual "longa vida Majestade". O dia terminou com uma grande manifestação promovida pelo Governo, onde estavam todos os dignitários e funcionários superiores, cerimónia que aconteceu ás 7:29 da noite, uma hora considerada auspiciosa para o Monarca. Nessa festa foram lançados 84.000 balões, um número impressionante e relativo ao início dos 84 anos do Rei altura em que completa o 7º ciclo da sua longa vida.

Até ao final da semana haverá um pouco por todo o país celebrações relativas à ocasião mas já nenhuma mais contará com a presença do Monarca que, por exemplo hoje, se faz representar na recepção ao corpo diplomático pelo herdeiro o Príncipe Vajiralongkorn.

Dois outros eventos agitam também a capital.

As próximas eleições intercalares no próximo Domingo onde a coligação no poder testa a força actual do partido da oposição e a esperada visita de Thaksin Shinawatra, na próxima semana e a convite do Senado americano, a Washington DC, para testemunhar num painel de Direitos Humanos acerca dos acontecimentos recentes na Tailândia. O Ministro Kasit já começou de novo a agitar a questão da extradição do fugitivo ex PM dizendo que o acusador público deveria actuar mas este já disse que isso não era um assunto deles, como se solicitar a extradição de uma pessoa não tenha de ser devido àquele estar acusado de um crime que tal o justifique e portanto necessite de um mandado internacional de captura para tal.

O facto é que a Tailândia nunca solicitou à Interpol a captura do condenado Thaksin, apesar de tal facto ter sido anunciado vezes sem contas pelo MNE Kasit, e será extremamente improvável que o consigam fazer a tempo desta vez, isto para não se referir o mérito ou não dum eventual pedido.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ernâni Lopes

Morreu Ernâni Lopes um dos mais importantes economistas que "virou" político em Portugal.

Tive o raro privilégio de conhecer Ernâni quer como "patrão" aquando da sua Presidência do Conselho de Administração da Portugal Telecom quer pessoalmente, em convívio de amigos, nas muitas reuniões das Soroptimist em que ambos acompanhava-mos as nossas mulheres e também no Fórum dos Administradores de Empresas durante os meus muitos anos de Direcção.

Portugal muito deve a este homem. Lembro-me bem de ele me dizer que quando chegou ao Ministério das Finanças e "abriu o cofre" viu que estava vazio. Foi a partir de aí que começou a preparação para a adesão de Portugal à União Europeia baseada na consciência de que se torna imperioso cumprir regras no que respeita as Finanças públicas. Pena que por vezes nos esqueçamos dos ensinamentos deste grande professor e português e à frente dos deveres para com o país sejam postos os interesses dos políticos.

Ernâni nunca deixou de ser rigoroso e a empresa que criou e dirigia, a SaeR, era disso um exemplo bem vivo.

Foi uma luta longa, muito longa, com altos e baixos e sempre acompanhado pela Isabel. Infelizmente uma luta que veio a perder tal como nós perdemos esse grande, verdadeiro e devotado português. Era um homem de família e de fé.

Para a família, em especial a Isabel, um muito obrigado por tudo aquilo que ele fez e tudo que fizeram para o ajudar nessa empresa

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Saga Continua

A questão da sentença do Tribunal Constitucional está para ficar e agora fala-se que a sentença sobre o caso ainda em apreciação, a doação irregular de 258 milhões de baht, poderá ser acelerada para meados do presente mês.

O próprio PM disse ontem que a sentença podia ser fácil de entender mas que o partido Democrata tinha muito trabalho pele frente para conseguir explicar ao povo a sua essência.

De todos os cantos soam vozes falando da estranha forma como acabou por ser decidido o caso e o mais espantoso é que aqueles que estão neste momento a ter uma reacção mais comedida são exactamente os oponentes do partido anteontem "absolvido".

O Pheu Thai somente disse estranhar o facto de não ter sido notado logo à partida que o processo tinha uma irregularidade processual e está a estudar a possibilidade de interpor uma acção de apreciação judicial da questão de fundo. Os Democratas violaram ou não a lei dos partidos políticos ao utilizarem os dinheiros provenientes do fundo eleitoral para um fim diferente daquele que a lei estipula?

A UDD pelo seu lado proibiu os seus membros de se manifestarem contra a decisão afirmando que tal facto será prejudicial para o futuro do movimento.

Aqueles que mais se manifestam contra a estranheza de decisão e pedem a demissão em bloco da Comissão Nacional de Eleições, como forma de mostrar o seu profundo desagrado, são os próximos do partido do poder e da sua base de apoio. O PAD aproveitando a onda veio ontem criticar fortemente o governo considerando-o o "mais corrupto na história do país".

Mas a nota mais espantosa que recebi (email que já reli várias vezes) veio de um Conselheiro do Presidente do partido Democrata, o próprio PM Abhisit, e professor de uma das mais prestigiadas Universidades da capital que num artigo escreve o seguinte:

a) Se a decisão é tomada na base do facto de que a queixa foi apresentada fora de prazo porque se perdeu tanto tempo e dinheiro arrastando o processo durante todo este tempo?

b) Se todos sabem contar correctamente de 1 a 15 (o prazo máximo para interpor a acção) porque é que a decisão do Tribunal não foi unânime mas sim por uma maioria de 4-2?

c) O sistema judicial é claramente o elo mais fraco do sistema democrático tailandês pois só mesmo o "peixe miúdo" é apanhado. Lembra no seu escrito, também, o caso do político Sanoh próximo de Thaksin mas agora coligado com o poder, que viu o caso contra ele sobre a apropriação ilegal dos terrenos onde está construído um dos mais elitistas campos de golfe perto da capital, prescrever pois "durante 20 anos não foi possível concluir a investigação"!

Citando um ex Diplomata tailandês, actualmente professor e investigador no Instituto de Estudos Asiáticos de Singapura, afirma que "as elites só acreditam no partido Democrata e que o mantêm no poder a qualquer custo, inclusive manchando a reputação dos Tribunais".

