quarta-feira, 28 de abril de 2010

Impasse e Anarquia

O impasse é total.

Diariamente recebo a sagrada pergunta: Então como vai isso? Já se resolveu?

O mundo não compreende como é que foi possível deixar chegar a situação ao caos actual e como é que não é imposta a ordem.

O Ministro dos Estrangeiros Kasit Piromya dizia ontem que a comunidade internacional está preocupada com a situação política e que tem havido várias ofertas de mediação (Secretário-geral da ASEAN, Presidente de Timor-Leste e MNE da Indonésia, que eu saiba) e que isso tinha um impacto negativo no país. Entretanto chamou o decano do Corpo Diplomático para lhe dizer do seu desagrado pelo facto de ter havido vários diplomatas que visitaram o acampamento dos vermelhos e que se reuniram com "gente que quer acabar com a monarquia". Por acaso os diplomatas que ali foram reuniram-se com os mesmos que fizeram parte de delegação da UDD que teve conversações com o Primeiro-ministro.

O Governo encetou uma campanha mediática tentando criar o fantasma de que há um plano orquestrado para acabar com a monarquia no país e o Vice Suthep acaba de anunciar que será emitido um mandado de captura contra o General Chavalit se este se recusar a prestar declarações à comissão que foi encarregue de investigar este caso, já que ele é um dos principais visados. Chavalit, que serviu o país nos mais altos postos, quer políticos quer militares, há dias solicitou uma audiência ao Rei e logo foi acusado, entre outros por Abhisit de querer envolver o reverendo monarca em questões políticas. Abhisit, o próprio enquanto líder da oposição, e fazendo eco dos apelos do PAD, apelou ao Rei para que, no uso da competência que lhe dá o artigo 7º da Constituição, destituísse o governo de Samak Sundaravej e nomeasse um outro. No entendimento de Abhisit e dos seus aliados do PAD isso não constituía envolvimento do Rei em questões políticas.

Este mesmo tipo de tácticas foi utilizado no passado com péssimos resultados. Defender a monarquia é seguir o exemplo do Rei sempre próximo e a acompanhar o seu povo, como um deles, na realidade como o pai que o povo vê nele.

Abhisit disse há pouco que resignaria se sentisse ser um obstáculo político para a reconciliação nacional para logo acrescentar que o actual problema não é político mas de segurança nacional.

Há cinco ou seis semanas atrás o problema era claramente político e nada foi feito para o resolver. Ainda agora se a dissolução do parlamento for decretada, como os vermelhos pedem, eles não terão mais razão para continuar na ocupação selvagem da cidade visto ser essa aquela que dizem ser a única demanda. Portanto é empacotar e sair.
Do mesmo modo que Samak e Somchai, os dois anteriores PM durante os 192 dias de manifestações do PAD, Abhisit falhou até agora na imposição da ordem e na criação de um clima de confiança junto da população. Diz-se que não tem poder, que os militares fazem orelhas moucas aos seus pedidos, o que em parte é verdade, mas o PM tem a capacidade de destituir os líderes militares. A lei dá-lhe essa prerrogativa e não deve dizer, como ainda hoje o fez, que a imposição ou não da Lei Marcial é uma decisão dos militares. Não é verdade a lei atribui esse direito ao poder político. Só numa situação de golpe de estado, onde o poder democrático já foi subtraído é que tal está nas mãos de outrém.

Numa sociedade democrática o povo quer líderes fortes, líderes capazes de exercerem o poder que lhes foi conferido através do voto com autoridade e dentro dos princípios do respeito pelas leis do país e das convenções internacionais de que o país é signatário. É para isso que existem governos e outras instituições. A sua falta é a anarquia.

A sua falta só ajudou a insurreição vermelha a estabelecer-se como um estado dentro do estado. Quando era um grupo em Phan Fa o governo fechou os olhos. Agora que a mancha se espalhou na cidade causando tremendos prejuízos qualquer solução é muito mais complicada.

Do mesmo modo como aconteceu com o PAD em 2008, altura em que todos sabiam que o PAD estava a caminho para bloquear o aeroporto e ninguém agiu, mesmo com os pedidos do PM da altura e do governador da província da Samut Prakhan, também agora a UDD anunciou que se ia mudar para Rajaprasong e todos taparam os olhos como que convidando os vermelhos a instalarem-se onde actualmente estão.

Agora como os tirar de lá sem ser com um banho de sangue?

Sem comentários: