segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O 27º Primeiro Ministro




A Tailândia tem desde esta manhã o seu novo Primeiro Ministro, Abhisit Vejjajiva de 44 anos nascido e crida em Inglaterra onde os seus pais trabalhavam quando veio ao Mundo.

Este filho de uma elite urbana, como é apelidado hoje por vários meios de comunicação, tem uma tarefa porventura maior do que a sua experiência pode fazer crer. Já o compararam ao Pai Natal, aquele que traz boas notícias e alguma esperança especialmente quando dela muito se necessita. Pode eventualmente dizer-se que é um Obama à tailandesa.

A maioria que conseguiu, 233-198, é escassa atento ainda que no dia 11 de Janeiro haverá 30 lugares em disputa nas eleições intercalares, com fortes possibilidades de ganhos para a actual oposição, e foi conseguida após uma luta incessante pela compra dos votos com milhões de bath atirados para o colo dos Deputados, mas é a suficiente para segurar a posição de PM. Agora o que se espera é que consiga liderar todas as facções e todos os interesses que querem ser satisfeitos de forma a levar por diante este país tão necessitado de uma liderança transparente.

Abhisit era tido por alguém que nunca chegaria ao poder visto ser um elemento estranho ao modo de fazer política aqui. A única acusação que lhe é atirada é a de que terá falsificado documentos para fugir à tropa, o que a provar-se ditará a sua condenação a três anos de cadeia, mas nunca ninguém levantou a menor suspeita por envolvimento em práticas corruptas tão comuns ao funcionamento dos Partidos e dos políticos.


Contrariamente à compra de votos directamente dos eleitores, que levou à dissolução dos Partidos da antiga coligação no poder, o pagamento de dinheiro e favores aos Partidos que conseguirem fazer os seus Deputados mudarem de sentido de voto não está previsto na Constituição e como tal não é passível de qualquer procedimento criminal pelos órgãos judiciais.

Por coincidência celebra-se hoje o Dia Internacional Contra a Corrupção e na sessão comemorativa no edifício das Nações Unidas houve uma sessão em que estiveram presentes, entre outros, o Presidente e um Comissário da National Anti-Corruption Commission (NACC) e uma Professora, Dr Juree Vichit-Vadakan, da Tranaparency Thailand, que abordaram o tema e a forma como a Tailândia o encara.

Infelizmente o NACC bem como da maioria dos órgãos de controlo da Democracia, têm os seus actuais membros nomeados não por uma entidade representativa do povo, como inclusive é exigido pela Convenção Contra a Corrupção á qual a Tailândia aderiu em 2003 mas ainda não ratificou, visto aquando do Golpe de Estado de 2006 os militares terem removido os que lá estavam e terem aí colocado pessoas da sua confiança.

Aliás essa falta de transparência foi gritante quando um Comissario do NACC disse, para espanto de todos e alguns risos na assistência, que, "com a eleição do novo PM a relação da Comissão com o Governo irai mudar substancialmente".

Mas o mais interessante foi dito pela Dra. Juree referindo-se aos grandes obstáculos que têm de ultrapassar para fazer entender a mensagem de que a corrupção é um problema de todos.

Referia: A aceitação de que a corrupção faz parte do funcionamento da socieade; A falta de sanção publica perante a corrupção; A permissividade face a práticas corruptas; O sistema de subordinação hierárquica, no mau sentido. Utilizou a palavra "patronage"; A normal tolerância tailandesa e a atitude submissa que lhe está adjacente.

No fim a aceitação social de que a corrupção é um facto da vida e é "assim que se tem de viver". Nós, em Portugal, conhecemos bem esta questão pois sabemos quantas vezes temos de "dar uma palavra" a alguém para conseguir aquilo que o sistema deveria produzir por si normalmente. Sabemos bem que se conhecermos alguém no serviço, no hospital, na escola, na Câmara, etc, os assuntos andam mais depressa do que o normal. Esta aceitação social, que é um problema mundial, faz-nos no fundo cúmplices de práticas que deveríamos lutar por terminar.

Se bem pensarmos as escolas que faltam, os hospitais que não existem, as estradas que estão por fazer, os esgotos necessários á saúde de todos, a comida que aquelas bocas pedem, os livros que nunca chegam às escolas ou a falta das pessoas certas nos lugares onde fazem falta, são porque o sistema não funcionou porque um elemento alheio, a corrupção, lá apareceu.

Sabe-se como nasceu o 27º Governo na Tailândia, sabe-se das qualidades humanas do seu PM, sabe-se da sua aparente falta de experiência, mas deve-lhe ser dado o tempo para poder mostrar o que vale e para isso espera-se que os abutres que voam dentro da sua gaiola se entretenham com a "comida" que já armazenaram no processo.

E o ano de 2008 vai terminar como um dos mais turbulentos neste processo de aprendizagem da Democracia na Tailândia com a tomada de posse do quarto PM desde o início do ano.

Deseja-se que as festividades do Natal o inspirem e que o Ano Novo seja, de facto Bom.

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