Esse iminente Professor termina o seu artigo afirmando que aqueles que acusam o país de ter uma política de dois pesos e duas medidas estão profundamente errados pois não são dois standards diferentes para o mesmo caso são 4 ou 5 os que existem, como afirma.
Também hoje num muito interessante artigo de opinião no jornal The Nation, Thulsathit Taptim, um feroz inimigo de Thaksin, lembra hoje o caso contra o então PM em que o mesmo Tribunal decidiu favoravelmente a Thaksin por 7 contra, 4 a favor e 4 abstenções (tendo as abstenções sido juntas com os votos a favor para adulterar a decisão) no caso em que o então PM era acusado de usar "cabeças de turcos" para esconder o facto de ser o proprietário do império de telecomunicações que sempre deteve.

Thulsatit compara os dois casos e afirma que nada se discute acerca de questões de direito ou de princípios mas de quando "será a vez do outro" facto que agora calhou aos Democratas. Afirma ainda que os Democratas, e Abhisit, não se podem queixar do fugitivo ex PM pois actuam como ele e que o partido de Thaksin, o Pheu Thai não se pode queixar de "double standards" pois estão na origem dessa prática corrente a dualidade de critérios.

Acaba o editor chefe do jornal dizendo aquilo que muitas vezes se diz: "Somos um povo que merece o sistema político que temos"

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ecos de Hoje e o Futuro

O dia nasceu marcado pelos ecos da sentença do Tribunal Constitucional que evitou o julgamento do partido Democrata sobre o primeiro dos casos em que é acusado de uso irregular de dinheiros.

As manchetes dos jornais quer de língua inglesa quer de língua tailandesa exaltam fundamentalmente a questão porque é que se perdeu tanto tempo, e dinheiro, com um caso, que no entender do Tribunal Constitucional, não deveria sequer ter visto a luz do dia. Porque é que a primeira instância não deu logo pelo erro processual? Como é que Apichart Sukkhagganond, o presidente da Comissão Nacional de Eleições, nomeado para o cargo no dia a seguir ao golpe de Estado de 2006 e um Juiz de longo curriculum cometeu um erro grosseiro e mesmo assim nenhum dos seus colegas da CNE (esta votou por unanimidade acusar o partido Democrata) nem os juízes de primeira instância deu pelo lapso?

São estes os principais títulos que se podem ler hoje e os artigos de opinião mais relevantes falam de "vitória técnica" dos Democratas. No fim acabou por não se saber se o partido cometeu o crime de "lavagem de dinheiro" (do qual vinha acusado) visto não ter havido nenhuma apreciação sobre o mérito da acusação.

Abhisit ganhou espaço para respirar e pode por certo encarar o próximo caso contra o seu partido (doação de 258 milhões de bath valor muito superior ao permitido pela lei dos partidos) de que está igualmente acusado. De qualquer maneira este caso nunca irá a julgamento antes do segundo semestre do ano que vem embora se refira ás eleições de 2007.

A agenda política de Abhisit vai agora concentrar-se, por certo, em três pontos: as próximas eleições intercalares de 12 de Dezembro, a alteração da Constituição cuja segunda aprovação pelo Parlamento terá lugar entre Janeiro/Fevereiro e, se tudo correr de feição a convocação de eleições para uma data que andará por volta do final do primeiro semestre de 2011.

As eleições de 12 de Dezembro serão um teste á capacidade do partido da oposição "thaksinista" (note-se que o ex PM visitará esta semana o Vietname e o Laos sem que a Tailândia consiga interferir contra tal junto dos seus parceiros da ASEAN) especialmente em dois círculos no nordeste do país – Khon Kaen e Korat. Nos outros círculos será normal que a vitória pertença quer aos Democratas quer a um dos parceiros da coligação mas naquelas duas províncias a coligação decidiu só apresentar um candidato contra o candidato do Pheu Thai no sentido de testar a capacidade de derrotar o partido vermelho. Ao contrário das eleições de 2007 onde o Pheu Thai enfrentou um conjunto de partidos irá agora ser testado contra um só candidato apoiado por todos os partidos (6) da coligação no poder e desse modo terá de redobrar os esforços para manter as posições anteriores. Se não o conseguir isso será um sinal de que a coligação, bem unida, poderá arrebatar aos "thaksinistas" um número significativo de Deputados na zona de influência daqueles.

Aceita-se assim que se essas eleições correrem de forma positiva para a coligação no poder logo que aprovadas pelo Parlamento as duas alterações constitucionais, facto sempre lembrado por Abhisit como pré condição à realização de eleições, o PM possa sentir-se confiante e convocar eleições para os finais do primeiro semestre do próximo ano.

Todo este mapa tem contudo alguns obstáculos para além daqueles já mencionados.

Ontem o Vice-primeiro-ministro Suthep saiu a terreiro atacando fortemente o movimento amarelo do PAD comparando Sondhi L., o seu líder, com Thaksin dizendo que eles são iguais (dois demónios foi a expressão utilizada) e que o único interesse que manifestam é usar os seus meios de comunicação social em proveito próprio e contra os interesses do país. Parece serem essas afirmações um prenúncio de que o processo contra aos "amarelos" devido à ocupação dos aeroportos irá para a frente mas o facto é que já criou uma onda de protesto vindo das hostes do PAD que anunciou uma manifestação de força para o próximo dia 11. O movimento amarelo que foi uma das alavancas para colocar no poder o governo do PM Abhisit vê-se agora criticado duramente por uma dos pilares da coligação e atirado para a mesma prateleira dos seus inimigos os "vermelhos".

Do lado deste últimos há também algumas questões por resolver. Primeiro as centenas de militantes que se encontra em prisão sem nenhuma acusação. Mesmo tendo em conta a ainda manutenção do Estado de Emergência, tal facto constitui já uma violação da lei. Segundo, a sentença criou ainda mais animosidade junto das hostes vermelhas e ontem mesmo houve manifestações na província. A UDD anunciou igualmente uma grande manifestação par o próximo dia 10, um dia antes da manifestação do PAD.

