Tres anos no poder
As eleições parecem aproximar-se a ritmo rápido não só pelos sinais que são dados diariamente pelo PM Abhisit e pelo seu partido mas também pelo cheiro a campanha que já paira no ar.
O presente parlamento termina o seu termo a 23 de Dezembro e desse modo termina também o mandado do PM mas desde há muito que os vários sectores da oposição reclamam eleições. Um dos argumentos contra este governo é de que atingiu o poder sem que o partido dominante tivesse sido o partido mais votado e desse modo o mandado que o povo deu nas últimas eleições não foi para os Democratas governarem. O facto é que o governo saiu de um processo parlamentar e não é inédito no Mundo, na impossibilidade de o partido mais votado formar governo, de ser o segundo partido a assumir essa função sem que isso lhe retire legitimidade.
De igual forma parte dos sectores próximos do governo, os partidos coligados com os Democratas, sentem que novas eleições lhes podem trazer ganhos em número de deputados e consequente poder, vêm de tempo a tempo também a solicitar a convocação de eleições antes do termo parlamentar.
Abhisit por seu lado sente a pressão a que é submetido diariamente por variados sectores da população descontentes com a sua governação e parece claro a todos que a dissolução do parlamento com a consequente convocação de eleições antecipadas está para breve. O crescente custo de vida, dos preços dos bens essenciais com o arroz à cabeça, a falta ou racionamento de alguns como o óleo alimentar e o açúcar, a ineficácia das politicas de apoio aos menos favorecidos, a iniquidade nas políticas sobre a propriedade, etc., têm criado constantes conflitos na sociedade e hoje em dia acontecem diariamente manifestações por todo o país não relacionadas com aspectos de direitos políticos mas com o descontentamento das sociedades com o seu dia a dia e sobrevivência. Neste momento para além de umas quatro manifestações em Bangkok (a única de sentido político é a dos amarelos do PAD) as províncias de Phitsanulok e Nakhon Sawan, no centro do país, estão paralisadas pelos agricultores pedindo medidas que os protejam dos elevados custos.
Os principais partidos iniciaram não só os preparativos mas também a própria campanha e os programas mais recentes do governo nada mais são do que políticas no sentido de ganhar votos nas zonas menos afectam aos partidos no poder.
Os quatro principais partidos que se apresentarão a eleições anunciaram os seus principais objectivos:
O Pheu Thai, o herdeiro das políticas thaksinistas e o maior partido no país actualmente com 189 deputados, anunciou que o seu programa se centrará no retorno das políticas que utilizou no passado com tanto sucesso. Interessante é que as actuais políticas de Abhisit são no seu essencial uma cópia das políticas usadas pelos antecessores do Pheu Thai (embora sem resultado), algumas inclusive com melhorias, e portanto seria interessante se viessem a formar governo de ver como é que o partido thaksinista se iria sair nesse processo.
Os Democratas, do PM Abhisit, actualmente com 173 deputados, dizem ir focar as suas políticas no aumento dos rendimentos das famílias, políticas que aliás o governo começou a lançar, num sinal de pré campanha por volta de Novembro de 2010.
O Bhumjai Thai, o partido que é uma dissidência do anterior partido thaksinista liderada por Nevin Chidchob, actualmente com 32 deputados tem como objectivo duplicar o número de lugares e afirmar-se como a charneira em qualquer coligação. Este partido domina alguns dos mais importantes ministérios, Interior que controla todo o processo regional, local e eleitoral e os do Comércio e Transportes e Comunicações, ambos dotados de generosos orçamentos, que se diz serem desviados para o benefício de projectos directamente ligados com o ganho de votos. A este partido está fundamentalmente destinada a tarefa de arrebatar votos nas praças-fortes do Pheu Thai fortalecendo a possível coligação com os democratas e enfraquecendo a oposição. É sabido contudo que Nevin não tem problemas nenhuns em se encostar ao seu anterior partido se para isso for convidado. O objectivo é claramente manter-se no poder sem ter o peso de estar no comando.
O Chart Thai Pattana de Banharn Silpa-archa, o todo poderoso senhor de Suphan Buri uma província ao Norte de Bangkok, veterano da política e antigo PM, actualmente com 31 deputados é de alguma forma semelhante ao Bhumjai Thai, não só nas sua anterior coligação com os thaksinistas, mas por ser um partido também incontornável na formação de um governo no país e assim quererá manter-se. O tema principal da campanha do velho leão, já com 78 anos, será a reconciliação. Banharn conseguiu ser aliado de uns sem se antagonizar com os outros um pouco ao contrário de Nevin que é visto elo campo do Pheu Thai como um traidor, embora se saiba o pouco valor que isso tem em política.
A campanha está aberta e tudo aponta para que o PM Abhisit possa dissolver o parlamento ainda este mês ou no início de Abril processando-se o acto eleitoral nos finais de Maio inícios de Junho. Com uma pontinha de orgulho pessoal posso dizer que no início de Outubro produzi um "paper" onde traçava o calendário político futuro e todos os acontecimentos até agora vieram mostrar que acertei a 100%. Espero que assim seja também nas eleições pois as datas que acima mencionei são as que estão escritas nesse documento.
Entretanto Abhisit que iniciou de forma clara a sua campanha eleitoral já há semanas vai ter uma dura tarefa pois mesmo em Bangkok, um dos supostos bastiões dos Democratas, tem vindo a ser incomodado cada vez que aparece. Na semana passada foi no mercado de Jatujak, onde foi apupado e perseguido e ontem foi numa conferência na Universidade de Thammasat onde, enquanto falava, da assistência foram levantados cartazes dizendo "só sabes é falar" e "mãos cheias de sangue", referindo-se porventura ao facto de muitos entenderam que o PM acaba por ter um poder limitado aos seus discursos e acusando-o das consequências dos sangrentos acontecimentos de Abril-Maio de 2010.