quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cá como Lá

Esta poderia ser a "fotografia" do parlamento de São Bento só com a diferença de que não há dinheiro para tamanha estarvagância que é o aumento de salário.

Os aumentos dos políticos na Tailândia continua a ser a nota dominante do dia e as setas estão apontadas para os Deputados.

De acordo com os dados vindos a público nenhum dos 630 membros do Parlamento (480 Deputados e 150 Senadores) esteve presente em todas as votações durante a última sessão parlamentar.

Houve 39 que "heroicamente" só falharam uma votação mas há um dos Deputados, e ainda por cima dos mais antigos políticos no hemiciclo, Snoh Thienthong do partido Pracharaj, que nunca votou (não é referido se por acaso foi alguma vez ao Parlamento).

Por outro lado há um deputado, Kiat-udom Menasawat do partido Pheu Thai, que custou ao estado 627,565 baht (15,700 euros) em viagens ao seu círculo eleitoral pois viajou de Bangkok para Udon Thani, 230 vezes o que faz que, por certo, esteve por certo mais tempo num avião do que ou no parlamento ou junto dos eleitores.

Ontem mesmo foi lançado uma página no Facebook intitulada " Cremos que existem mais de um milhão de tailandeses contra os aumentos" e o primeiro dia foi um sucesso em adesões.

Assim vai o país tal qual outros que bem conhecemos.

A Generosidade de Abhisit

Como há dias referi o governo iniciou, mesmo em tempo para ter efeito nas eleições do passado Domingo, uma nova campanha de medidas populistas com anúncio de aumentos para funcionários públicos, funcionários autárquicos e aumento generalizado do salário mínimo, bem como o congelamento dos preços de alguns bens nomeadamente o gasóleo.

O salário mínimo acabou por ver o aumento substancialmente reduzido por pressão das confederações patronais, ficando-se por valores entre os 3 e os 7% mas o grande presente de Natal destas medidas acabou por cair no sapatinho do governo que com efeito imediato (reinicio da sessão parlamentar em Janeiro) verá os detentores de cargos políticos receberem aumentos entre 5 e 14,9% sendo que todos os Deputados receberão mais 14,7% e os Senadores 14,9%. Os mais baixos (5%) vão para os membros do governo.

Recorde-se que os funcionários públicos só verão a cor do "novo dinheiro" (aumento) em Abril de 2011.

A medida anunciada com grande realce em todas as primeiras páginas dos jornais caiu muito mal na generalidade do público mas é um claro sinal do conforto sentido pelo poder na actual situação após as decisões de arquivar os processos contra o partido Democrata "por erros processuais" (nunca se vai saber se violaram ou não a lei desta forma), a manutenção das vozes da oposição caladas e a "compra generalizada de votos" que ocorreu no passado Domingo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eleições de Domingo

Decorreram ontem as eleições destinadas a preencher os lugares de Deputados que perderam os seus mandados por irregularidades visto serem detentores de acções em empresas estatais facto que é considerado estar em conflito com a sua posição de "representantes do povo".

Passado o pormenor de que dois dos Deputados banidos recuperaram os seus lugares, como se bastasse reparar a forma da falta sem atentar à conduta, analisemos o que ontem se passou.

A votação não trouxe nenhuma alteração numérica nos lugares ocupados. Nem a coligação no poder nem a oposição ganharam nenhum lugar mantendo-se assim o equilíbrio existente.

A corridas ás urnas foi bastante fraca, abaixo dos 40% em alguns círculos, o que, embora bastante abaixo da expectativa de 50-55%, pode ser considerado aceitável visto serem eleições sem uma incidência nacional e portanto com uma campanha muito mais reduzida e por ocorreram durante um fim de semana prolongado de três dias, devido ao feriado do Dia da Constituição, o que foi propício para uma escapada para fora dos círculos de voto. Outra questão importante foi o facto de as eleições terem decorrido com total acalmia e sem relatos de nenhum incidente.

Muitos analistas consideram que pouco se pode extrair, em termos de análise política, das eleições do passado fim-de-semana contudo há vários pontos a merecerem por certo atenção pelos partidos em compita.

Primeiro facto é a dificuldade que o Pheu Thai está a ter para apresentar candidatos capazes de atraírem os eleitores. As suas caras mais conhecidas ou estão banidas da política, ou presas ou afastadas da linha da frente ficando o encargo da disputa dos lugares para segundos planos. Segundo, é bem visível a dificuldade que o partido tem com a falta de liderança e o peso que o facto de o comando estar fora, Thaksin, tem sobre todo o conjunto do partido, dos candidatos e dos eleitores. Terceiro, o nome do próprio Thaksin parece não ser já um elemento que "arraste multidões". Por final, de lado contrário, o partido da oposição enfrenta uma máquina bem recheada de meios e dinheiro provenientes dos meios governamentais e públicos, difícil de combater. Mesmo em Khon Kaen, onde a vitória do Pheu Thai foi significativa, os meios e a visibilidade da campanha do candidato Democrata eram incomparavelmente maiores.

Do lado da coligação no poder o partido Bhum Jai Thai controla com perfeição a máquina eleitoral e autárquica facto que consegue através da distribuição clínica das verbas e dos lugares ao seu dispor. Exemplo disso foi o aumento dos executivos autárquicos em 100% anunciado na semana passada numa clara intervenção no processo eleitoral. Note-se que se esse facto se passasse com o partido da oposição seria por certo caso para um processo de dissolução do partido.

A conjunção de esforços de todos os partidos da coligação no poder criou algumas expectativas e faz acreditar que a estratégia estabelecida pode funcionar para as futuras eleições, Em Khon Kaen o candidato do partido Democrata, se bem que perdendo para ao Pheu Thai por uma grande margem (143.000 vs 36.000) viu a sua votação aumentar mais de 6 vezes pois, o mesmo candidato nas eleições anteriores tinha tido 6.000 votos. Note-se que desta vez não teve de enfrentar os anteriores concorrentes e actuais parceiros na coligação que decidiram não se apresentar.

Nas eleições de 2 de Abril de 2006 Thaksin foi acusado de conluio eleitoral por ter suportado partidos menores para concorrerem contra o seu, quando os Democratas decidiram boicotar as eleições. Este facto acabou por ser decisivo para a dissolução do partido (Thai Rak Thai) e retirada dos direitos políticos a 111 executivos do partido. Tempos distintos.

Como inicialmente referi o balanço numérico não mudou e mesmo a oposição pode ver alguns ganhos quer em Nakhom Ratchasima quer em Ayudhaya mas o facto é que o clima geral no seio da coligação no poder é de que a estratégia que estão a implementar está a produzir os seus frutos e futuras eleições podem ser vistas de uma forma mais optimista para o lado de Abihisit que poderá vir a avançar com a dissolução do Parlamento por alturas de Abril – Maio de 2011.

Há muito trabalho em cima da mesa da oposição se querem retomar o poder e penso que os seus dirigentes a cada dia estão disso mais conscientes.

Entretanto a UDD, o movimento vermelho, também cada vez mais independente do partido seu aliado, levou a cabo durante três dias em Bangkok uma manifestação, com bastante sucesso um numero de participantes, que decorreu sem incidentes apesar de ser esta a primeira vez que acontece uma manifestação que se arraste por três dias desde os tristes incidentes de Maio passado.