Quer a sentença de ontem quer as palavras de Suthep aumentaram a profunda divisão existente na sociedade e hoje um movimento da sociedade civil, o Conselho do Povo, dizia que todos os partidos deviam ser dissolvidos pois eles não representam os interesses do povo mas unicamente os interesses da classe política sediada em Bangkok. Há uma visível separação entre os políticos envolvidos nos jogos de poder na capital e os eleitores a braços com graves problemas como ainda recentemente as cheias que não só mataram cerca de 300 pessoas como destruíram grande parte do labor das gentes do campo com a destruição das colheitas. A ajuda dada pelo Governo neste último caso foi um exemplo disso quando os distritos onde não vai haver eleições em Dezembro acabaram por "ser esquecidos" e nos outros os 5.000 bath que o Governo atribuiu a cada família foi distribuído pelos candidatos dos partidos da coligação como de uma verdadeira campanha eleitoral se tratasse.

Este é por certo o maior desafio da Abhisit. Credibilizar as suas palavras com acções que não consegue assegurar pois acabam sempre por ser levadas a acabo pelos "controleiros" locais, fundamentalmente pertencentes aos seus parceiros de coligação, e servirem unicamente os seus objectivos de poder.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Julgamento!

A muito esperada sentença no caso que opunha a Comissão Nacional de Eleições contra o partido no poder acaba de ser tomada.

O caso arrastava-se há cerca de dois anos e vinha atraindo as atenções dos actores políticos do país.

Em todos os anteriores casos, 10 no total, em que a dita Comissão propôs que o Tribunal Constitucional julgasse um partido político por irregularidades cometidas quer em campanha eleitoral quer na utilização de fundos públicos ou doações irregulares, todos sem excepção acabaram com o partido sendo dissolvido e os seus executivos afastados da política por um período de 5 anos.

Os casos mais relevantes foram os dos dois partidos, TRT de Thaksin Shinawatra e PPP, o seu sucessor, tendo este levado á queda do governo de Somchai Wongsawat, que causaram fortes danos na actual oposição visto 220 dos seus mais importantes políticos estarem sem direitos políticos até, uns Maio de 2012 e outros Dezembro de 2013.

A perspectiva era deste modo alta e faziam-se as mais variadas apostas e conjecturas sobre o que iria acontecer.

Seria dissolvido o partido Democrata? Seria Abhisit banido de toda a actividade política pelo prazo de 5 anos? Seria o partido de alguma forma penalizado mas salvos os seus executivos de modo a que Abhisit pudesse continuar a governar o país? Seria que ia haver um novo golpe de estado, como Abhisit referiu por duas vezes na semana passada e ainda hoje o General Prayuth desmentiu?

Este verdadeiro "totobola" dominou os últimos dias na perspectiva do que poderia acontecer.

Caso Abhisit caísse quem seria o PM Ministro interino? Hoje os jornais falavam do veterano Sanan do partido Chart Thai Pattana, mas também se falou do Ministro da Defesa Prawit homem que seria sempre bem visto pelos olhos dos militares.

A expectativa era assim grande. A leitura da sentença começou às 14:00 e a televisão que eu estava a seguir, em directo do tribunal, avançava que a leitura da sentença poderia durar até 6 horas visto os juízes por certo se concentrarem primeiro na explicação dos preceitos legais e processuais deste longo e volumoso processo.

Enganaram-se todos e a montanha pariu um rato.

A sentença foi rápida e simples.

Ao fim destes quase dois anos os juízes do Tribunal Constitucional descobriram que o processo tinha sido iniciado irregularmente por ter sido excedido o prazo para interpor a acção e assim o caso simplesmente não foi aceite.

Acabou por não ser emitida nenhuma sentença sobre o mérito do pedido (violação da lei dos partidos através da utilização irregular de fundos) e foi simplesmente apreciada a questão processual.

Será que se poderia ter feito tal dois anos atrás evitando assim a sensação, agravada, de que existem dois pesos e duas medidas no sistema judicial tailandês?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Amarelos de novo na Rua


Os camisas amarelas, desta vez multi-coloridos, ou PAD voltaram à rua desta vez para se manifestarem em frente ao Parlamento tailandês contra a decisão do Governo de avançar com uma proposta de alteração de dois artigos na Constituição.

Desde sempre o PAD tem dito estar contra qualquer alteração do texto pois alegam que por detrás das alterações está sempre a ideia de avançar com uma amnistia que beneficie o antigo PM Thaksin Shinawatra.

Sondhi L. o principal líder amarelo "atira-se" ao seu aliado o PM Abhisit dizendo que ao avançar com o projecto de revisão constitucional Abhisit está a mostrar a sua verdadeira cor (supostamente o vermelho) e que os seus apoiantes ficam a saber que ele não trabalha para o povo!

Em questão está a alteração do artigo 190 e de um conjunto de artigos 93 a 98. No primeiro caso pretende regular-se de uma forma mais clara quais são os tratados ou acordos internacionais que necessitam de prévia aprovação do Parlamento e no segundo caso a alteração tem a ver com a mudança no número de Deputados e na criação de círculos diferentes passando a ser eleito um só Deputado por círculo. Com esta última alteração o parlamento passa dos 480 lugares para 500 sendo que o número de Deputados eleitos em listas nacionais passa para 125 contra os 100 actuais.

A mudança para um Deputado por círculo vem de alguma forma favorecer os pequenos partidos (supostamente na coligação governamental) pois se conseguirem ter candidatos bem interligados com os votantes têm mais capacidade de ganhar e esse facto tem causado alguma insatisfação no seio do partido Democrata. Por outro lado o aumento do número de Deputados a ser eleitos em listas partidárias nacionais favorece os maiores partidos (Pheu Thai de Thaksin e Democratas de Abhisit) visto serem estes os partidos com uma maior representação e força a nível nacional.

Como se vê as mudanças não são substanciais nem sequer mexem com nenhum dos tabus existentes na Constituição (amnistia para os golpistas de 2006 – art. 309 – ou retirada de direitos políticos aos executivos dos partidos – art. 68) e por isso a manifestação do PAD nada mais é do que uma manifestação de propaganda e com outros objectivos bem escondidos.

Está agendado para o curto prazo a sentença sobre as acusações pendentes sobre os líderes do movimento pela ocupação dos aeroportos da capital há dois anos e por isso torna-se necessário mostrar que o movimento está vivo e é capaz de retornar às ruas se necessário. Por outro lado existe nele um certo descontentamento com o Governo de Abhisit que dizem ser demasiado conciliador.

Parecem ser mais estas as razões que levam que hoje se "mostrem" de novo ao público de Bangkok embora segundo informações prestadas pela comunicação social o número de manifestantes não ultrapasse os 1.000.

