quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PAD

Boa novidade para o PAD, o movimento amarelo que tanta perturbação causou em 2008.

Uma vez mais, a enésima, o Tribunal adiou a eventualidade de processar ou prender os líderes do PAD pelo envolvimento, sabido, conhecido e demonstrado em muitos registos, na ocupação da sede do Governo durante 192 dias e dos aeroportos da capital durante 9 dias. Expeculam os "mentideros" se o facto de o candidato do PAD não ter concorrido ás eleições intercalares em Julho em Bangkok terá a ver com a decisão. O candidato do Phue Thai, o actualmente líder da UDD Khorkaew, perdeu mas conseguiu uns inesperados 42,7% dos votos o que faz pensar que se o candidato do New Politics Party (braço político do PAD) não tivesse desistido o candidato Democrata, Panich, que conseguiu 50,4% poderia ter perdido visto o NPP is buscar votos ao mesmo eleitorado.

A próxima pronunciamento será no dia 7 de Outubro, e muito provávelemente será um novo adiamento. Aliás ainda não há muito tempo ouvi, eu e muita gente visto estarmos num fórum público, um alto representante do governo, equiparado a Ministro, dizer que quem tinha encerrado os aeroportos não tinha sido o PAD mas a AOT, a empresa que gere os aeroportos no país, e só depois é que os manifestantes os ocuparam visto terem necessidade de encontrar um local para descansar. Não é brincadeira. Foi mesmo dito por esse alto representante do governo de Abhisit na presença de muita gente estupefacta. Usando estes zelosos argumentos legalistas é possível tudo argumentar.

Outros incidentes acabam por se envolver pelo meio e afinal a notícia pode não ser tão boa.

Na reunião da UNESCO recentemente realizada no Brasil, o Camboja apresentou o plano para a gestão do parque histórico do templo de Phrae Viharn que incluía um Comité de Coordenação Internacional para o qual a Tailândia foi convidada, facto que recusou, alegadamente por temer isso ser visto como uma concessão ao país vizinho na disputa que mantêm sobre terrenos não demarcados adjacentes ao templo. Contudo o Ministro tailandês presente acabou por assinar a declaração final da reunião onde estava expresso a manifestação de regozijo dos estados presentes sobre o plano de gestão apresentado, facto que foi de imediato utilizado pelo PAD para mais uma vez levantar a bandeira nacionalista dizendo que o Ministro tinha capitulado e anunciado que iria manifestar-se na Government House, este próximo fim de semana, contra essa posição de fraqueza.

O governo de Abhisit é bem conhecedor de todo o intricado problema, embora ele próprio defensor, enquanto na oposição, da tese amarela de que o templo é do Camboja mas a terra onde está assente é tailandesa, veio dar grande voz ao facto de o Conselho da UNESCO não ter tomado nenhuma decisão na sessão no Brasil e adiado para a próxima reunião esse ponto dando assim algum espaço para "dormir sobre o assunto". Hoje veio também a lume uma carta escrita pelo Príncipe Sisowath, Thomico assessor do Rei Norodom Shiamoni, uma verdadeira peça de cultura diplomática, onde o Príncipe chama a atenção para o que é mais importante neste conflito e que os dois países não devem pôr em perigo a estabilidade da região com argumentações de reclamações territoriais que irão afectar os interesses dos dois povos que têm tanto em comum. Abhisit já deu apoio ao espírito da carta embora comentasse que não conhecer todo o seu conteúdo.

A posição do PAD, mais uma vez puxando pelas emoções nacionalistas, está assim contra o espírito que o governo quer instalar de conciliação e entendimento o que já levou o Vice Suthep a avisar de que se o PAD, os sempre aliados dos Democratas, avançar com alguma manifestação essa será dispersada pela força atento o Estado de Emergência reinante na capital.

