sexta-feira, 9 de julho de 2010

Notas sobre a Reconciliação

Quatro dos líderes da UDD, Veera, Dr. Weng, Natthawut e Wiputhalaeng saíram ontem da prisão onde se encontra às ordens do Departamento de Investigações Especiais da Polícia, aguardando ser ou não indiciados pelos crimes de que podem ver a ser acusados, para serem constituídos arguidos, pelo Tribunal Criminal, pelo facto de em 2007 terem organizado uma manifestação junto da residência do Presidente do Conselho Privado do Rei, o General Prem.

Os dois últimos dos detidos apresentavam-se com as pernas agrilhoadas com correntes de ferro uma prática no país mas humilhante para os presos a meu ver. Já tive a oportunidade de presenciar detidos nessas condições, em visitas a cadeias, e é com alguma dificuldade que se presencia tal "espectáculo". Pessoas a caminharem descalças com as duas pernas agrilhoadas com uma corrente presa a uma argola que algema também as mãos. Pior ainda quando ele é trazido para as primeiras páginas dos jornais violando a privacidade das pessoas. Presos ou não todos os seres humanos têm direito a serem tratados com dignidade, e os detidos em questão ainda nem sequer estão indiciados por nenhum crime, embora continuem detidos á ordem dos inquiridores já que a lei do Estado de Emergência permite que tal facto se prolongue sem serem acusados.

Entende-se agora porque é que os militantes da UDD que encerraram os aeroportos da capital durante 9 dias ainda não foram chamados a tribunal. Pelos vistos as acusações ainda vão no ano de 2007 e aqueles facto, bem como a ocupação e destruição de todo o exterior da Government House ocorreu em 2008. Teremos então de continuar a esperar embora saibamos que há os casos como os de muitos que foram posteriores e já estão os autores incriminados.

Ainda no que respeita o movimento vermelho, o exército decidiu duplicar o número de soldados anteriormente anunciado para a "Campanha de Alfabetização versão tailandesa" para 20.000. Será agora este contingente que irá "explicar" ao país a acção das forças armadas em Maio passado. Entretanto o Pheu Thai decidiu recrutar 100.000 (cem mil) voluntários para observarem de perto aquela acção dos militares.

Entretanto o Dr Niran Pitakwatchara, membro da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, visitou uma base militar em Saraburi e uma prisão em Bangkok, onde se encontram presos, sem acusação, militantes vermelhos e declarou o seguinte "muitos de entre os detidos não têm advogado, não foram autorizados a contactar a família e não recebem tratamento médico".

O Comissário disse ir agora visitar prisões em Khon Kaen, Udon Thani, Ubon Ratchasima, Amnart Charoen, Mukdaharn, Chiang Rai, Chiang Mai e Kanchanaburi para inspeccionar as condições de outros detidos. Há relatórios de diariamente serem feitas prisões, um pouco por todo o país, já que não é necessário obter mandado de captura nem evidência de violação da lei para que os militares procedam a detenções.

O PM Abhisit, apesar da Polícia e do Internal Security Operations Command (ISOC) terem negado a existência das anunciadas bases de treino de militantes no uso de armas, veio defender o seu porta-voz afirmando que se Thepthai Senapong tal afirma é porque existem indícios de existir.

Entretanto o famoso pianista Russo, Mikhail Pletnev, acusado de sucessivos abusos sobre menores em Pattaya, foi libertado sob fiança e já se encontra em Moscovo. A União Europeia tem repetidamemnte solicitado ao Governo do país que os pedófilos que são capurados não sejam libertados sob fiança, como sempre acontece, já que depois saiem do país sem serem formalmente acusados e portanto não será possível levar a cabo acções nos seus países de origem quando a Polícia tailandesa e o sistema de Justiça (?) não colaboram.

Assim continua a Justiça e vai andando o processo de reconciliação nacional.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ainda a Decisão do Governo


Os ecos da decisão do governo de manter o Estado de Emergência continuam a fazer-se ouvir por todo o lado e hoje o Matichon dizia ser "triste constatar que o Governo não encontra outras medidas, senão o decreto de urgência para remediar as divisões no país".

O Thai Rath por seu lado afirmava o seguinte: "As autoridades actuais deveriam lembrar-se que os ditadores do passado que utilizaram o estado de emergência para governar o país foram destituídos e apelidados de traidores da nação".

Estas afirmações de dois dos mais lidos jornais diários de língua tailandesa são bastante fortes e reflectem o sentido de muitos que não vêm na imposição de tais medidas mais do que uma forma de pressão dos militares sobre o governo civil de Abhisit.

A presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, a Dra. Amara Pongsapitch, como já referi, uma tradicional apoiante deste governo, informou que a comissão irá chamar para prestar declarações os responsáveis do CRES, do Departamento de Investigações Especiais da Polícia e do gabinete do Procurador de Justiça, para que possam explicar factos aliados á aplicação do Estado de Emergência e a sua necessidade.