Um forte contingente da polícia foi destacado para o local fazendo que haja na zona mais polícias do que manifestantes.

Desta vez o Comandante-chefe do Exército não disse que uma manifestação era perigosa ou indesejada como o fez na semana passada a propósito da manifestação dos vermelhos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Educação e Formação

O país está horrorizado com a descoberta na morgue de um templo de milhares de fetos humanos provenientes de clínicas de aborto clandestinas.

No país a prática da interrupção voluntária da gravidez só é permitida em casos de violação, incesto ou de haver perigo para a vida da mãe.

Todos os outros casos são ilegais mas com o crescendo número de menores que acabam engravidando o recurso ao aborto ilegal é comum especialmente nessa população jovem e estudantil.

Esta questão é sempre uma questão extremamente dificuldade de ser resolvida ou mesmo discutida devido aos tabus culturais, sociais e religiosos vigentes.

Se por um lado é condenável pelo outro ao ser consumada o melhor é que seja feita com todas as garantias médicas e psicológicas para todos os envolvidos.

No fundo a questão tem é de ser resolvida através da prevenção e de acções formativas e educativas.

A educação das pessoas é sem dúvida a melhor medicina para praticamente 100% dos males das sociedades actuais.

Informação correcta e independente, acesso generalizado e sem medos a essa informação aconselhamento eficaz dos professores e da família e acima de tudo bons exemplos capazes de mostrarem às gentes jovens o caminho certo são os grandes ingredientes para que a sociedade obtenha um colectivo pleno de capacidades e fortalezas para enfrentar os desafios diários.

Como em todos os cantos do Mundo aparecem agora imensas propostas para rever a lei sobre a interrupção da gravidez mas ainda não li nenhuma proposta para introduzir na escola mais informação e formação específica sobre as condutas perigosas que poderão abrir as portas para actos indesejados como estes..

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Seis Meses

Passam hoje 6 meses sobre os dramáticos acontecimentos passados no centro de Bangkok que terminaram com a manifestação da UDD.

Para comemorar esse dia os "camisas vermelhas" voltam à cidade e ao local (Rajaprasong) onde se irão manifestar para reafirmarem os ideais pelos quais muitos deles lutaram durante aquelas 9 semanas.

Manifestam-se também por aquilo que aconteceu após o avanço das tropas nesse dia 19 de Maio.

Desde então encontram-se presos, sem acusação centenas de manifestantes, líderes e simples militantes de uma causa diferente daquela que prossegue o governo. A falta de acusação dessas pessoas tem sido permanentemente lembrada ás autoridades tailandesas inclusive em fóruns internacionais onde o PM Abhisit participa visto constituir uma violação grosseira dos direitos humanos. Abhisit afirmou recentemente após regressar das cimeiras de Hanói que o seu governo estava a trabalhar para "ajudar" os presos a obterem a devida representação jurídica facto que de alguma forma foi de imediato contraditado pelo Ministro da Defesa, e responsável pelo ainda existente CRES (centro para a resolução do estado de emergência!), quando afirmou que dependia do PM a libertação ou não dos detidos. Hoje mesmo Abhisit volta a afirmar que essa libertação tem de ser determinada pelos tribunais, quando é um facto que a larga maioria dos detidos nunca foi presente a nenhum juiz.

Esta questão a forma atrapalhada como está a ser conduzida pelo governo em nada ajuda a um clima de apaziguamento das iras "vermelhas" facto que se desejaria.

Outra questão que está a ser cada vez mais atacada é o relatório do Departamento da Investigação Especiais (DSI). Nesse documento o DSI afirma basicamente só conseguiram determinar a causa da morte em alguns corpos e que todos são provocados pelas forças "vermelhas". Quando posteriormente confrontados com essas afirmações o General Tarit, Comandante do DSI refere que todos os outros caos necessitam de mais investigação. Triste foi ouvir o General afirmar que os corpos encontrados no templo adjacente ao Siam Paragon, que tanta consternação causou a todos, foram baleados com projécteis vindos de uma posição superior em altura e ao mesmo tempo ter confirmado que seis elementos das forças armadas estavam estacionados nas linhas do metropolitano exactamente por cima do templo. Contudo o general disse não ser possível estabelecer nenhuma relação entre esses soldados e os tiros que acabaram por matar quer manifestantes quer duas enfermeiras da Cruz Vermelha que ali estavam a prestar apoio humanitário. Então os tiros são disparados dessa posição, os soldados estavam lá e se não foram eles de que forma estavam eles a proteger as pessoas como seria seu dever? Por outro lado porque é que o General se recusou a responder se as balas que atravessaram os corpos eram provenientes de equipamento utilizado pelas forças de segurança.

Passaram-se seis meses e nada se sabe, não há sinais da tão apregoada, desejada e necessária reconciliação e todos pretendem meter debaixo da alcatifa o pó que foi levantado na altura e os corpos daqueles que pereceram sejam eles vermelhos, amarelos, verdes ou azuis. O que deveria contar era só as três cores do Reino, Vermelho, Azul e Branco essas sim as que vêm unindo o povo ao longo dos anos.

Outro elemento que parece trabalhar também no sentido da desunião é o novo comandante supremo do exército que ontem afirmou que a manifestação anunciada para hoje dos vermelhos é indesejada, mas não o fez aquando há uns 10 dias os amarelos se manifestaram ás portas do parlamento nem em relação à manifestação que o PAD já anunciou para os próximos dias 23 a 25.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Viktor Bout e a Justiça

O alegado traficante de armas Viktor Bout foi ontem extraditado para os Estados Unidos numa operação relâmpago bem diferente da forma como todo o processo tinha sido conduzido até aqui.

Preso em Março de 2008 Viktor Bout viu o seu caso ser apreciado duas vezes pelos tribunais que negaram o apelo de extradição dos EEUU até que num terceiro apelo em finais de Agosto foi condenado a ser extraditado.

Como na altura relatei as autoridades americanas enviaram de imediato um avião para levar Bout mas o caso, sem que se entendesse muito bem porquê, parou alegadamente porque teria havido um novo pedido americano que deveria ser observado antes do tribunal se pronunciar em definitivo. Mistérios da justiça tailandesa sempre difícil de entender.