Coincidência ou não, hoje mesmo a polícia, depois de já ter confirmado que o processo contra os líderes amarelos iria ser adiado para o dia 7 de Outubro, como acima se refere, avançou que os membros do movimento que não se apresentarem na esquadra amanhã (para ouvir essa decisão direi eu) serão objecto da emissão de um mandado de captura.

Entretanto os líderes vermelhos continuam presos, excepto os que fugiram e Veera Musikapong que foi libertado sob fiança de cerca de 75.000 Euros, e ainda não foram formalmente acusados, facto que é possível devido à lei sobre o Estado de Emergência que rege todas as detenções que têm vindo a ser feitas por todo o país e que ascendem a milhares. Entretanto a Comissão Nacional para a Reconciliação, presidida pelo ex-Acusador Público Kanit na Nakhorn, solicitou ao governo que ponderasse não mostrar em público os detidos agrilhoados de pés e mãos visto tal ser uma imagem de degradação.

Assim prossegue a justiça.

Prayuth Chan-ocha

O Conselho de Ministros ontem reunido aceitou, sem alterar, a lista para a remodelação anual dos quadros superiores da hierarquia militar apresentada pelo Ministro da Defesa Prawit e decidiu enviar para que seja revista e aprovada pelo monarca Rama IX se assim o entender. Sobre o apoio dado pelo governo à remodelação importa ver este artigo no The Washington Times

Deste modo a partir de 1 de Outubro próximo, altura em que o General Anupong Paochinda passa à reforma por ter atingido 60 anos de idade no presente ano fiscal tailandês, o General Prayuth Chan-ocha será por certo o novo comandante supremo do exército um dos postos mais importantes na estrutura do sistema político/militar em vigor na Tailândia.

Desconhecer os meandros dos quartéis e das estruturas militares e da Polícia (como que a quarta força militar no país), torna impossível compreender e interpretar os factos políticos sejam eles de que naturezas forem.

Prayuth ascendeu meteoricamente na hierarquia queimando etapas para atingir o lugar de topo. Proveniente da classe 12 da escola militar (Anupong é da classe 10 - as mesma de Thaksin) passou à frente de outros que se encontravam potencialmente melhor colocados devido á sua senioridade mas foram preteridos a favor deste "falcão" proveniente do regimento "os Guardas da Rainha", aliás como Anupong e muitos dos que agora estão em lugares de chefia. Recorde-se que foi este regimento que esteve em grande destaque nos confrontos do dia 10 de Abril contra os manifestantes da UDD em que morreram 25 pessoas e ficaram feridos perto de um milhar. Entre os mortos estava um dos coronéis de elite desta força, Romklao, cujo funeral foi presidido pela própria Rainha numa homenagem "aos seus guardas".

Ao contrário de Anupong que sempre foi hesitante nas posições que pudessem de alguma forma manchar a sua carreira, isto no que respeita a tomar posicionamentos políticos claros, Prayuth é um claro apoiante do actual regime e uma voz determinada contra as intenções vermelhas. Recordo a propósito disto que há meses numa conversa com um jornalista tailandês ele me dizia que se este ano for mau (falava-se antes da crise Abril/Maio) o próximo será pior pois Prayuth não terá hesitações no que respeita ao uso da força ao contrário de Anupong.

Prayuth e Anupong têm caminhos muito semelhantes. Para além de pertencerem ao regimento real que mencionei foram ambos comandantes da 1 ª Região (a mais poderosa do país) antes de se instalarem no quartel-general. Outro homem que estará na calha e neste mesmo percurso é o General Kanit Sapitak, o actual Comandante da 1 ª Região e que se tem mantido próximo dos dois generais. Poderá vir a ser o próximo numero dois na hierarquia e vir a suceder a Prayuth em 2014 quando este se reformar.