Em mais uma declaração caricata, a que nos habituou tal a sua regularidade, o porta-voz do Partido Democrata disse que existem no país três bases, indicando os locais (Korat, Kanchanaburi e arredores de Bangkok), onde estão a ser treinados militantes vermelhos para posteriormente procederem a ataques armados contra edifícios do governo ou pessoas a ele conotados. Em qualquer país o senhor seria chamando à polícia para prestar declarações que tão úteis seriam para ajudar a desmantelar essas redes, sob pena de se tornar cúmplice daqueles actos. Aqui não é tão somente um acto de propaganda político partidária para reforçar a posição do governo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Decisão do Governo

Como previsto mas contra a opinião da grande maioria (associações e confederações empresarias, sondagens, académicos, representantes da sociedade civil, etc) o governo decidiu prolongar a imposição do Estado de Emergência por três meses, ou seja até passada a remodelação dos sectores militares mas retirou do conjunto de 24 províncias 5 que no entender do CRES não registam nenhuma instabilidade (sic). Várias pessoas lembram que no Sul do país o Estado de Emergência está em vigor à 5 anos e o facto é que a situação não melhorou muito pelo contrário. Nos últimos meses os incidentes têm sido mais violentos causando mais vítimas.

São elas Kalasin, Sisaket, Nakhon Phathom, Nan and Nakhon Sawan, as duas primeiras no Nordeste, a terceira a Oeste de Bangkok, Nan no Norte e a última no Centro do país.

Ainda ontem o Ministério dos Negócios Estrangeiros falando sobre os alertas aos turistas afirmava que só um país do Médio Oriente tinha levantado por completo as restrições ao trânsito de nacionais, esquecendo-se de referir que o primeiro a dizer que existe instabilidade, é o próprio CRES facto que o governo abençoa.

Na realidade para quem vive aqui não existe mais instabilidade do que aquela que existe na Áustria (para referir um país do qual se fala pouco) e a manutenção da situação nada mais é do que uma forma de continuar e perpetuar a "limpeza" que está a ser feita pelos militares em todo o país e para continuar a gozar do orçamento extraordinário de que foi dotado o CRES, facto que tem levantado inúmeras questões em vários cantos da sociedade. Uma das medidas também ontem anunciada foi a decisão do comando do exército de enviar 10.000 dos seus homens, por certo com generosos per diem, por todo o pais para "explicar" a acção levada a cabo pelas forças armadas em Maio. Como era esperado essa acção vai incidir sobretudo no Nordeste do país, a zona vermelha, e já se teme que isso acabe no aumento de prisões arbitrárias ao abrigo do Estado de Emergência, pois quem discorde pode ser chamado a "explicar-se". Ainda ontem, a mais que insuspeita Comissão Nacional dos Direitos Humanos afirmou, através da boca de um dos seus comissários, afirmou que estavam a ser violados os direitos de mais de 2/3 dos detidos na ressaca do Maio vermelho, pois, entre outros factos, não os autorizavam a contactar as famílias nem mesmo para dizer que estavam vivos.

Quase caricato foi algumas das "razões" usadas para suportar a manutenção do Estado de Emergência.

O porta-voz do Primeiro-ministro disse que era conhecido existir vários locais no país onde activistas vermelhos eram treinados no uso de armas! Se é conhecido e estando em vigor o Estado de Emergência porque não se põe cobro a isso, já que tal, se for verdade é uma ameaça real para o país?

Suthep disse que tinha de ser mantida a lei porque os vermelhos iam lançar uma nova estação de televisão para colmatar a falta da People's Channel cujo sinal foi cortado pelo governo (recorde-se que os meios de comunicação amarelos, incluindo uma televisão, que são tão facciosos como os vermelhos, continuam no ar)! Então o governo não é o próprio a querer uma comunicação social livre como consta do ponto três do Road Map para a reconciliação? Se fechou por várias vezes o canal vermelho não o pode voltar a fazer agora sem necessitar da lei?

Por fim o CRES afirmou que os vermelhos estão à espera que seja levantado o Estado de Emergência para regressar às manifestações! Quer isso dizer que não é mais possível haver manifestações, ou oposição ou que o Estado de Emergência irá ser prolongado indefinidamente ou até à total supressão da oposição?

No fim de contas quem sofre é o país e a sua reputação. Basta para isso ouvir os noticiários internacionais onde todos, sem excepção, referiam que "apesar dos apelos dos agentes económicos o governo do PM Abhisit Vejjajiva decidiu estender o período da lei de excepção por mais três meses". Foi em síntese esta a mensagem que ouvi repetidamente esta manhã.