O facto é que o "meter os pés pelas mãos" das autoridades levou a que houvesse muitas especulações sobre as verdadeiras causas do "flop" da execução da sentença do tribunal.

Desta vez sem alarido nenhum, sem que a comunicação social conseguisse dizer o que quer que seja (ou até porque foi calada) o PM Abhisit decidiu extraditar Bout e no curto espaço de uma hora foi colocado num avião e "despachado" para os EEUU com a clara e bem visível presença de agentes da autoridade americanos a actuar livremente.

A própria mulher do prisioneiro só soube do que estava a acontecer quando chegou á prisão para visitar o marido e tomou conhecimento que este já estava metido num avião pronto a descolar.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros Russo emitiu uma nota que distribuiu à comunidade Diplomática e á imprensa extremamente violenta. Lê-se na nota que o governo de Abhisit e as autoridades judiciais cederam a "uma pressão sem precedentes exercida pelos EEUU " para mais à frente afirmar que isso "é uma clara interferência na administração e na justiça facto que põe em questão a independência do sistema de justiça tailandês". Termina afirmando que "lamenta que as autoridades tailandesas tenham capitulado a pressões externas para levar a cargo a extradição ilegal de Viktor Bout". As autoridades russas afirmam ainda irem continuar a lutar por todos os meios possíveis para que a legalidade e a justiça seja feita neste caso e foi decidido accionar acções penais contra as autoridades tailandesas envolvidas neste caso em virtude da "grossa violação da lei".
Era sabido que não haveria solução simples para este caso mas o facto do executivo de Abhisit se ter exposto totalmente e deixado envolver na teia dos interesses das duas superpotências só mostrou a inexperiência de muitos e a falta de qualidade e independência do sistema de justiça local.

Sobre este diga-se que ontem, e quase ao fim de 6 meses, foi feito o primeiro anúncio sobre as investigações levadas a cabo para determinar quem teria sido o(s) causador(es) das mortes ocorridas durante os incidentes com os "camisas vermelhas" em Abril/Maio último. Esse anúncio não podia deixar de ser mais infeliz. Dos 89 casos em investigação (3 não o estão porque já foram anteriormente identificados os culpados) a comissão só conseguiu concluir sobre 12 e, coincidências, todas as mortes foram "causadas pró acção dos vermelhos". Há cerca de 45 dias ouvi, directamente da boca do Presidente da Comissão, eu e mais quatro pessoas presentes nessa reunião, exactamente o contrário.

Vícios privados transformados em virtudes públicas.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Corrupção


Três acontecimentos coexistem neste momento no país e entre eles há uma ligação que se dispensaria.

Após as eleições (?) realizadas na vizinha Birmânia através das quais os generais tentam obter a certificação e continuação da sua ditadura de vinte anos, tem havido em vários pontos da longa fronteira com a Tailândia escaramuças com os movimentos armados de várias etnias que resistem à tentativa do governo central de os controlar e aniquilar. Há registos de centenas de mortos nos confrontos mas no que respeita à Tailândia há um novo fluxo de refugiados a cruzarem as fronteiras e a serem colocados em campos de acolhimento temporários visto os campos de refugiados geridos pela comunidade internacional estarem saturados com os cerca de 160.000 refugiados aí registados. Os confrontos na fronteira já fizeram inclusive feridos do lado da cá da fronteira devido ao fogo que (sem passaporte como os refugiados) atravessa os estreitos riachos que separam os dois países. As autoridades tailandesas têm usado extrema cautela pois sabem que qualquer acto de retaliação pode fazer estalar um conflito latente que ninguém deseja. Desse modo têm mantido conversações com as forças militares do outro lado de forma a recomendar que sejam evitados todos esses incidentes transfronteiriços.

A história dos campos de refugiados é uma história infelizmente bastante obscura e isso não é devido às pessoas que acorrem a pedir auxílio. Há abertura regulares para que mais refugiados possam ser acolhidos ao mesmo tempo que muitos dos países doadores acolhem pessoas que se encontram nos campos. Isso seria o processo normal e com um sinal positivo se não fosse por si manchado por forte corrupção no alinhamento daqueles que acedem às novas entradas e saídas. As autoridades que controlam os campos (as ONG só podem fazer a gestão dentro do campo mas o escrutínio de quem entra e sai é-lhes vedado) escolhem a dedo quem lhes paga para ter essa sorte de aceder a um campo que lhes pode proporcionar um futuro.

Outra história é a das cheias que continuam a flagelar o país um pouco por todo o lado. Os dados oficiais apontam para que 60 das 76 províncias estão ainda afectadas pelas cheias, 203 pessoas são dadas como mortas (fora os desaparecidos) e os prejuízos para a economia do país são tremendos. O governo e muitas instituições e pessoas anónimas acorreram a criar fundos de apoio mas é agora sabido que a maioria desses fundos acaba nos bolsos de oportunistas fundamentalmente funcionários estatais que vão acumulando à custa da desgraça alheia.

A terceira é o facto de estar a decorrer em Bangkok a 14ª Conferência Mundial Contra a Corrupção, ontem aberta pelo PM Abhisit. Larga audiência de mais de 1.300 delegados vindos de 135 países reúne-se durante 4 dias para debater esse flagelo mundial chamado Corrupção. Abhisit falou bem ontem e não se escondeu detrás de cortinas enfrentado a realidade no seu país. Contudo uma coisa é um discurso de valores, de intenções e outra a prática possível num país onde mais de 80% das pessoas entende que a corrupção é um "facto da vida" e onde mais de 1/6 dos gastos em concursos públicos acabam desviados do seu objectivo como afirmou ontem o presidente da Comissão Nacional Contra a Corrupção (NACC).

Abhisit sabe bem o que é esse cancro, como lhe chamou o presidente da NACC, pois convive com ele no seu gabinete e nos seus parceiros de coligação que o ajudam a manter no poder (lembre-se que o partido de Abhisit não é o que tem mais Deputados no Parlamento). Os escândalos que têm envolvido este governo, apesar da credibilidade do seu PM e de alguns dos Ministros da sua "entourage", são já bem superiores aos que aconteceram durante o período thaksinista facto que fez com que a Tailândia descesse fortemente nos dois índices mundiais que são medidos quer pelas Nações Unidas e pela Transparency International.

Não há que estar aqui a culpar isoladamente o país já que este é um fenómeno mundial. O que importa é combater desde cedo estas questões e lutar por uma ética nos negócios e entre os agentes do estado que dignifique o país.

Um jovem presente na conferência e representante de um movimento africano de Juventude contra a Corrupção perguntou a Abhisit o que é que a Tailândia estava a fazer para ensinar desde o inicio da escolaridade princípios de boa ética e viu-se pela resposta do PM que há ainda muito, mesmo muito, trabalho pela frente.

E esse trabalho é de todos nós e devemos lembrar uma coisa que Abhisit referiu. Não há "boa corrupção". A velha ideia de que se o agente corrupto produz trabalho está perdoado não é, de igual modo, aceitável.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Hu Jintao em Portugal

A visita do Presidente Hu Jintao a Portugal trouxe para as primeiras páginas dos jornais portugueses a "ajuda" que a China pode dar a Portugal nestes tempos tão conturbados para o país, o seu povo e a sua economia.

A questão tem de ser vista num contexto muito mais vasto do que a simples visita de um chefe de estado e a assinatura de alguns acordos que o Governo português usa para sua promoção e publicidade interna.

Não é por acaso que a revista Forbes considerou este ano Hu o homem mais poderoso do Mundo relegando para um plano secundário Obama que tinha ganho o mesmo "título" no ano passado.

A diplomacia externa Chinesa da era Hu Jintao tem sido uma das componentes mais fortes da politica desta potência. A abertura do país à política dos dois sistemas começou com Deng mas Hu entendeu que haveria muito mais a fazer do que somente deixar que algumas zonas do país ganhassem um desenvolvimento desproporcional com outras. Aliás esse desenvolvimento não corrigido era por si só uma ameaça á estabilidade necessária para o desígnio da nação chinesa de "conquistar o mundo".

Hu corrigiu algumas assimetrias, introduziu métodos mais consistentes com as necessidades dos seus clientes ocidentais (lembre-se a forma enérgica como foram condenados os falsificadores do leite para crianças), e tem continuado a política de Deng de ser o banqueiro dos Estados Unidos com a diferença de que estendeu essa prática a outros países especialmente aqueles que podem contribuir para ajudar a China nesse seu propósito de dominação pela força da sua economia.

As próximas cimeiras da APEC e do G-20 são mais dois passos na verificação do domínio chinês e da forma como esse domínio no sector financeiro é a "salvação" das economias mundiais em crise no ocidente. Essa mesma foi já a expectativa da cimeira dos Ministros das Finanças da APEC reunidos esta semana em Kyoto.

Vários países ainda têm dúvidas sobre acreditarem ou não no crescente poderio chinês, Brasil incluído, mas aqueles têm a paciência necessária para esperar e continuar a sua política de suavemente tomarem posições nos vários fora mundiais.

O Fundo Monetário Internacional na sua reunião de Sexta-feira passada colocou a China como a terceira voz mais importante no seu Conselho, depois dos EEUU e do Japão.

O governo chinês soube durante a crise económica dos últimos 18 meses, e que ainda subsiste em parte, impulsionar a procura interna de tal forma que mostrou ao mundo que o facto de a procura externa ter decaído, devido aos problemas no ocidente, não era um impeditivo para o desenvolvimento da economia na China e que este país pode ser o motor da recuperação. A permanente batalha entre os EEUU e a China sobre o valor do Yuan, acaba sempre por ser ganha pela China que abre um pouco a gaveta quando quer e a fecha no momento seguinte. Mesmo as questões dos direitos humanos (exemplo o recente Nobel atribuído ao activista Chinês Liu Xiaobo), não conseguem criar obstáculos na progressão ao mesmo tempo suave e firme dos avanços do "império amarelo".

A visita de Hu a Portugal e os grandes ecos feitos sobre ela não podem deixar de ser desassociados da próxima presença de Portugal no Conselho de Segurança das Nações Unidas e da estratégia global da China em aproximar-se do Mundo de língua portuguesa (Brasil e Angola especialmente) devido aos seus recursos naturais, tão necessários para o apoio do crescimento económico chinês. A China através de imensos mecanismos, financeiros e económicos, tem hoje uma presença forte e determinante nos dois referidos países. Em 2004 quando Angola estava num momento de grave crise financeira foi o governo da China que avançou com dois pacotes de 10 mil milhões de dólares cada que foram usados como um balão de oxigénio para a nação africana. Nesse momento o país já não conseguia dar garantias para os empréstimos externos e a China soube contornar esse problema para em vez de pedir petróleo pedir o desenvolvimento das infra-estruturas que hoje estão a ser feitas por empresas chinesas em Angola. A China é de um pragmatismo que não tem comparação com a mentalidade ocidental e dessa forma, que apelidei atrás de suave e firme, vão avançando e conquistando as posições, quer nos países quer nas organizações internacionais, que lhes darão de mão beijada a liderança a curto prazo do curso da história do nosso planeta.

Será bom, será mau? O tempo o dirá mas o facto é quem ignorar esta realidade está de olhos e ouvidos tapados e é por certo cego.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fotos do Sul











A situação mantém-se crítica na província de Songkhla fundamentalmente na cidade de Hat Yai onde nalgumas zonas as águas atingem os 3 metros de altura.

As fotos falam melhor do que as palavras.

Por todo o país há um movimento de apoio e recolha de fundos para ajudar as vítimas tendo o Rei e a Rainha sido os primeiros a contribuir dando o exemplo.

Ontem pela primeira vez ouvi vozes de profundo desprezo por uma manifestação que estava em curso, promovida pelo PAD, dizendo as pessoas que o melhor que tinham a fazer era irem para o Sul e ajudar as pessoas. O povo começa a entender que por vezes os agrupamentos políticos só se preocupam com os seus interesses imediatos e não com os reais problemas do povo e do país.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cheias no Sul

Bangkok está a gozar um tempo de Primavera como há muito não se sentia com temperaturas no meio dos 20 graus centígrados enquanto no resto do país, Centro e especialmente no Sul as cheias vão tomando conta de muitas áreas.