Apesar de ter saltado duas classes (havia generais da classe 10 na lista dos elegíveis e ainda havia a classe 11 da qual fazia parte o falecido General Kathya -Seh Daeng) Prayuth conseguiu obter todo o apoio político necessário para chegar ao poder e não deverá ter dificuldades no comando pois as alterações já produzidas nas reestruturações de Outubro passado e na intermédia que tem lugar em Abril (e por certo os últimos toques para o próximo Outubro) asseguraram que os lugares de comando funcional estejam preenchidos com homens de sua inteira confiança e leais à usa palavra.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Militares e Política

Este artigo de Chambers é melhor do que inúmeros relatos que se possam ler nos jornais sobre os políticos e os partidos na Tailândia quando respeita a compreender aquilo que se passa na essência da vida política no país.

Como diz um dos comentários. É necessário ler as folhas de chá da política intra-militar tailandesa para se poder compreender o país.

A estreita ligação da aristocracia com os militares, sempre presente na vida política da Tailândia(exemplo disso é o facto de a esmagadora maíoria dos Primeiro-ministros terem vindo da área milititar), determina todos os passos que são dados mesmo pelos políticos que aparentemente estão de fora desse círculo, da mesma forma que deternima o rumo da vida no país.

Abhisit é um protegido dessa parceria. Ele próprio foi professor na mais importante academia militar e o seu pai é amigo pessoal do Presidente do Conselho Privado do Rei, também ele um militar, General Prem.

A sucessão do General Anupong, que se aproxima, é o momento de reorganizar as forças armadas em torno do novo eleito e, para quem está de fora, obervar a forma como as diversas forças se cruzam e posicionam durante este processo de escolha. Contudo a presente sucessão deverá ser mais concesual já que o General Prayuth, o provável sucessor, preparou bem o caminho especialmente durante a dispersão da recente manifestação da UDD. Mesmo assim há que observar as possibilidades do General Piroon, mais antigo e pertencente ao ramo de cavalaria, área do General Prem, que é tido como o cavalo de Troia na presente corrida.

A primeira discusão sobre as listas, que serão mais tarde apresentadas ao Rei para confirmação, deverá ter lugar hoje mesmo na reunião do Conselho de Ministros.


PS: Já depois de escrito o texto acima veio a confirmação de que o Conselho de Ministros decidiu recomendar que a lista apresentada pelo Ministro da Defesa fosse enviada, sem alterações, para aprovação real, querendo isto dizer que o General Prayuth Chan-ocha está indigitado como o próximo comandante do exército e homem forte do sistema politico/militar vigente.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Regresso a Bangkok

Três semanas de férias e três semanas em que nada escrevi. Mesmo o post que coloquei antes das eleições em Bangkok já o tinha escrito antes de partir. Era tudo tão linear e sabido que tinha a certeza de que nada se iria alterar. E assim foi.

Aqui em Bangkok a situação em pouco ou nada mudou e continua em vigor o Estado de Emergência, qual vara de condão utilizada para se continuar a proceder á "limpeza" das cores encarnadas no país. E também assim vai acontecendo.

As questões políticas mais prementes dizem contudo respeito ao foro do partido e da coligação no poder pois continuam a não ter sossego apesar dos sucessos contra a oposição. Muitas vezes se ouve dizer que os piores inimigos são aqueles que temos dentro de casa, ou seja os nossos amigos.

Ontem Suthep, o inefável Vice do governo Abhisit, disse na conferência do Partido Democrata realizada em Phuket, que estava vivendo o tempo mais difícil da sua já longa carreira de 30 anos na política, acabando por afirmar que as instituições e o sistema democrático na Tailândia estavam em risco e que uma guerra civil era possível. Esta expressão, que continua a sustentar a existência do Estado de Emergência, deve ter sido bem traduzida visto ser repetida em vários meios de comunicação sempre mencionando aquela "possibilidade", da qual, pessoalmente, não partilho.

É um facto que as acções posteriores a 19 de Maio que têm tido como objectivo acabar com a oposição e com o "thaksinismo", missão na qual o governo do General Surayud saído do golpe de estado de 2006 falhou ao permitir o regresso dos "clones" de Thaksin ao poder, criam um clima de grande animosidade nos apoiantes da causa vermelha mas esta está, ainda, enfraquecida e desorganizada. Segundo um dos líderes de uma das facções, a viver há mais de um ano no exílio, Jakrapob Penkair, a coordenação da luta dos camisas vermelhas faz-se agora do exterior o que ainda tornará mais difícil a sua condução.

Contudo ontem em Samut Sakorn, uma província às portas de Bangkok onde foi levantado o Estado de Emergência, estes realizaram uma manifestação presenciada por milhares de vermelhos, segundo os vários relatos que li, e onde Thaksin falou de novo aos seus apoiantes, facto que já não acontecia há meses. Mesmo assim a máquina do governo, operada pelos militares, é mais forte e eficaz do que a máquina de propaganda vermelha.

Enquanto estive lá fora, em Portugal, as pessoas perguntavam-me repetidamente sobre a situação no país e mostravam não compreender várias coisas. Primeiro porque é que as manifestações tinham demorado tanto tempo e segundo porque é que ninguém tinha intervindo com uma palavra de sensatez. Eram no essencial as duas perguntas que me eram feitas por quem está habituado a que as pessoas por um lado acatem a orden e a lei e portanto uma manifestação nunca pode atingir as proporções do que aqui acontece (recorde-se por exemplo que os "amarelos" ocuparam a sede do governo durante 192 dias ou seja quase 7 meses) e quando a situação começa a descarrilar existe no sistema constitucional alguém com o poder de mediação e de isenção capaz de falar para todo o país independentemente das posições de quem ouve.

O facto é que aqui na Tailândia nem o primeiro é verdade já que a permissividade, o "mai pen rai" e o facilitismo levam a que situações como as que se têm vivido nos últimos dois anos sejam "aceitáveis" e, nem o segundo, com o extremar e radicalizar de posições, torna possível encontrar alguém neutro capaz de mediar e a chefia da Nação, o Rei, não é por tradição e prática, envolvido em questões tidas por serem políticas e partidárias.

O grande desafio que se coloca no curto prazo a este Governo é o da aprovação do orçamento pois existe o risco verdadeiro de não vir a ser aprovado no Parlamento já que os Ministros não devem votar visto isso ser considerado uma questão de conflito de interesses. Esta tem sido a prática de sempre no Parlamento tailandês mas o facto de este fim-de-semana no congresso do partido ter havido um apelo ao voto dos Ministros mostra a dificuldade actual do executivo. A oposição acusa já o governo de estar a tentar aliciar alguns Deputados, que não fazem parte de coligação, com promessas de benefícios vários incluindo grossas verbas monetárias.

Para além desta questão crucial visto ser não só importante para o funcionamento do país mas também para manter coesa a coligação através dos dotações dos ministérios ocupados pelos vários partidos que a compõem, existem as negociações que serão feitas nas esferas militares e policiais respeitantes á remodelação que todos os anos tem efeito a partir do dia 1 de Outubro. Tendo em vista o presente controlo da situação que ambas as corporações têm sobre o aparelho executivo parece ser credível que as listas serão facilmente elaboradas especialmente a do exército onde o General Anupong tem praticamente tudo definido desde que há dois anos começou a organizar a força em redor dos seus aliados.

No caso da polícia, que passou um ano inteiro com uma chefia interina, facto inédito na história da corporação, visto o candidato apresentado duas vezes por Abhisit ter sido derrotado, as mesmas questões poderão vir a colocar-se de novo mas de forma menos evidente do que no ano passado.

Igualmente este mês de Agosto irá marcar, no dia 26, o 90º aniversário do general Prem, Presidente do Conselho Privado do Rei, que recorde-se continua internado no hospital desde 19 de Setembro de 2009. O General é uma figura incontornável na cena política do país pelo seu historial, carisma, facto de ser militar e pertencer ao restrito circulo próximo de Rama IX, e apesar de fazer 90 anos continua a mostrar uma forma física notável e a ser sempre uma referência aquilo que possa dizer ou mesmo o seu silêncio.