O PM, embora tenha falado na abertura de um forum sobre investimento não se manifestou sobre a decisão que o seu gabinete tomou.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Bangkok e o Sul

Já há dias relatei que a sede do Partido Bhum Jai Thai foi alvo de um atentado à bomba que fez um ferido mas não causou danos maiores.

Este e outro incidente vieram no momento em que a comunidade em geral solicita ao Governo que levante o Estado de Emergência.

Comenta-se que estes actos foram organizados para suportar a tese do governo de que o país está ainda instável e portanto é necessário continuar com grande vigilância.

Ontem foi apresentado um abaixo-assinado por associações empresariais e académicos solicitando o levantamento do Estado de Emergência e até a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, tradicionalmente sempre alinhada com o governo, fez semelhante pedido. De vários cantos da comunidade internacional vieram os mesmos ecos.

Hoje o Conselho de Ministros deverá aprovar a proposta do CRES para manter o estado de Emergência por mais três meses, uma medida que segundo muitos tem a ver com a imunidade que se quer garantir para os comandos militares e também garantir a transferência de poderes militares que acontece a 1 de Outubro sem sobressaltos.

Interessante neste episódio foi o facto do Governo do Reino do Camboja ter rapidamente apanhado os dois suspeitos do atentado e decidido repatriá-los para a Tailândia.

Deste modo ontem aterraram em Bangkok um casal que é tido por ser o principal suspeito no caso. Ficaram à custódia da Polícia aguardando serem ouvidos pelo tribunal que por certo irá determinar a prisão.

Os suspeitos, sem surpresa, negam o envolvimento no acto de que são acusados, mas referem, vá lá saber-se porquê, que são simpatizantes da UDD. Tal facto faz as manchetes dos jornais. O movimento vermelho pelo seu lado afirma que desconhece os suspeitos e não os reconhece como "seus".

Duas perguntas ficam no ar sobre esta estranha operação.

Porque é que as manchetes dos jornais destacam o facto de serem "vermelhos", criando um cenário de acusação pública, em vez de descreverem o contexto do que aconteceu ou mesmo fazerem alguma investigação sobre quer a explosão quer sobre o comportamento do Governo de Hun Sen?

Segundo porque é que o "grande inimigo" Hun Sem capturou e decidiu extraditar estes dois indivíduos no curto prazo de dois dias, quando é sabido, e relatado diariamente, que dois dos mais importantes cabecilhas da UDD, acusados de terrorismo pela justiça tailandesa, se encontram no território onde se passeiam animadamente, segundo os relatos, em Boi Phet e em Siem Reap?

Que interesses estão por detrás desta súbita aproximação de dois países que ainda estão sem Embaixadores nas respectivas capitais?

Seria interessante entender a verdade sobre toda esta história, já que aquela que nos é contada soa muito desconchavada.

Entretanto no Sul do país, aparentemente sem que isso tenha grande importância para a comunicação social, morreram nos últimos dias uma mão cheia de militares, daqueles que recebem, por dia, menos de metade do que os seus colegas que servem no ar condicionado do CRES em Bangkok. Tal facto tem aumentado o desconforto na corporação.

Ainda o Mundial

Sem comentários

Consultar o Povo

Como parte do plano de Reconciliação Nacional o PM Abhisit lançou uma mega operação entitulada 63 milhões de vozes tentando obter a opinião dos Tailandeses sobre as necessidades sentidas e quais as mensagens que queriam transmitir ao Governo para acção.

As pessoas eram chamadas a ligar para um número que o governo pôs à disposição ou a enviar emails para o sítio do PM. No lançamento do programa o próprio Abhisit esteve no Call Centre para atender a chamadas e anotar o que ia sendo dito.

Clara acção de propaganda, como sempre o são por mais bem intencionado que seja o proponente, que acabou sendo um tiro no pé.

O prazo para a campanha foi curto: de 1 a 6 de Julho.

O número de linhas disponíveis reduzido: 300 linhas.

O processo pouco claro e lançado à pressa: anunciado escassos dias antes de começar.

Conclusão. Ao fim da primeira hora o sistema intupiu com tantas as chamadas feitas tornando-se inútil a presença de Abhisit e irritando os respondentes. Quando foi retomado as queixas eram mais do que as sugestões. Os temas principais eram o endividamento das famílias e o custo de vida (como seria de esperar) e o próprio Abhisit foi bombardeado com insultos e impropérios que teve de ouvir.

Como mostra o cartoon do Bangkok Post de hoje o PM estará mais mareado do que esclarecido tantas são as questões que foram colocadas e a campanha que era suposto ser um trunfo a favor do Governo numa campanha de boa imagem acabou por se tornar um exercício pouco esclarecedor e demasiado custoso como o qualifica parte da comunicação social.