De acordo com as informações do Ministério do Interior cerca de 15% da população do país está a ser afectada directamente pelas cheias e nalgumas zonas tem havido evacuações massissas.

A cidade de Hat Yai, no sul da Tailândia, é neste momento a mais afectada sendo a situação crítica. As autoridades decidido cortar todo o fornecimento de electricidade e da água estado esta a ser oferecida ás populações somente pelos serviços de socorro.

O governo disponibilizou uma verba de assistência de urgência de 5 mil milhões de Euros para poder fazer frente aos mais necessitados.

A situação em toda a província de Songkhla obrigou ao encerramento de todas as escolas, bancos e comércio visto as águas terem neste momento mais de 1,50 de altura basta observar na fotografia abaixo o sinal indicativo da rua.

O Primeiro Ministro Abhisit já deixou Bangkok para se inteirar pessoalmente da situação e foram enviados dois barcos da Marinha tailandesa para ajudar no apoio às populações afectadas. Há também relatos de que na ilha de Samui a água atinge a altura de 1,30-1,50 em várias zonas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lisboa não fica atrás

Lisboa quis mostrar que nós também temos cheias e desdobrou-se em esforços para ultrapassar Bangkok o que conseguiu com alta classificação.

Ainda não está ao nível das cheias no centro da Tailândia mas a desordem urbanística e o desleixo dos escoamentos fez com que muitas artérias da baixa lisboeta se transformassem esta manhã em verdadeiros rios como se pode ver nas imagens.






Água



As cheias continuam a ser o tema central na Tailândia.

A zona central do país está "debaixo de água" e o número de mortos ascende já a uma centena mas há também a registar um número não conhecido de desaparecidos.

Anuncia-se agora que o pior para Bangkok pode surgir no dia 8 de Novembro quando a maré no Golfo registar o seu ponto mais alto e entretanto as comunidades ribeirinhas vão se preparando algumas já com os pés bem dentro de água.

O pior contudo continua a ser a zona centro como referi com especial foco nas província de Lop Buri e de Auythya onde a água persiste em manter-se bem alta apesar da melhoria das condições climatéricas. Os solos estão tão saturados que as águas não conseguem ser absorvidas.

Há inúmeras povoações isoladas e nalgumas províncias os pontos secos transformaram-se em ilhas só acessíveis por helicóptero.

O povo tailandês continua a sua bonomia e como se pode ver nas imagens enfrenta as adversidades de uma forma tão natural e tão diferente daquilo que nós ocidentais o fazem.

Pode ver-se uma rapariga na sua casa meia inundada que não quer perder o seu programa de televisão e numa outra um residente enfrenta as águas para tentar apanhar peixes que vêm arrastados nas correntes. Note-se também a serenidade do monge ao enfrentar água quase pelo pescoço.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

As Cheias


Apesar da presença de Ban Kii-moon em Bangkok as cheias não podem de deixar de ser a notícia principal.

Até ao momento estão contabilizados 56 casos fatais e há centenas de milhares de pessoas afectadas sanitariamente pelas cheias devido fundamentalmente à falta de água ou à sua contaminação.

O Governador de Bangkok apelou às autoridades que tentassem moderar os fluxos de água das barragens na parte superior do Chao Phraya visto a zona ribeirinha do rio estar já totalmente tomada pelas águas que continuam a subir. Ontem na estação de Pak Klhong Talat, o mercado das flores junto ao tempo do Wat Po ou templo do Budha reclinado, as águas tinham atingido 2,23 metros acima do nível do mar. De igual modo a corrente no rio é forte o que provoca preocupações caso haja pessoas ou bens que sejam envolvidos pelas águas.

Outro dos problemas em Bangkok, para além das zonas adjacentes aos canais da cidade, é a zona de Lat Krabang, transversal norte-sul a leste da capital a não muito longe do novo aeroporto, que para além de ser uma zona pantanosa está a sofrer os efeitos da construção desse mesmo aeroporto que nalgumas das suas frentes funciona como barragem às águas naturais que por ali deveriam correr e se acumulam inundando grandes áreas.

Nós homens ditos sapientes temos, por todo o Mundo, a brilhante ideia de construir projectos em cima das correntes naturais de água, que dizemos estarem secas, e quando estas são em grande volume não conseguem encontrar as saídas e criam albufeiras que tudo destroem.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cheias em Bangkok

A água avança rápido sobre Bangkok e o governo prepara um plano de evacuação das populações das zonas ribeirinhas, quer junto do rio quer dos muitos canais da Veneza do Oriente como antigamente era chamada a cidade.

Até agora foram contabilizadas 41 vítimas fatais e os prejuízos para o país e para as pessoas em bens e em perdas de rendimento futuro, fundamentalmente na agricultura, são muito significativos.

O povo tailandês tem contudo uma relação muito especial com a água, fonte de riqueza e de purificação, que está bem ilustrada na fotografia acima.

A Tailândia é mesmo a terra dos sorrisos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Inundações


Mesmo em Portugal não posso deixar de sentir a ansiedade com que se vive neste momento em muitas áreas na Tailândia devido às cheias que assolam grande parte da zona central do país.

A maioria das províncias nessa zona estão "debaixo e água" e estão contabilizados até agora 37 vítimas mortais das piores inundações de há muitos anos.

Várias barragens não resistiram e tiveram de ser abertas ou viram as suas barreiras serem galgadas pelo volume da águas.

Em meados da próxima semana espera-se que essas águas cheguem à capital o que conjugado com a alta maré dos dias 26 e 27 irá por certo fazer com que o Chao Phraya salte do seu leito e tome conta das margens.

O Governador de Bangkok tem andado incansável a tentar proteger a cidade e oxalá os esforços das forças de prevenção consigam minorar as cheias visto que uma coisa é certa. O volume de água é tanto e os solos estão tão empapados que não há duvidas que elas virão por aí abaixo em direcção ao Golfo da Tailândia que por si também está cheio.

Como dizia hoje um jornal "todos os olhos estão postos no rio".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Fragilidade Ética e Moral


Num artigo assinado por Pravit Rojanaphruck, o jornal The Nation trás hoje um artigo com o título " A corrupção é a norma actual na Tailândia?".

O artigo começa com uma declaração/pergunta que é preocupante: "Há alturas em que se pergunta se a sociedade tailandesa é corrupta na sua alma e faliu moralmente já não tendo salvação"

Posteriormente apresenta três casos, não daquilo que vulgarmente se chama corrupção ou seja da venda de interesses ou influências para ganhos próprios, mas exemplos de corrupção moral que é aquela que o articulista quer desenvolver com a sua pergunta inicial.

O PM ABhisit nomeou várias comissões, na sequência dos incidentes de Abril/Maio que tantas pessoas vitimaram, com o objectivo de por um lado inquirir sobre o que aconteceu e por outro apresentar ideais capazes de iniciar uma plataforma de reconciliação nacional.

Sabe-se que estas comissões estão sem fundos e sem pessoas para desenvolver o trabalho, o que as torna praticamente inúteis mas há que dar algum crédito à iniciativa do PM e acreditar que algo pode sair de ali.

O artigo de Pravit debruça-se sobre estas questões.

Primeiro refere factos relacionados com o novo comandante supremo do exército, General Prayuth Chan-ocha, um homem tido por pertencer a uma linha dura e ultra conservadora mas que tem tentado estender um ramo de oliveira, porventura muito curto, ao movimento vermelho que o acusa de ter sido o homem por detrás de toda a operação contra a UDD. Prayuth acaba de promover a posições de comando relevantes aqueles que se distinguiram na ofensiva contra o movimento vermelho de 19 de Maio sabendo-se que está em curso um inquérito sobre quem disparou sobre quem e muitos dedos estão exactamente apontados a esses militares. Deste modo o general concluiu antes do tempo e assumiu para si a autoridade de decidir.

O segundo caso tem a ver com um artigo publicado no Manager online, o jornal pertencente ao PAD, portanto sectário mas que ao contrário dos jornais vermelhos não foi encerrado, em que um Senador, Kammon Sittisamarn, um dos principais cérebros do movimento amarelo, incita o governo a prender o activista vermelho Sombat por este ter organizado a manifestação do dia 19 de Setembro, que para espanto de todos atingiu proporções muito acima das expectativas da polícia, afirmando que aquela manifestação (que correu com toda a ordem e civismo) era pior do que " uma revolução armada".

O terceiro caso diz respeito á constante negação da realidade pelos membros das comissões de iniciativa governamental recentemente criadas para proceder ás investigações dos incidentes da passada primavera. Embora escolhidos e nomeados pelo Primeiro-ministro os membros das comissões insistem que são independentes. Não se põe em duvida as boas intenções da alguns desses membros (o conhecimento pessoal que tenho de alguns permite-me dizer isso, embora não possa escrever o que de eles ouvi) mas o facto é que as comissões são uma criação de Abhisit e os seus membros escolhidos pelo PM, sendo que se louve o facto de este ter tentado encontrar pessoas o mais isentas possível.

O golpe de estado de 2006 foi feito com a intenção de limpar o país da corrupção do então PM Thaksin Shinawatra, Passados quatro anos o país caiu para pior posição no índice mundial dos países mais corruptos e os casos com que o PM Abhisit se vê a braços são de proporções nunca vistas. Outro dia um Vice-primeiro-ministro do presente governo dizia-me, referindo-se ao líder de um parceiro de coligação, que esse indivíduo era "a thief" ou seja um ladrão. Um elemento do National Security Council disse-me também há dias, e sobre o mesmo indivíduo, que ele era o pior cancro que tinha existido desde sempre na Tailândia.

Estes casos e os da corrupção moral referidos por Pravit estão a colocar o país numa situação extremamente perigosa e complicada com prognósticos difíceis de entender.

Abhisit é necessário ao país mas tem de ser um Abhisit com o caminho limpo e capaz de executar a sua política não a política de outros.

Pravit Rojanaphruck é um articulista independente e escreve regularmente artigos no The Nation abordando muitas vezes os temas miliatres.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Inundações

Já por várias vezes referi a importância da água como elemento essencial na vida dos tailandeses.

Está sempre presente nos bons e nos maus momentos. Celebra-se o ano novo tailandês, o Songkran ou festival da água, atirando água uns aos outros naquilo que era antigamente um acto de purificação de limpeza para começar um novo ano mais liberto das "sujidades" acumuladas.

A água é essencial para o cultivo do arroz elemento fundamental na vida e no quotidiano dos tailandeses. Os campos alagados são os mais propícios ao desenvolvimento dos arrozais alimento para muitos quer através da alimentação que fornecem quer através do dinheiro que se pode fazer com a sua venda.

A água é também o último dos purificantes quando a vida termina e num funeral um dos rituais consiste em verter água sobre símbolos do falecido.

A água é assim também sinal na morte e sinal de morte pois as inundações que regularmente, dir-se-á todos os anos, acontecem fazem as suas vítimas e este ano estamos a sofrer uma dos piores anos do há algumas décadas. O centro do país (Korat, Pichi, Saraburi, Chayaphum, Nakon Sawan. Lop Buri, Ahyuthia e Suphan Buri) estão fortemente afectadas pelas águas que atingem mais de um metro de altura e parece que o pior estará ainda para acontecer visto as barragens terem atingido a sua capacidade máxima e terem de ser abertas sob pena de rebentarem sendo o caso mais preocupante o da barragem Chulaporn em Chayaphum.

A Tailândia há muito que necessita de um forte investimento na gestão dos recursos hídricos do país pois onde há inundações numa parte do ano há também seca na restante parte do ano.

Ontem o PM Abhisit deslocou-se, primeiro de helicóptero para observar a dimensão da grave situação que se vive neste momento, fundamentalmente na província de Koral, e posteriormente percorreu de barco uma parte da cidade capital da província onde por exemplo um hospital com mais de 1.000 doentes, alguns em estado crítico, está totalmente isolado só sendo acessível por barco. Uma grande operação está neste momento em curso para tentar transferir os doentes por um lado e para fazer chegar quer os técnicos de saúde quer mantimentos por outro de modo a amenizar a eminente catástrofe.

Em Bangkok espera-se que nos próximos dias as zonas ribeirinhas, quer do rio Chao Phraya quer dos canais, fiquem inundadas.

A situação é preocupante e a requerer medidas urgentes mas as grandes medidas têm de vir de todos nós que insistimos em destruir o nosso planeta.